Ulez, as zonas de emissões reduzidas de Londres

Como ciclista, estou naturalmente inclinado para aplaudir uma medida tão necessária como o ar que respiramos, literalmente, medida essa apoiada por um fundo de 110 milhões de libras.

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Megafone P3: Ulez, a revolução verde de Londres Reuters/SUSANNAH IRELAND
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Vítima de um ataque de asma, Ella foi hospitalizada pela primeira vez aos seis anos de idade num hospital no sul de Londres, a sua área de residência. Quase incapaz de respirar por si só, foi necessário colocar Ella sob um coma induzido durante três dias de modo a permitir ao corpo recuperar. Os três anos seguintes testemunharam um total de 27 hospitalizações e um agravamento do estado de saúde ao ponto de Ella apenas conseguir deslocar-se se levada ao colo pela mãe.

Ella acabou por falecer aos nove anos a 15 de Fevereiro de 2013 por paragem cardíaca após mais um ataque de asma. E se Ella apenas pedia para não ser esquecida, este pedido feito bandeira vê ainda hoje, mais de dez anos volvidos, a mãe de Ella a lutar para que casos semelhantes não se repitam: em nome da melhoria da qualidade de ar nas cidades.

Se foi preciso chegar a 2020 para termos da parte das autoridades o reconhecimento de Ella como a primeira vítima de poluição atmosférica no Reino Unido, estudos demonstram hoje como cerca de 4000 londrinos morrem anualmente vítimas da poluição atmosférica. E sim, nesta triste estatística incluem-se entre oito a 12 crianças numa população de 240000 jovens asmáticos só na cidade de Londres.

O princípio do fim desta realidade passa agora pelo Ulez, ergo “Ultra Low Emission Zones” ou zonas de emissões reduzidas. Se estas já estavam em vigor nos municípios centrais de Londres, o dia 29 de Agosto vê a sua expansão a toda a cidade, obrigando os condutores de um veículo anterior a 2006 a pagar 12,5 libras por dia caso pretendam circular.

E os benefícios à vista de todos ou não fosse o Ulez responsável, desde a sua introdução, pela redução de 46% das emissões de dióxido de azoto juntamente com menos 800 mil toneladas de dióxido de carbono e a prevenção de um milhão de hospitalizações anuais.

Mas não só, ou não estivesse a poluição nas grandes cidades directamente relacionada com o aumento do número de abortos espontâneos, nados-mortos, queda na contagem dos espermatozóides, vários tipos de cancro e doenças auto-imunes. A expansão do Ulez é igualmente fundamental numa cidade com o objectivo expresso de atingir a neutralidade carbónica em 2030 e onde se inclui a proibição de venda de veículos movidos a gasolina e diesel no fim da presente década.

Se as vantagens são óbvias e urgentes, a contestação está bem presente entre cinco processos em tribunal da parte de outros tantos municípios londrinos mas também nos bolsos de quem, a braços com o aumento do custo de vida, se prepara para despender mais 3000 libras anualmente só para ir para o local de trabalho.

Como ciclista, estou naturalmente inclinado para aplaudir uma medida tão necessária como o ar que respiramos, literalmente, medida essa apoiada por um fundo de 110 milhões de libras para abate de carros anteriores a 2006.

Ao mesmo tempo, a falta de apoios à compra de veículos eléctricos associada a uma parca rede de pontos de carregamento para um país como o Reino Unido (cerca de 45000) põe a nu uma transição cuja planificação é ainda escassa.

E os protestos visíveis no número de câmaras Ulez já vandalizadas na capital de Sua Majestade onde, apesar de nove em cada dez veículos em Londres serem posteriores a 2006, com um total de 2,6 milhões de carros em Londres ainda ficam de fora cerca de 260 mil condutores.

Com um planeta exponencialmente mais quente, qualquer redução de emissões poluentes peca por tardia e a transição não é necessária mas vital. E se o aumento dos custos energéticos encontrou apoio directo da parte do governo, estou em crer em semelhantes medidas para breve neste que é um dos sete países mais ricos do mundo.

Para que não tenhamos mais casos como os de Ella. Para que a memória desta criança perdure para sempre numa cidade mais verde, num mundo mais verde num futuro mais verde.

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