Janet Yellen comeu cogumelos mágicos. Porque não afectaram a secretária do Tesouro?
“Havia um prato delicioso de cogumelos. Não sabia que tinham propriedades alucinogénias”, disse Yellen, garantindo que não sentiu os seus efeitos.
Em tempos, o antigo Presidente Bill Clinton afirmou ter fumado marijuana, mas jurou que não a tinha inalado. Agora, a secretária do Tesouro, Janet L. Yellen, confirma que sim, comeu cogumelos que poderiam ter propriedades alucinogénias — mas (jura!) não ficou afectada.
A directora financeira dos Estados Unidos estava a falar de um jantar que aconteceu, no mês passado, enquanto participava em reuniões de alto nível em Pequim, em que um dos pratos foi confeccionado com um cogumelo conhecido como jian shou qing.
Depois de a refeição ter feito furor na China, devido ao facto de um blogger local ter publicado a ementa do jantar nas redes sociais, Yellen foi questionada sobre a sua “experiência com cogumelos” durante uma entrevista esta semana a Erin Burnett, da CNN.
“Havia um prato delicioso de cogumelos. Não sabia que tinham propriedades alucinogénias”, disse Yellen com uma gargalhada, referindo que não foi ela que pediu o prato, mas sim a pessoa que organizou o jantar. “Fiquei a saber isso mais tarde.” O prato era saboroso, disse, mas não sofreu efeitos alucinogénios.
Embora os ocidentais possam apreciar este tipo de cogumelo devido às suas qualidades psicadélicas, os habitantes locais valorizam-no pelo seu sabor, que lembra a carne de porco. “Há uma diferença de atitude cultural em relação ao efeito psicoativo — é como se a comida em si fosse mais importante do que essa propriedade”, diz Colin Domnauer, candidato a doutoramento na Universidade de Utah, que tem estudado estes cogumelos.
É possível encontrar o cogumelo (e uma série de espécies, muitas das quais quase idênticas) — cujo nome se traduz literalmente como “ver a mão azul”, porque a sua polpa fica azulada quando pressionada —, em mercados e restaurantes em Yunnan, bem como noutros locais que servem a cozinha da província, como o restaurante onde Yellen e o seu grupo jantaram.
E embora algumas pessoas tenham relatado ter tido “alucinações liliputianas” — o que significa que as pessoas que os ingeriram alegaram ter tido visões de pessoas pequenas — pode ser decididamente não-alucinogénio se for cozinhado adequadamente, continua o investigador.
Yellen disse que tinha lido que “se os cogumelos forem cozinhados correctamente” não têm qualquer impacto. “Tenho a certeza de que foi o que aconteceu naquele restaurante muito bom.” E reforçou: “Todos nós gostámos dos cogumelos, do restaurante, e nenhum de nós sentiu qualquer efeito negativo.”
Domnauer visitou recentemente Yunnan para recolher amostras e também ele jantou a iguaria local num restaurante de hot pot, de comida cozinhada na mesa dos clientes. O pessoal do restaurante colocou um temporizador e deu instruções aos comensais para cozinharem os cogumelos no líquido a ferver durante pelo menos 15 minutos antes de os comerem, relata, acrescentando que ninguém teve alucinações.
Como explicar as aparições liliputianas?
Embora o cogumelo em questão seja amplamente considerado delicioso, também contém mistérios que os micologistas estão a tentar desvendar. Os cientistas ainda não identificaram o composto neles contido que é responsável pelos seus efeitos psicoactivos, observa Matthew Kasson, micologista e professor na Faculdade Davis da Universidade da Virgínia Ocidental.
A análise não revelou a psilocibina, que é o composto normalmente encontrado na maioria dos “cogumelos mágicos” e que faz deles uma droga recreativa popular. Os cientistas também não encontraram outro composto conhecido, o ácido iboténico, que aparece nos cogumelos vermelhos e brancos com bolinhas, por vezes referidos como cogumelos “Super-Mario” devido à sua representação no popular jogo de vídeo.
Talvez algo totalmente novo, diz Domnauer, possivelmente um composto que poderia ter usos interessantes na medicina ou noutras aplicações. Compara-o com a época em que os micologistas tomaram conhecimento da psilocibina, actualmente utilizada em vários tratamentos psiquiátricos, nos anos 1950, depois de estudarem os cogumelos utilizados em cerimónias antigas no Norte do México. “Houve uma altura em que ninguém, para além deste pequeno grupo em Oaxaca, sabia da sua existência, e agora está espalhada por todo o lado”, diz.
Depois da refeição de Yellen, o jian shou qing está a vender-se como pãezinhos quentes nas várias filiais do restaurante onde ela jantou. E embora possa parecer estranho que um cogumelo com o potencial de fazer o comensal ter visões de pequenos humanos seja um alimento comummente consumido, Kasson diz que isso pode ser explicado pelas diferenças de atitudes em relação aos fungos em geral.
“Não é uma surpresa para mim, porque no Oriente há um grande respeito pelos fungos na cultura oriental, tanto na alimentação como na medicina”, afirma Kasson. Os ocidentais, por outro lado, “tendem a vilipendiar os fungos porque estão associados à decomposição, à morte, ou pensamos que nos vão matar”, conclui.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução e adaptação: Bárbara Wong