Podemos falar sobre “sucesso escolar”?

É a escola dos trabalhos de casa, do caderno de actividades, dos programas, da ficha, do teste, do exame e do “caladinho/a”, “direitinho/a”, “quietinho/a”.

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Há comissões, grupos de estudo e instituições que debatem este e outros temas conexos. A premissa está quase sempre errada porque se assume que o aluno precisa de se submeter a um processo mais ou menos truncado, no qual o indivíduo é o único convidado à mudança para se poder encaixar num padrão — o do "sucesso escolar". O que é isso do "sucesso escolar"?

Este conceito é algo mais ou menos abstracto, mas que obedece aos ditames de um sistema tão pesado que já não se sabe onde começa ou onde acaba. É uma ponte que casa conhecimento com repetição, numa fórmula muito salazarenta de perceber virtudes e aptidões, deixando muito de fora.

Neste "sucesso escolar", crianças e jovens são dados adquiridos, tratados como tal, sem vontade ou capacidade de perceber o que querem, desejam ou podem. É a escola dos trabalhos de casa, do caderno de actividades, dos programas, da ficha, do teste, do exame e do "caladinho/a", "direitinho/a", "quietinho/a".

O "sucesso escolar" é abdicar do "ser", ficando pelo "existir". É acreditar que há áreas de primeira, de segunda e de terceira e até algumas que não interessam para nada. É normalizar o sacrifício, o stress e a ansiedade, fazendo acreditar que quem não consegue é porque não se esforça, ou não se esforça o suficiente.

Mas esforçar-se para quê, se são corridas que nos escolhem, com as coordenadas fechadas sobre si mesmas?

O "sucesso escolar" resume-se a um emaranhado de números e estatísticas ao qual emprestamos os nossos filhos (enquanto cobaias de uma espécie de darwinismo social), impelidos a subir uma ilusória escada de validação de conhecimento, tendo por ideal roto e vão, ficar à frente ou ultrapassar, num jogo de memória a curto prazo, colegas, amigos e amigas, companheiros e companheiras de turma, escola, etc.

Esta é a raiz de muitos dos males que assolam o mundo, como preconizou Maria Montessori. Não é nada de novo. Está é cada vez pior. Não vivemos uns com os outros: vivemos uns contra os outros, enquanto deixarmos os nossos decisores falarem, à vontade, de "competitividade", "retenção de talentos" e outros termos tão caros a uma certa elite. Pasmo como a esquerda entra nesta cantiga, frequentemente.

Tudo acaba por servir os mesmos de sempre, porque não se aprende verdadeiramente: selecciona-se. Perpetua-se, geracionalmente, o poder e o poiso dele. O que se "inventou" foi uma máquina de normalização, de produção de súbditos, através da incitação e acatamento. Sem grande necessidade de explicações porque a própria roda e os dentes bem oleados oferecem, em circuito fechado, justificativa para os trâmites.

Há em tudo isto um exponencial abdicar da vontade, essa força animadora do ser humano. A vontade ou é controlada, ou é capturada, em nome de um interesse que passa a ser o do corpo que a habitava, num exercício de dependência forçada.

"Sucesso escolar", com este modelo? Normalização. Abdicar da individualidade (não individualismo), do espírito crítico, da criatividade (a maior arma boa do universo) e da nossa "uniqueness".

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