Açores
Este atelier parece uma colmeia – mas é uma homenagem aos Açores
No Atelier sob a Compressão da Luz, as linhas curvas e betão não passam despercebidos, mas é "o jogo de luz e sombra" que diferencia o espaço.
“Foi como se, da cozinha, saísse um sopro em forma de balão” que se foi moldando até nascer um estúdio de escultura. É assim que Bernardo Rodrigues começa a descrever o projecto a que chamou Atelier sob a Compressão da Luz, na ilha de São Miguel, nos Açores.
O projecto, que começou em 2018, foi feito a pedido da artista Isabel Silva Melo. As linhas curvas e quase labirínticas são inspiradas nos trabalhos em barro da escultora que o arquitecto tão bem conhece. Em 1997, Isabel foi a primeira cliente de Bernardo Rodrigues que, entretanto, se deu a conhecer pelas construções de casas geométricas e pela capela em forma de pirâmide invertida. Anos depois, o arquitecto regressou à quinta da artista para iniciar um novo projecto: um atelier.
Neste estúdio de escultura, o betão é o material que se destaca. Trabalharam-se as texturas rugosas deste material, formando “estrias” semelhantes às das “pedras basálticas junto ao mar da ilha”. Para reduzir os custos, a casa de banho, a única divisão do estúdio, foi feita de betão, material que, explica Bernardo Rodrigues, resultou num visual “hipster” que se tem usado cada vez mais nos últimos anos.
Os Açores foram a inspiração e isso está visível no conjunto de janelas que surgem ao longo de toda a estrutura. O vitral hexagonal da zona de trabalho faz lembrar favos de mel, mas remete, na verdade, para os pequenos vidros utilizados nas estufas de ananases da ilha. Além disto, adianta o arquitecto, permite que a chuva escorra pelos vidros.
Junto aos dois fornos de cozer o barro, há uma pequena janela mais alta que serve de ventilação e, no tecto, há uma abertura estilo clarabóia “que pinga pela parede” quando chove e, nos dias de sol, projecta luz em todo o espaço (funcionando até como um relógio de sol, ao projectar as marcas no chão).
Para o arquitecto “a subtileza do jogo de luz e sombra” é o destaque do projecto. Nas fotografias de Paulo Goulart, a presença ou ausência de luz dão ao espaço “momentos tão particulares como o clima açoriano”.