É o fim da ginástica rítmica no Ginásio Clube Português
Clube com quase 150 anos encerrou a modalidade onde formou atletas “de referência”. Pais estão contra a extinção da “equipa que tem puxado a corda” da ginástica rítmica.
Fundado em 1875, o Ginásio Clube Português (GCP) reúne diversas modalidades desportivas e apresenta uma longa tradição olímpica. É um dos clubes rei da história da ginástica rítmica em Portugal. Apesar disso, decidiu encerrar a secção, procedendo ao despedimento da equipa técnica e deixando 38 ginastas sem clube.
Sandra Nunes tem 43 anos e há 24 que é treinadora de ginástica rítmica. Dia 28 de Julho recebeu a carta de despedimento, depois de ser “apanhada desprevenida” com o encerramento da modalidade que a apaixona, no clube que representa há seis anos - o Ginásio Clube Português (GCP).
O mesmo “balde de água fria” chegou às mãos de Cristina Amorim, mãe da ginasta Clara Melo que integra o conjunto sénior da selecção nacional de ginástica rítmica.
Entre as razões que conduziram à dissolução da modalidade, explicitadas em reunião convocada com os pais, está a indicação de que as disciplinas competitivas têm um modelo que não é "sustentável" para o clube, pelo que "por motivos financeiros" o GCP optou por extinguir a rítmica - já que é uma das que consome mais recursos, no que toca ao espaço e aos horários de treino, revelou Leonor Baptista, mãe de uma das 38 atletas lesadas.
A treinadora acrescentou que a situação pandémica vivida no último ano afectou vários clubes, mas reforçou que no caso do Ginásio mantiveram os treinos online e deram continuidade aos treinos presenciais, no âmbito da selecção nacional.
Elas “vivem para isto”, destaca Cristina Amorim depois de explicar ao PÚBLICO que a filha deixou de ir às aulas em Abril deste ano para se dedicar por inteiro ao projecto do conjunto, que ambiciona ficar com a última quota para o apuramento olímpico. A modalidade está a crescer internacionalmente, “muito fruto deste grupo: treinadores e atletas”, reforçou a mesma mãe.
“A equipa que tem puxado a corda”
O clube renovou a equipa técnica em 2017, que apresentou objectivos “muito ambiciosos”, nas palavras da Cristina Amorim. A carga de treinos aumentou e actualmente quatro das seis ginastas que compõem o conjunto sénior de Portugal são do GCP.
Cristina Amorim afirma que "pessoas com muito valor e uma entrega gigante" têm feito "um trabalho muito sério", para fazer face à exigência que caracteriza a modalidade.
Extinguir "a equipa que tem puxado a corda" e uma estrutura de trabalho que tem formado ginastas "de referência" pode significar um retrocesso no desenvolvimento deste desporto em Portugal, reforça a mãe de Maria Leonor Baptista, que há 10 anos que faz do GCP a sua segunda casa.
Sandra Nunes confirmou que as ginastas querem continuar a praticar e “anular um clube tão presente há tantos anos” e com um nível de “competitividade” tão alto está a deixar os pais das ginastas “muito solidários” com a situação.
“Este ano, todas as atletas renovaram o Alto Rendimento, o que demonstra que o caminho que se tem feito tem tido resultados”, conclui Leonor Baptista. “Era importante que não se perdesse o que se conseguiu até agora”.
Para as atletas que representam a selecção nacional, tudo indica que surgirão alternativas, dado que estão “um bocadinho mais protegidas”, explica Cristina Amorim, pelo apoio da federação. Já as restantes se não tiverem lugar para treinar vêem a sua carreira interrompida, a poucas semanas do início da próxima época.
O PÚBLICO entrou em contacto com o Ginásio Clube Português que diz estar "firmemente empenhado em assegurar o percurso competitivo das atletas de ginástica rítmica durante a próxima época desportiva", mas nem a direcção, nem o presidente Manuel Cavaleiro Ferreira aceitaram prestar esclarecimentos sobre o que está a suceder.