Porque é que os “photo dump” no Instagram são tão populares?
Os carrosséis de fotografias das férias ou de algum momento especiais são presença constante no Instagram, mas não são uma novidade. Porque são os “photo dump” tão populares?
Corre o Verão de 2009. Foste com os teus amigos da escola “acampar” no jardim da casa de um deles e, de repente, começam a tirar uma série de fotos desfocadas com a vossa máquina digital. No dia seguinte, pegas no cabo USB para transferir as fotos para o computador, partilhando cada uma delas, sem sequer os consultares, num álbum de Facebook. Os likes e os comentários começam a cair — está feito o "acampamento".
Parece demasiado cedo para uma tendência como esta voltar a instalar-se, mas aconteceu, e de uma nova forma, chamada “photo dump”. Photo dump é o acto de publicar várias imagens de um intervalo temporal (normalmente um mês ou uma temporada), ou até um evento (como umas férias), numa plataforma que vive de imagens como o Instagram.
As fotos têm de ser publicadas de uma forma aparentemente incoerente e com “pouco esforço”, em oposição às imagens obviamente editadas. Os photo dumps são normalmente acompanhados de uma descrição despreocupada, que ofereça pouca ou nenhuma explicação sobre o motivo que levou à escolha daquelas imagens em particular. Os photo dumps são extremamente populares: até a plataforma de edição de imagem da Adobe lançou um guia para os usar para “dar mais diversão e autenticidade à tua presença no Instagram”.
O crescimento do “dump”
O Instagram lançou a ferramenta “carrossel” em 2017, o que permite aos utilizadores incluir até 10 imagens em cada publicação. Mas os photo dumps não animavam os nossos perfis até ao final de 2020. Há algumas possíveis explicações para esta tendência:
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Uma reacção social ao cansaço face aos conteúdos patrocinados no Instagram, onde parece que todas as publicaçãoes tentam “vender sérum para o rosto, uma escova de dentes eléctrica ou um par de leggings”, como diz a Vogue;
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Durante a pandemia, poucos acontecimentos da nossa vida pareciam dignos de uma publicação no Instagram, e isto inspirou os utilizadores a apreciar a beleza na mundanidade;
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Muitos utilizadores procuram autenticidade nas redes sociais, criando aversão à falsidade dos filtros e de outras formas de edição de fotos.
Os dump dão a ideia de que as imagens foram escolhidas ao acaso, mas isto subestima as possibilidades de curadoria das publicações que vão parar ao Instagram. O sociólogo Erving Goffman argumenta que não existe “auto-apresentação” acidental. Todas as interacções humanas, quer aconteçam ao vivo ou nas redes sociais, requerem algum nível de habilidade e tomada de decisão.
As raízes do “dump”
As mudanças tecnológicas não anulam as culturas existentes. Os rituais sociais que sustentam as formas mais antigas de fotografia e de comunicação visual transitaram para as redes sociais e, por isso, os photo dumps enquadram-se nas convenções dos álbuns fotográficos físicos.
As pessoas normalmente criam os seus álbuns físicos com um certo número de fotografias que dizem respeito a um evento ou a uma viagem, e isto transitou para o Instagram. Tanto o álbum físico como o photo dump online perdem o significado se não conheceres o autor das fotos, como se encontrasses um álbum alheio numa liquidação.
Dito isto, os photo dump e os álbuns em papel não são bem a mesma coisa. Por exemplo, os álbuns beneficiam de espaço vazio à volta de cada uma das imagens colocada cuidadosamente, através do qual os autores podem criar uma narrativa sobre aquela memória pessoal. Por outro lado, os dumps têm uma legenda curta. De qualquer forma, estas semelhanças dizem algo de significativo sobre a nossa relação com o Instagram — talvez agora a plataforma ocupe um lugar mais íntimo nas nossas vidas.
É fácil menosprezar os photo dumps. No final de contas, não passa de uma moda, frívola, não é um tema sério. Mas organizar as tuas fotografias num álbum foi entendido como sendo uma experiência pessoal intensa. Isto porque permite às pessoas partilhar uma história com o seu público, transmitindo valor social e emocional, não em relação a cada uma das imagens, mas no carrossel como um todo.
O futuro do “dump”
Dizem-nos que as redes sociais no Ocidente estão a desmoronar-se. O site The Vergue disse até que “é o fim da era social da web”, os utilizadores do Twitter estão a diminuir drasticamente e não se sabe o que vem a seguir. Os moderadores do Reddit estão em greve e os utilizadores do TikTok estão a ser banidos em diferentes países.
O Instagram parece ser familiar o suficiente para continuar a acolher publicações cuidadosamente pensadas para contar histórias do nosso dia-a-dia. E assim, enquanto lidamos com novas questões, promessas ou preocupações sobre tecnologias emergentes como a IA, talvez sejamos atraídos a usar as coisas de maneira mais íntima.
Exclusivo P3/The Conversation
Ysabel Gerrard é professora universitária de Comunicação Digital na Universidade de Sheffield, no Reino Unido