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Em Viana, esta antiga escola tem um pé no passado e outro no presente
Já foi adega, escola e até arrecadação agrícola. A Casa QBN nasceu da vontade de "fazer uma casa contemporânea" que "não ignorasse a herança" do que já foi.
É um edifício histórico — provavelmente do século XX — e já teve várias vidas. A casa QBN, um dos edifícios da Quinta do Bento Novo, em Viana do Castelo, começou por ser uma pequena escola frequentada pelas poucas crianças da aldeia de Perre, que, entretanto, se tornou freguesia. Mais tarde foi convertida em habitação, depois em adega e, por fim, em arrecadação agrícola onde se guardava lenha e máquinas agrícolas.
André Delgado e Sofia Parente, do atelier Pardo, são os arquitectos responsáveis pela reabilitação do antigo edifício dos mil usos e torná-lo, outra vez, numa casa de habitação permanente. “É um edifico com bastante tempo e que foi mudando o seu uso e, provavelmente, até a própria configuração. Dava para perceber que tinha várias ampliações e, nas fachadas, via-se que as pedras tinham épocas diferentes”, revela André Delgado.
A pedra, com especial destaque para o xisto, era o material principal da casa construída entre socalcos — e foi também o material escolhido para a reerguer. As paredes exteriores foram recuperadas com outras pedras que existiam na quinta e algumas rebocadas com cal (como sempre foram).
A entrada, espaço semiaberto, junta a pedra original e a madeira trabalhada, e é, para o arquitecto, um dos pontos mais importantes da habitação, uma vez que permite a ligação entre as árvores e própria habitação. No entanto, a sala de estar, que tem mais de 13,50 metros, é o verdadeiro “elemento agregador do projecto”, afirma. Além de ser a zona mais utilizada pela família, é um espaço onde os elementos tradicionais e modernos convivem sem causarem ruído visual.
As vigas de madeira pintadas de branco voltam a preencher os tectos, junto à janela o antigo banco de pedra conhecido como “namoradeira” resistiu ao tempo e, do lado oposto da sala, as linhas rectas da lareira e cozinha trazem a casa para o presente.
A obra, que começou em 2019, ficou terminada em 2022. Para André Delgado, foi uma “intervenção marcada” pelo detalhe, mas “silenciosa” para que os pormenores não se sobrepusessem ao resto. “Havia a intenção de fazer uma casa contemporânea que respondesse a uma forma de viver nos dias de hoje e, ao mesmo tempo, não ignorasse a herança que existia e algumas das características do local”, conclui.