Aline entrou como um leão a norte mas saiu como um sendeiro a sul
Num bairro do Porto, moradores ficaram com casas inundadas. Em Lisboa, comerciantes preparam-se para a Aline, mas sentiram a falta de clientes. Algumas escolas e serviços fecharam por prevenção.
A tempestade Aline passou por Portugal e deixou diferentes rastos nas várias regiões do país durante esta quarta e quinta-feira. No Porto, moradores de um bairro viram as suas casas serem inundadas. De Coimbra a Sintra, foram encerradas algumas escolas e serviços. Já em Lisboa, comerciantes – que não esquecem as cheias do ano anterior – não sentiram falta da chuva mas sim de clientes.
A tempestade entrou em Portugal pelo Norte mas foi perdendo força à medida que se dirigia para sul. Há relatos de inundações em diferentes pontos, como é o caso do Porto, onde houve quem ficasse desalojado.
O Bairro dos Moinhos, nas Fontainhas, foi uma das zonas mais fustigadas pela tempestade. Moradores deste bairro no Porto viram as suas casas serem inundadas, pela segunda vez este ano. Passados nove meses desde as cheias de Janeiro, as famílias que aqui vivem assistiram, novamente, à tempestade a entrar-lhes pela casa dentro.
A família de Jorge Teixeira, de 39 anos, teve de ser realojada temporariamente na noite de quarta-feira no Seminário de Vilar. Jorge abre a porta de casa e aponta para a janela de um dos quartos: “A água entrou por ali, estragou tudo.” O morador do Bairro dos Moinhos indica, com pesar, que já é a segunda vez este ano que “perde tudo”. Conta ao PÚBLICO que, depois das inundações de Janeiro, “só com a ajuda de amigos e familiares” é que se conseguiu “pôr de pé”, mas diz não saber quem é que o vai ajudar agora.
Jorge e a sua família foram realojados nesta última noite no Seminário de Vilar, mas diz “que não vai mais para lá”. “Perdemos tudo, puseram-nos em quartos separados e ainda queriam que pagássemos pelas refeições.” A Câmara Municipal do Porto avançou que a família de Jorge se reuniu com a Domus Social — empresa de Habitação e Manutenção do Município do Porto - e já há uma solução definitiva para o seu caso.
Ainda no Norte, em Matosinhos, a precipitação intensa afectou algumas áreas no piso superior do centro comercial Mar Shopping, tendo caído “uma sanca de iluminação decorativa”, refere o centro comercial em comunicado.
Em Algés e Alcântara, sentiu-se a falta de clientes
À medida que o dia avançava, Aline rumou ao Sul. E foi perdendo "gás". Em Algés, ainda se temeu o pior, mas o dia acabou por ser calmo. Na Rua Major Afonso Palla, mesmo ao lado da estação de comboios, Isabel Veríssimo não sentiu falta da chuva. “[O pior] foi a falta de clientes”, diz, parada, na esplanada vazia do restaurante Montenegro. São quase 14h e conta que serviu “meia dúzia” de refeições. “Com a chuva, aparecem sempre menos clientes, mas costumamos ter entre 40 e 50 refeições”, aponta. “Olhe, os clientes que temos agora são os seus colegas jornalistas [que estiveram no local em reportagem].”
Isabel Veríssimo não se esquece das cheias do ano passado e dos prejuízos que o restaurante teve. Nessa altura, ficaram estragadas cadeiras, mesas, arcas frigoríficas e o balcão. Por isso, esta semana foram colocadas nas entradas comportas para barrar a água, caso fosse necessário. Nas lojas e restaurantes em volta, observam-se também portas barradas com sacos de areia. “Foi mais o alarme”, resume Isabel Veríssimo sobre o dia.
Lá perto, o Passeio Marítimo de Oeiras esteve encerrado “em toda a sua extensão” até que as condições meteorológicas fossem favoráveis, anunciou o município de Oeiras.
Em Lisboa, todos concordam com a calmaria do dia – até demasiado calmo, na opinião de Patrícia Napoleão. “Não se passa nada”, diz ao PÚBLICO a gestora comercial da loja Agrovinhos, em Alcântara. Atrás do balcão, ao início da tarde desta quinta-feira, relata que apenas vendeu duas garrafas de água durante todo o dia. “Tivemos praticamente zero clientes hoje. É quase tão prejudicial a água entrar como os clientes que não vêm nestes dias.”
Do outro lado do largo, em frente ao restaurante Cantinho do Martim, Diogo Paião também vai olhando para o pouco movimento na rua e lamenta a falta de clientes. “Está um dia morto. Muitos dos nossos clientes trabalham em escritórios e estão em teletrabalho”, indica. Foi assim em toda a cidade, por onde se circulou com uma inusitada facilidade.
A Câmara Municipal de Lisboa activou o Centro de Coordenação Operacional Municipal, para que fossem reforçadas medidas de coordenação em resposta à tempestade. Por volta das 15h, o presidente da autarquia, Carlos Moedas, referiu que foram registadas 210 ocorrências, principalmente de inundações e quedas de árvores, mas sem vítimas ou desalojados.
Escolas fechadas pelo país
Pelo país, foram encerradas algumas escolas. A escola Cego do Maio, na Póvoa de Varzim, foi uma delas. Luís Diamantino, vice-presidente da autarquia, disse à agência Lusa que a decisão de interromper toda a actividade lectiva se deveu a “infiltrações de água em alguns espaços da escola que afectaram a instalação eléctrica”.
Uma escola básica em Coimbra – a EB1 Quinta das Flores – também encerrou devido a uma inundação, obrigando a que mais de 200 alunos tivessem de regressar a casa, revelou à Lusa a vereadora da Educação da Câmara Municipal de Coimbra, Ana Cortez Vaz.
A Escola Secundária José Loureiro Botas, em Vieira de Leiria (concelho da Marinha Grande), também fechou devido à tempestade. “A água entrou pelo tecto e, por questões de segurança, a escola foi encerrada”, afirmou à Lusa Aurélio Ferreira, presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande. A Escola Secundária de Mem Martins, no concelho de Sintra, também fechou devido à inundação dos acessos às salas de aula.
Alguns serviços encerrados por precaução
Os monumentos da serra de Sintra também estiveram encerrados. A sociedade Parques de Sintra-Monte da Lua anunciou que o fez por precaução, pois foi registada a queda de árvores durante a noite.
Já a actividade no porto de Sines, distrito de Setúbal, esteve condicionada, não sendo possível aos navios atracarem, pelo que devem permanecer ao largo, revelou à Lusa fonte da autoridade portuária.