50 anos… É só um número?

Aos primeiros sinais de velhice, muitos ficam de pé atrás. A desconfiança de que, também nós, perdemos o fulgor da juventude manifesta-se por ténues indícios.

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"Aprendi a aceitar o meu corpo dos '-enta' e a acarinhar as minhas rugas" Lucas Law/Unsplash
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"É só um número…", costuma dizer-se a quem receia envelhecer, em jeito de consolo à medida que a idade avança.

Ainda crianças desejamos muito ser crescidos. No mundo dos adultos, perderemos os medos e seremos princesas ou super-heróis, com os pós de perlimpimpim da nossa varinha de condão, a fértil imaginação infantil. O aniversário é aguardado em contagem decrescente, pois o dia traz geralmente consigo mimos, atenção redobrada e presentes.

Quando adolescentes, sentimo-nos todo-poderosos, mas sonhamos com a maioridade. Antecipamos liberdade, independência e a possibilidade de decidirmos sozinhos o que queremos fazer, sem sermos importunados pelos zumbidos constantes dos "nãos" dos nossos pais.

A idade do armário, não permite compreender que a total autonomia implica também o fim da maioria dos dias despreocupados de Verão azul, instalando-se um crescente fardo de responsabilidades que, quando aparece, nunca mais se vai embora.

A juventude traz consigo a realização dos sonhos, e apesar de inúmeras desilusões que nos fazem tropeçar pelo caminho, vivemos numa espécie de cegueira, olhamos para os mais velhos como seres alienígenas, os quais nunca iremos ser.

Corpo e mente em apogeu, a maioria vive intensamente o presente, focada num culto aditivo de sucessos pessoais — a carreira, a ambição do corpo e da família perfeita — estimulada pelo mundo de imagens virtuais que substituem a realidade e escravizam. Permanece assim submersa e perdida num vórtice do "aqui e agora" material que turva a visão para o que permanece à tona: tudo isso é ilusório e nada será permanente.

Até então, o dia de aniversário representa quase sempre um animado dia de festa, em que se brinda à vida por mais uma "volta ao sol".

Aos primeiros sinais de velhice, muitos ficam de pé atrás. A desconfiança de que, também nós, perdemos o fulgor da juventude manifesta-se por ténues indícios, mas que rapidamente trarão consigo mudanças inevitáveis, a um ritmo cada vez mais veloz.

De repente, os anos que andavam devagar parecem ganhar asas e passam por nós a voar. São as mulheres, as que mais se ressentem com a idade. Os números arredondados são assumidos de início com uma certa graça. Os 20… Os 30… Os 40, que "são os novos 30"… Os 50.

A partir daqui, para a maioria, já não tem graça nenhuma. À perda geral expectável de capacidades físicas juntam-se as maleitas etárias.

No sexo feminino, acresce a chegada da menopausa, que traz consigo inexoravelmente múltiplas transformações no corpo e na mente.

Se não aprendermos a lidar com elas ou somos arrastadas pela corrente — e o que ainda temos por viver desvanece-se, perdido entre queixumes de quem prefere baixar os braços —, ou é posto em segundo plano, em prol de uma agenda tão sobrecarregada de correcções estéticas, que pouco tempo sobra para desfrutar do que é realmente essencial.

Faço 50 anos, por estes dias.

Não, não é só um número, porque, à medida que a data se aproxima, dobrar o meio século tem-me feito reflectir.

Adorava aniversários, mas pelos 30 deixei de gostar. Parte de mim ficou presa à ditadura do espelho e à busca de elixires que me mantivessem sempre jovem, ofuscada por convenções de beleza que, passadas décadas, me parecem fúteis e sem qualquer valor concreto.

Pelos 40 e picos voltei a ter prazer em comemorar, quando o meu pai me aconselhou a fazê-lo, pela importância que deve ter para nós, seres humanos, celebrarmos a vida.

Nestas últimas "voltas ao sol", fui enraizando novos hábitos. Nunca é tarde para mudar — que cliché tão verdadeiro —, basta querer e, dentro do que nos é possível, persistir com resiliência e consistentemente.

Tento cultivar o meu interior em plenitude, em busca constante de paz de espírito. Aprendi meditação dinâmica, faço retiros, caminhadas ao som da música ou do silêncio, retomei a leitura regularmente, absorvo como uma esponja os mimos dos meus filhos e da minha família, rodeio-me de quem me faz feliz.

Atingi um ponto de equilíbrio na realização profissional, e mantenho-me ainda apaixonada por ser pediatra. Nunca me sinto sozinha: no dia-a-dia, estou bem acompanhada pelas tropelias e risos das crianças, que sinto que me rejuvenescem a alma.

E cuido do aspecto exterior da forma que me faz sentir bem. Tenho uma alimentação equilibrada, bons hábitos de sono, pratico exercício. Do que depender de mim, tentarei manter-me saudável a longo prazo.

Aprendi a aceitar o meu corpo dos "-enta" e a acarinhar as minhas rugas. Representam quem eu sou, são um mapa do meu percurso neste mundo; respeito quem pense de outra forma, mas mantenho-me longe da medicina estética. Tal como o são os bens materiais, a nossa imagem é ilusória, e por muito que se tente travar o tempo… não é possível.

Gosto de assumir a idade e, cada vez mais, me cruzo com mulheres que, tal como eu, o fazem despreocupadamente, indiferentes às ideias preconcebidas de que "não se pergunta a idade a uma senhora".

Já há algum tempo que não partilhava ideias.

Escrevi muito na altura da pandemia, embora prefira o sossego à exposição pública, e afastei-me bastante das redes sociais, que apenas uso q.b., mas, fazer 50 anos, não é só um número e, por isso, resolvi assinalar a minha passagem do meio século com algumas reflexões pessoais.

Para quem quiser parar e reflectir, em plena silly season, aqui ficam estas linhas, sobre uma das muito poucas certezas da vida: para além de nascermos e morrermos, todos vamos envelhecer.

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