Há relativamente pouco tempo, candidatei-me a uma formação profissional que desejava há muito tempo poder fazer e, com grande entusiasmo e motivação, recebi a notícia de que faria uma breve entrevista para aferirem se seria o candidato “ideal”.
Como tal, preparei-me arduamente para essa entrevista, pesquisando todo o tipo de informação, conjecturando as possíveis perguntas que me fariam e treinando para que a entrevista corresse o melhor possível. Chegou o dia da entrevista. Atendi a chamada e coloquei-me à prova.
As perguntas eram aquelas habituais que se fazem a toda a gente — “apresente-se”, “enumere as causas pelas quais se candidatou a esta formação”, “que competências acredita ter para poder desempenhar as tarefas necessárias", etc.
Tentei dar o meu melhor a responder a todas essas perguntas e até certo momento acreditei que teria respondido de forma assertiva a todas essas questões que me haviam colocado. Para minha surpresa, colocam-me uma questão que jamais pensaria que me fizessem: “Peço desculpa, mas não acha que é muito novo para desempenhar estas tarefas?”
Por momentos, fiquei numa espécie de transe, sem saber muito bem como responder a esta questão. Cumpria todos os critérios no que tocava à elegibilidade, tinha entregado todos os documentos necessários para me tornar um candidato admitido para a fase de entrevistas e um curriculum vitae que consegui com muito esforço.
A minha resposta foi um rápido “sim”, afirmando que acreditava ter as competências necessárias para desempenhar as tarefas requeridas. Não obstante, não consegui dizer muito mais devido à minha surpresa.
Acabada a entrevista, reflecti sobre aquela questão. Acredito que várias pessoas da minha geração também já tenham sido confrontadas com a mesma pergunta. Cheguei à conclusão de que mesmo que até possuísse a maioria, ou até todos os requisitos necessários, nunca seria um bom candidato porque “era novo de mais”, como se a minha idade definisse a minha competência e a minha capacidade de trabalho.
A verdade é que, no nosso país, vivemos numa cultura em que os jovens não são considerados uma “mais-valia” para a sociedade, para as empresas, para os partidos, para os governos ou para muitas das associações ou organizações políticas ou civis de carácter não juvenil, por serem vistos como “pouco inteligentes, que só querem divertir-se e beber e não são responsáveis nem trabalhadores”. Contudo, a realidade, como em quase tudo, não corresponde a estereótipos infundados e pouco realistas.
Para melhor ilustrar esta questão, gostaria de chamar a atenção para o panorama político. Em Portugal, quase não se encontram jovens na “política” e se falarmos de “políticos de carreira”, por exemplo, da Assembleia da República, verificamos que existem apenas 20 deputados abaixo dos 35 anos, em cerca de 230 deputados que compõem o Parlamento.
Colocam-se então várias questões. Onde estão os jovens? Será que não há jovens suficientemente preparados para poder representar o seu país? São todos incompetentes e “demasiado novos” para serem deputados? Claro que não! Por isso mesmo, a sociedade, e, neste caso, os partidos e os nossos governantes, continuam a fechar os olhos para o contributo efectivo que os jovens podem oferecer para construir uma sociedade realmente activa, moderna, inclusiva e verdadeiramente representativa.
Devemos construir uma sociedade que não se encontre assente no princípio de que os jovens nada têm a oferecer e que consiga ter noção de que é urgente começar a olhar para eles como um elemento crucial para a evolução necessária da nossa sociedade e não como mais uma faixa etária sobre a qual toda a gente decide fechar os olhos.