Deucalion: dez milhões de biliões de oportunidades

É importante que se salvaguarde a questão da acessibilidade deste equipamento a todas as partes interessadas, evitando que se transforme numa ferramenta para uso exclusivo da comunidade científica.

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No passado mês de setembro foi inaugurado, na Universidade do Minho, em Guimarães, o primeiro supercomputador a funcionar em território português. Com um investimento de 20 milhões de euros, sete dos quais suportados por fundos comunitários, este equipamento entra diretamente para a lista dos mais poderosos do mundo. O seu desempenho de dez petaflops representa uma capacidade máxima de dez milhões de biliões de operações por segundo, que se traduzem numa infinidade de possibilidades.

A investigação científica em praticamente todos os setores, desde a saúde às finanças, sairá seguramente a ganhar com o Deucalion, que multiplica por dez a capacidade de computação nacional. Mas também as administrações públicas e as empresas – incluindo PME e start-ups inovadoras – serão beneficiadas. Isto, desde que sejam criadas as condições para que este recurso tecnológico seja acessível a todos, e não apenas a um lote restrito de entidades predefinidas.

Na cerimónia de apresentação deste supercomputador, a presidente das Fundação para a Ciência e a Tecnologia falou numa capacidade para apoiar até 200 projetos por ano, valor que, sinceramente, me parece uma estimativa relativamente modesta. Sobretudo tendo em conta que este equipamento irá integrar uma rede europeia, vindo juntar-se a outros sete já em funcionamento ou em vias de instalação em diferentes Estados-membros, e tendo por finalidade servir toda a União Europeia e não apenas o nosso país.

Porém, mais do que o número de projetos apoiados, é importante que se salvaguarde a questão da acessibilidade deste equipamento a todas as partes interessadas, evitando que este se transforme numa ferramenta para uso exclusivo da comunidade científica. Até porque esta diversidade de fins e destinatários é um dos pilares da parceria europeia de Comutação de Alto Desempenho EuroHPC que possibilitou a aquisição do equipamento.

Este é um tema que me interessa particularmente, por ter sido relatora desta parceria, pelo Parlamento Europeu, no âmbito do programa-quadro Horizonte Europa.

Nesse relatório concentrei-me precisamente nos passos necessários para que a União Europeia possa aproveitar todo o potencial desta infraestrutura, passos esses divididos em seis grandes linhas de ação: Acesso facilitado, Abertura a novos participantes, Sinergias, Alinhamento com as prioridades da União Europeia, Liderança Industrial e Conhecimento e Sensibilização.

Foram igualmente introduzidas propostas visando a “abertura, transparência e simplificação” de procedimentos, bem como as sinergias e complementaridades do EuroHPC com todos os programas e fundos relevantes, nomeadamente regionais, Mecanismo de Recuperação e Resiliência, InvestEU e iniciativas do Banco Europeu de Investimento, bem como todos os outros instrumentos do Horizonte Europa.

Ou seja: todo o programa foi concebido na perspetiva de maximizar o potencial destes equipamentos, colocando as suas potencialidades, bem como ao repositório de dados científicos e comerciais resultante dos projetos com estes desenvolvidos, ao serviço do maior número possível de pessoas e entidades.

Além disso, é importante que sejam assegurados outros investimentos, destinados a capacitar os cidadãos, entidades públicas e empresas, portugueses e europeus, para tirarem partido dos benefícios da computação de alto desempenho.

O investimento no Deucalion e nos restantes supercomputadores que integram ou virão a integrar esta rede europeia, é absolutamente estratégico para que a União Europeia possa fazer face ao atraso que tem em relação a outras economias ao nível do digital. Mas, por si só, não é garantia de sucesso.

Por isso mesmo, no referido relatório, foi também frisada a importância de se criar um “verdadeiro ecossistema de excelência” no digital, abrangendo investigação e inovação, desenvolvimento e fabrico de sistemas de hardware de baixo consumo, como microprocessadores e computação quântica, e um forte investimento em competências e conhecimentos, especialmente no que respeita à perspetiva de género, considerando as lacunas atuais, e na educação e consciencialização pública.

Este é um compromisso que terá de ser assumidos por todos os Estados-membros, e que seguramente não pode ser negligenciado pelos países que, como Portugal, tiveram o privilégio de acolher um dos supercomputadores europeus.

A autora escreve segundo o novo acordo de ortográfico

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