A forte marca identitária, que contrapõe o Vinho Verde a todos os demais, e uma recorrente dinâmica de renovação são, talvez, as mais vincadas características desta região. Sendo uma das maiores e mais antigas regiões vitivinícolas do mundo, demarcada desde 1908 e em tempos idos conhecida simplesmente como Minho, ali, vinho e fertilidade sempre andaram de mãos dadas. Mas é a partir do século XII que a produção de vinhos no Noroeste de Portugal assume verdadeira importância social, com o forte crescimento da população que então se verificou.
O registo da expedição de uma pipa para Inglaterra em 1295 mostra que os vinhos da região terão sido os primeiros a ser exportados para o Norte da Europa. A partir de finais do século XIV, os comerciantes ingleses mantêm na região duas Feitorias, em Monção e Viana da Foz do Lima (como surgia nos documentos de então), dedicadas à exportação dos vinhos que consideravam “tão finos e apaladados como os de Borgonha”. Tintos provenientes das zonas interiores dos vales do Minho, Vez e Lima, que por este desciam até ao porto de Viana, de onde eram exportados, e, por isso, então designados como “Vinhos de Viana”.
É depois pelo efeito da revolução do milho — a chegada do “milho grosso” vindo das Américas —, conjugado com o contínuo crescimento populacional e posteriores entraves colocados pelas medidas de contenção de novos vinhedos lançadas pelo Marquês de Pombal, que a vinha vai sendo empurrada para as bordaduras. Com as uveiras e latadas elevadas, as uvas têm dificuldade em amadurecer e os vinhos tornam-se mais ácidos, mas a produção continua em crescendo. A região precisa cada vez mais de vinho (e de milho) para acompanhar o crescimento da população. E os muitos que emigram para o Brasil — e depois, já no século XX, primeiro para África e depois para o centro da Europa — começam também a pedir de lá os vinhos leves, frescos e joviais a que estavam habituados.
Um estilo que, mesmo depois da recente revolução com a modernização da viticultura, enologia e adegas, a população continua a acarinhar, promovendo o crescimento da actividade vitivinícola nos verdes. Aproveitando as vantajosas condições naturais de clima ameno e pluviosidade, a revolução de que falamos voltou-se nas últimas duas décadas do milénio sobretudo para a produção de vinhos brancos, deixando os tintos praticamente de lado.
Com esta mudança, as vinhas estão também de regresso aos melhores terrenos e à condução baixa. São nove as sub-regiões dos verdes. De Monção e Melgaço, pátria dos Alvarinhos, onde a pluviosidade é menor e as temperaturas são mais altas no Verão, a Baião, já na margem do rio Douro e abrigada da influência atlântica, onde medram os Avesso, secos, frescos e minerais. Pelo meio as sub-regiões mais interiores e montanhosas de Basto e Amarante voltadas ao Tâmega, assim como a do Sousa. Paiva, já na margem sul do Douro, caracteriza-se pelos seus tintos, enquanto o Loureiro e a influência directa do Atlântico e as suas névoas matinais reinam nos vales do Lima, Cávado e Ave.
Os brancos dos Vinhos Verdes são hoje capazes de corresponder a todos os gostos e estilos. Dos jovens, leves e frescos aos vinhos cada vez mais sérios, estruturados e elegantes. Caso evidente dessa diversidade e de uma forte aposta na qualidade são os Alvarinhos — sobretudo na sub-região de Monção e Melgaço, onde as vinhas ao baixo verdadeiramente nunca chegaram a desaparecer —, mas não só. O mercado reconhece cada vez mais a identidade fresca e distinta dos vinhos das castas Loureiro, Avesso e Azal, ou os rosés de Espadeiro, que conquistam adeptos cá dentro e lá fora, um pouco por todo o mundo.