Elas são jovens e têm cancro da mama. “A doença não decide nada por mim”
Há cada vez mais mulheres jovens a serem diagnosticadas com cancro da mama. Nesta idade, os cancros são mais agressivos e os tratamentos mais duros. “Mas o pior é sentir que a vida pára.”
Vânia Alexandre sempre quis ser mãe. Aos 26 anos, tudo estava encaminhado: tinha um trabalho, um companheiro e uma casa em Ponte de Sor, no distrito de Portalegre. “Deixei de tomar a pílula e estava a tentar engravidar”, recorda. Foi nesta altura que também começou a sentir um caroço no peito. Era facilmente palpável e doía-lhe quando tocava. Não tardou até ser vista pelo seu ginecologista. “Disse-me para não me preocupar, que não era nada. Que provavelmente seria por ter deixado a pílula.”
Um par de meses depois, chegou finalmente o positivo no teste de gravidez. Entre o entusiasmo e os planos com o bebé, a dor e o incómodo no peito não passavam. Desta vez foi à médica de família, que lhe pediu para fazer novos exames. Assim chegou o diagnóstico: aos seis meses de gravidez, Vânia descobriu que tinha cancro da mama, um tumor maligno de oito centímetros.
Faz agora um ano e meio que Rita também recebeu o seu diagnóstico. Foi numa altura em que concretizava o que há muito queria: estagiar numa instituição europeia e viver em Bruxelas. Depois de terminar o estágio, foi ao Porto, onde cresceu, para visitar a família. “Ia ficar uma semana e meia e acabei por ficar quatro meses”, recorda a jovem de 27 anos. Um dia, quando se arranjava para ir sair com as amigas, reparou que a sua mama direita estava muito inchada. Em consulta, o médico também disse que “aquilo não era nada”. Ainda assim, como viu Rita preocupada, aconselhou-a a fazer uma ecografia mamária. “Só por descargo de consciência...”, repete agora as palavras do médico.
No dia seguinte, o que seria uma “simples ecografia” estendeu-se durante horas. “A médica viu a minha mama esquerda e disse que estava tudo normal”, recorda a jovem. “Passou para a direita e… calou-se”.
Fazer contas aos sonhos
Os diagnósticos de Vânia e Rita juntam-se a tantos outros. Segundo a Liga Portuguesa Contra o Cancro, há mais de 6000 novos casos de cancro da mama em Portugal por ano — e estudos recentes mostram que afecta cada vez mais mulheres jovens.
Um estudo da revista médica norte-americana JAMA, publicado em Agosto, revela que, entre 2010 e 2019, o diagnóstico do cancro da mama entre pessoas dos 30 aos 39 anos aumentou 19,4% — e entre os 20 e 29 verificou-se um aumento de 5,3%. Em Portugal, a tendência repete-se: segundo os Registos Oncológicos Nacionais, em 2010, foram diagnosticados 436 casos abaixo dos 40 anos. Em 2019, o número subiu para 528, tornando-se no tumor que mais afecta adolescentes e mulheres jovens.
No entanto, este aumento carece de contexto. Os últimos dados nacionais, de 2019, mostram que a subida de casos de cancro da mama acontece, na verdade, em todos os escalões etários. E mais: em idade inferior a 40 anos, este tumor apenas representa 7% do número total de casos.
Mesmo assim, fica a questão: o que justifica este aumento? Actualmente, ainda não existem dados que permitam uma conclusão. A história familiar de cancro é importante — sabe-se que entre 5% e 10% dos cancros da mama são hereditários ou apresentam características genéticas — e há outros pontos a destacar: estudos indicam que não ter filhos ou adiar a gravidez pode aumentar o risco de cancro da mama, embora “ainda não se conheçam os mecanismos que expliquem esta associação”, alerta Luís Costa, director do departamento de Oncologia do Hospital de Santa Maria. Já o estilo de vida é outro factor de risco: “Uma dieta rica em carnes transformadas, açúcares, hidratos de carbono refinados, sedentarismo, consumo de álcool”, exemplifica Ana Ferreira, coordenadora da oncologia médica da mama no Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto.
Mas se é verdade que o cancro traz sempre mudanças e desafios, entre os jovens é capaz de abalar a vida em momentos decisivos. “O pior é sentir que a vida pára. Todos os meus projectos ficaram em pausa”, confessa Rita. É preciso adiar planos profissionais e familiares, reorganizar a vida que se estava a cimentar e fazer contas aos sonhos. “As mulheres jovens recebem o diagnóstico de forma emotiva”, diz Susana Sousa Almeida, responsável pelo serviço de psiquiatria do IPO-Porto. “Mas também de forma mais pragmática. Querem saber com o que contar.”
“Preocupava-me com tudo menos com o cancro”
Há muitos anos que estas duas mulheres lidam de perto com o cancro — a tia de Vânia teve cancro da mama há alguns anos e a mãe de Rita já viveu por duas vezes a doença. “Mas quando somos nós… cai-nos tudo”, diz Vânia: “É como se o chão nos fugisse dos pés...”
O primeiro “bicho-papão” a ter de enfrentar é a quimioterapia. Durante a gravidez, Vânia fez três ciclos do tratamento; e, depois do parto, teve apenas um mês de pausa até retomar as sessões. Mesmo com um recém-nascido em casa, tinha de sair de madrugada — tinha uma ambulância que parava à sua porta, em Ponte de Sor, e que a levava até ao Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, onde era acompanhada.
Já no IPO do Porto, Rita “não parava de tremer” quando chegou à sua primeira sessão de quimioterapia. Já tinha ouvido relatos “horríveis”: pessoas que tiveram vómitos constantes e um mal-estar insuportável. “Achava que a minha quimioterapia ia ser assim. Quando eu começo os tratamentos, percebo que é diferente. Não é o mar de rosas, mas se calhar não é tão mau como as pessoas dizem”, diz.
“Eu passei os tratamentos sem sintomas nenhuns”, apressa-se em dizer Vânia. Nem enjoos, nem vómitos, nem falta de apetite. “Por incrível que pareça, não tive nada”, sorri. As primeiras semanas de tratamento, para Rita, também souberam a “um Verão normal”. Os livros, que andam sempre na sua mala, foram uma companhia: nas sessões de quimioterapia, as personagens e os enredos conduziam-na para um lugar distante do hospital. Quando saía dos tratamentos, continuava a ir à piscina com os amigos ou passava as tardes em esplanadas.
Mais tarde, houve períodos difíceis: passaram-se semanas em que Rita não se conseguia levantar da cama. Tudo lhe fazia confusão: o som do televisor, a luz do telemóvel ou o cheiro a comida que vinha da cozinha. “Foi um mês difícil porque não conseguia comer quase nada. Ganhei aversão à comida porque tinha sempre medo de vomitar...”
À medida que o tempo passa, a quimioterapia traz consigo outro “bicho-papão”: a queda de cabelo. “Foi o que mais me custou. Deixei até à última, mas uma vez estava a tomar banho e caíam mãos-cheias de cabelo. Eu pensei: ‘É agora’”, recorda Vânia. “Nos primeiros dias, enfiei um lenço na cabeça e não me via ao espelho.”
No caso de Rita, o cabelo não era um problema. Lembrou-lhe a fase em que era adolescente e queria ter o cabelo rapado. “Quando o médico disse que o cabelo ia cair, disse logo à minha mãe: ‘Agora já não podes dizer que não...’”, lembra a sorrir. “Eu vou ser sincera: estava super-entusiasmada que chegasse a parte de rapar o cabelo...”
Olhando para trás, Rita não guarda dúvidas: “Isto pode soar estranho, mas eu preocupava-me com tudo menos com o cancro. Nós entramos em modo de sobrevivência. Já só pensas no dia-a-dia. Queres sentir-te melhor do que ontem. Queres passar à próxima fase”, garante a jovem. “O que eu tinha mesmo medo era de perder oportunidades de emprego ou que o meu namorado ‘acabasse’ comigo.”
O medo de olhar para baixo
Mónica Branco, de 34 anos, é natural da aldeia de Casais Lagartos, Pontével, concelho do Cartaxo. O diagnóstico chegou-lhe no final do ano passado, quando já estava emigrada no Reino Unido, a viver com o namorado. Desde então, na odisseia que o cancro traz, Mónica nota que há questões que são comummente esquecidas: como se alimenta o amor-próprio? Como se tem uma vida sexual, individual ou partilhada, durante o cancro?
“Com a quimioterapia, não há disposição para nada. Estás cansada, enjoada, cheia de medicação”, começa por dizer. “Às vezes olhava para o meu namorado e pensava: ‘Já não temos sexo há tanto tempo...’ Nos dias em que me sentia melhor, tentava ser mais romântica. A minha mente queria, mas o meu corpo não acompanhava.” Já para Rita, o humor era a chave nestas situações: “Seja no sexo ou na forma como nos vemos, não nos podemos levar a sério”, diz. “Eu e o meu namorado fazíamos piadas, brincávamos com a situação.”
Os desafios com a imagem, a confiança e o amor-próprio cruzam-se com a mastectomia, que afecta uma parte do corpo cheia de simbolismo. No caso das jovens, foi recomendado que fizessem a mastectomia total — em que se remove a mama, incluindo a aréola, mamilo e a pele, reduzindo, assim, a probabilidade de voltar a ter cancro.
Nos primeiros tempos após a cirurgia, é difícil encarar o corpo. “Demorei algum tempo até conseguir olhar-me ao espelho”, diz Mónica. “Tinha medo de olhar para o meu peito. Não sentia que aquilo fosse meu”, acrescenta Rita. “Quando a enfermeira fazia o curativo, eu olhava logo para o tecto”, exemplifica. A par do desconforto com o corpo, Rita mergulhava noutras questões. “Eu sempre fui uma mulher independente, não me importava com a opinião dos outros. E agora pensava: ‘Será que sou menos feminista por querer uma reconstrução mamária? Por não assumir a mastectomia radical sem reconstrução?’...”
“Acabamos por nos sentir um bocado mutiladas”, corrobora Vânia. Ainda assim, na altura, a imagem não era o mais importante: “Com a operação não nos podemos mexer e as pessoas diziam-me que não podia pegar no bebé. Eu só pensava: ‘Tenho um bebé de quatro meses a chorar. O que é que eu vou fazer?...’” Pouco depois do parto, o marido teve de regressar à padaria onde trabalha, e esta mãe viu-se obrigada a pedir ajuda. Durante algum tempo, sem poder mexer os braços, o bebé ficava a dormir na casa dos pais. “Vinha passar o dia comigo e depois ia para lá. Foi duro para mim...”
“Já nem me sentia humana”
O cancro pode ser uma ameaça àquilo que é comummente percepcionado como feminino: seja com a mastectomia e as suas cicatrizes, com a diminuição ou perda da sensibilidade erógena da mama ou com a perda de cabelo após quimioterapia. Mas também, destaca a psiquiatra Susana Sousa Almeida, pela possível secura genital por efeito dos tratamentos hormonais, e mesmo com a perda de desejo e da capacidade de atingir o orgasmo. Além disso, os tratamentos condicionam a fertilidade, o que pode ser um peso sobre a auto-estima e saúde mental das mulheres.
Nestes casos, é sugerido às pacientes que recorram a técnicas de assistência reprodutiva. Por exemplo, Mónica fez a criopreservação de ovócitos — o que permite, mais tarde, que sejam usados em fertilização in vitro, sendo depois os embriões implantados no útero da mulher. “Isto mexe muito com o meu ‘psicológico’...”, diz Mónica, que sempre sonhou ser mãe. “Será que vou conseguir engravidar? Já não vou conseguir amamentar… Será que vou ser boa mãe? Será que o meu bebé vai gostar de mim?...”
O início da vida adulta é também a fase em que se inicia a carreira profissional (ou ainda se têm contratos precários), que pode ficar comprometida com o diagnóstico do cancro. Para Rita, esta foi a principal batalha. Depois de ter feito vários estágios na área de relações internacionais, há muito que procurava um emprego estável. Semanas depois do diagnóstico, recebeu duas propostas de trabalho, uma delas para uma organização mundial de direitos humanos. “Era mesmo aquilo que eu queria”, diz Rita, que partilhando a sua situação com a organização, pediu para começar o contrato um pouco mais tarde do que a data prevista. “Deram logo o lugar a outra pessoa”, recorda. “A minha reacção foi de extrema frustração. Sentia que tudo aquilo que eu queria, tudo aquilo para o qual eu tinha trabalhado, me tinha chegado na altura errada.”
Não dizer ao mundo
Durante todo o processo, Mónica, Rita e Vânia nunca se sentiram sozinhas: os namorados acompanham-nas nas idas aos hospitais e a família e amigos nunca as deixam com tempo livre por ocupar. “Mas nada disto substitui o acompanhamento psicológico”, vinca Mónica. São muitas as mudanças: além das alterações do corpo, as dificuldades sexuais, as alterações de humor e de memória, a perturbação do sono e a fadiga, as jovens são obrigadas a colocar os seus projectos de vida em pausa. O adiar a parentalidade, recusar uma promoção, modificar a vida íntima. “Com as alterações da própria identidade, com a afectação dos papéis sociais desempenhados por cada mulher jovem, vemos como pode ser fácil adoecer do ponto de vista da saúde mental”, alerta a psiquiatra Susana Sousa Almeida.
E estas mudanças estendem-se no tempo. Um ano depois de receber o diagnóstico, Rita sente agora maior necessidade de ser acompanhada. “Antes, estás apenas em modo de sobrevivência. Só depois de ter passado pelas fases mais difíceis é que ‘me caiu a ficha’. É agora que penso como o cancro afecta a minha vida, o que me vai acontecer a longo prazo, quantos mais anos vou viver.”
Para Rita, é difícil sentir-se a única a passar por esta situação. “Teria sido uma grande ajuda se soubesse de mais histórias de jovens que tivessem passado por isto”, partilha. “O cancro é um tabu entre os jovens. Pensa-se que só acontece aos velhos”, corrobora Mónica. “Os jovens não podem dizer ao mundo que têm cancro. Têm medo das reacções. Por isso só contam aos amigos e à família”, acrescenta. “Eu sempre me perguntei: porque é que eu não haveria de querer que as pessoas soubessem?”
“Muito nova para isso”
Em Portugal, os exames de rastreio de cancro da mama só estão previstos a partir dos 50 anos — salvo algumas excepções, como quando uma mulher com idade inferior a 40 anos tem uma mutação genética identificada —, embora já tenha sido anunciada a intenção de começar a partir dos 45 anos. Dada a falta de exames de rastreio — que conseguem detectar o cancro em fases muito iniciais — a maior parte dos cancros da mama em jovens só são diagnosticados quando apresentam sintomas, como os nódulos que aparecem no peito. Isto significa que, muitas vezes, o tumor já tem um volume considerável e está em estádio avançado: “Os dados internacionais mostram que as mulheres mais jovens têm uma maior percentagem de tumores de grandes dimensões, metástases à distância, tumores menos diferenciados, logo, mais agressivos”, explica Elsa Milheiras, médica na área de senologia no Hospital Lusíadas.
Mesmo tendo cancros mais agressivos — o que implica também enfrentar tratamentos mais duros — Rita lamenta ainda existir uma desvalorização inicial do diagnóstico. “Houve alturas que senti que as pessoas não me levavam a sério, por acharem que nunca ia ser cancro. O médico disse-me logo que não podia ser, que era muito nova para isso”, denuncia Rita. “No início, os médicos viram o meu nódulo e disseram que não era nada”, reforça Vânia. “Quando estava grávida, fui a outros médicos que me perguntaram logo por que deixei arrastar tanto esta situação.”
Ainda que evitando cair em “alarmismo social”, Luís Costa, director do Departamento de Oncologia do Hospital de Santa Maria, alerta que os profissionais de saúde devem sempre valorizar as queixas das doentes. “A regra é ouvir, examinar e investigar”, diz Luís Costa. “O cancro existe; é cada vez mais frequente; e a detecção precoce é o primeiro e mais seguro passo para a cura.”
Arranjar forças “de algum lado”
Ao contrário de Rita e Mónica, que receberam o diagnóstico há pouco mais de um ano, Vânia já ultrapassou o cancro há seis anos. Agora, com 33 anos, tem uma vida estável, longe dos hospitais. O seu recém-nascido tornou-se numa criança feliz e curiosa. “Ele pergunta tudo. O que aconteceu à minha maminha, porque é que eu fui careca. Eu explico sempre”, diz Vânia, que ainda espera por uma data para fazer a operação de reconstrução do mamilo. “Na altura, queria tanto ficar curada, que fiz logo a operação sem a reconstrução total”, recorda. “Mas ter o peito assim mexe muito comigo agora.”
Por outro lado, Mónica ainda está a terminar os tratamentos. Mas, no próximo ano, vai tentar uma gravidez. “Esse é o plano, mas ainda falta muito tempo”, explica a jovem. “Desde que tenho cancro, a minha vida passou a ser mais o dia-a-dia. Daqui a uma semana, ainda falta muito...”
“Em todas as fases, estive à espera daquele suspiro de alívio de que toda a gente fala no fim dos tratamentos. Mas ainda não senti isso...”, acrescenta Rita, que ainda continua a ir todos os meses ao hospital. Depois de fazer a mastectomia, foram detectadas metástases — existindo, assim, maior possibilidade de o cancro voltar a aparecer, mesmo noutros órgãos. “Receber esta notícia é horrível. É dizer que o corpo é uma bomba que pode explodir a qualquer momento.” Por precaução, está a fazer um tratamento de imunoterapia, que torna o sistema imunitário mais eficaz no combate a um futuro cancro: “Demorou até conseguir aceitar esta situação, mas já estou muito melhor. Se eu tiver de passar por isto outra vez, eu lá arranjo forças de algum lado”.
Agora, Rita passa os dias à procura de emprego. Tem ido a várias entrevistas, mas oculta o cancro da sua história, com receio que volte a pesar na decisão das empresas — é também por essa razão que pediu para usar um nome fictício nesta reportagem.
Apesar de todas as batalhas, Vânia, Rita e Mónica olham para o futuro com entusiasmo. Sabem que a medicina está sempre em avanço e os tratamentos são cada vez mais eficazes a controlar esta doença. “O bom disto é que tudo passa”, diz Vânia. Se, por um lado, o cancro traz a vontade de “viver ao máximo e aproveitar todos os segundos”, como diz Rita, também se aprende a ter calma. “Sinto uma calma que não sentia antes. Vivo as coisas como elas são. Vou deixando as coisas correr.” E só quando o dia de hoje chega ao fim, é que se pensa no amanhã — sempre com uma certeza, garante Mónica: “Eu sou forte. O cancro não decide nada por mim...”