Exposição
São gémeos idênticos que de idêntico pouco têm
Em Monozigóticos: a diferença na igualdade, a fotógrafa Cláudia Rocha tentou "perceber as diferenças, muito mais do que as semelhanças", de gémeos idênticos – e para além da cara. Para ver no Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, até 31 de Agosto.
São retratos de gémeos, sim, mas em que importa muito mais ver o que os separa. Não é, porém, um mero jogo de “Descobre as diferenças”, antes de busca pela individualidade. Como ser um num pack de dois? Como existir com um espelho ao lado?
O interesse da fotógrafa Cláudia Rocha pela questão da identidade já vem de trás – norteou todo o trabalho que fez em torno dos drag kings e drag queens londrinos –, mas pela primeira vez viu-se a retratar pessoas muito “pouco habituadas à câmara”, com esta série em que tentou “perceber as diferenças, muito mais do que as semelhanças” de gémeos monozigóticos (nascidos de um só óvulo que se divide). “Fez-me crescer enquanto fotógrafa”, diz a portuense, em permanente digressão entre Londres e a cidade onde nasceu.
Em exibição até 31 de Agosto, no Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, Monozigóticos: a diferença na igualdade apresenta diversas fotografias de gémeos de várias idades para, de certo modo, nos dar uma lição.
“Apesar da sua enorme semelhança, e contrariamente ao que seria de esperar, descobertas recentes mostram que as diferenças fenotípicas (características exteriores), assim como genéticas, entre gémeos idênticos são a regra e não a excepção, o que torna a expressão ‘gémeos idênticos’ cada vez mais inadequada”, lê-se no texto de apresentação da exposição, fruto de uma colaboração com a ginecologista e obstetra Alexandra Matias, que tem feito investigação nesta área (e, por sinal, acompanhou as gravidezes de Cláudia).
Essas diferenças afirmam-se com a idade e o envelhecimento, à medida que a individualidade se vinca. E para além do mais óbvio: a face. Daí a opção de fotografar os pés de Ana e Beatriz, as mãos de Marcinia e Maria Clara, as costas de Manuel e Frederico, os sapatos de Otília e Floriana (“falam muito da personalidade delas sem ver a cara”). Ou os lugares, como o quarto de Inês e Leonor, onde o Pikachu convive com Stranger Things. “A história não está na cara”, diz, “está na relação de continuidade”.
Neste processo de procura por potenciais retratados, que se prolongou por dois anos, foi-se afastando das crianças. “Não é tão desafiante porque gosto de conversar com as pessoas e criar uma imagem em colaboração”, conta. Assim foi sabendo mais sobre as relações. Descobriu, por exemplo, que normalmente existe um gémeo dominante, aquele que em criança falava mais – o que se pode ir mantendo ou ganhando novas variantes, ao longo da vida. Mas quem (literalmente) saía melhor na fotografia era sempre o menos dominante – “relaxava-se, divertia-se”.
Apercebeu-se ainda que a proximidade entre os irmãos resiste, muitas vezes, por muito tempo. Graça e Beatriz vivem uma em frente à outra, Rodrigo e Tiago no mesmo prédio, Isabel e Rosa na mesma casa, Isa e Ania partilham “poeticamente” a descoberta da maternidade. Certo é que “nenhum será jamais uma cópia fiel”.