Portugal eleito o favorito dos fãs no Mundial Júnior de ginástica rítmica
No Campeonato Mundial que se disputou na Roménia, Portugal não conquistou medalhas mas trouxe para casa o Fan’s Favourite Award, um prémio atribuído por votação do público.
Os fãs de ginástica rítmica que marcaram presença no Campeonato Mundial júnior da modalidade, que decorreu na Roménia, no passado fim-de-semana, escolheram Portugal como a selecção favorita. As atletas nacionais, que se juntaram apenas seis meses antes do início da competição, não se aproximaram de um lugar no pódio, mas conquistaram o reconhecimento da plateia.
O conjunto formado por seis ginastas, sob a orientação das treinadoras Sílvia Canelas e Joana Delgado, deslocou-se entre os dias 7 e 9 de Julho a Cluj-Napoca, na Roménia, depois de já ter participado no Campeonato da Europa, na cidade de Baku, no Azerbaijão, de 17 a 19 de Maio deste ano.
Esta foi a primeira vez na história da modalidade que o grupo apurado para as duas provas internacionais foi constituído por atletas da região norte do país, já que tem sido sempre o sul a representar a selecção nacional de ginástica rítmica, por conjuntos.
A atleta mais nova tem 12 anos e a mais velha 14. Inês Fernandes, Maria Osório, Sara Costa, Anamar Couto, Filipa Simões e Mafalda Santos apresentaram em prova duas coreografias que surpreenderam os apaixonados da modalidade, uma com bolas e outra com cordas.
Oito horas por dia em treino
De um total de 37 países que marcaram presença na prova por conjuntos, a equipa portuguesa ficou em 24.º no exercício de cordas e foi empurrada para 29.º no exercício de bola, por acusar “alguma pressão”, segundo a treinadora, e acabar por cometer uma falha grave. Ainda assim, obteve o estatuto de Alto Rendimento nível C, frente a países com equipas formadas com mais antecedência.
Para as portuguesas, a conquista do prémio de favoritas do público no Campeonato Mundial foi o resultado do trabalho iniciado no dia 22 de Dezembro do último ano. Cerca de seis meses separam o momento em que as ginastas de Aveiro, Espinho e Santo Tirso se uniram para formar equipa e o dia em que representaram Portugal numa prova que reuniu a elite desportiva do escalão júnior.
“Tendo em conta que o processo começou em cima do joelho, não foi mau”, revelou Sílvia Canelas, depois de ter aceitado o desafio de orientar o grupo, com um período de preparação mais curto do que gostaria. Ainda assim, e apesar de serem de clubes diferentes, as ginastas estabeleceram um espírito de grupo e uma presença no praticável que contagiaram os corações da plateia, mesmo sem um lugar no pódio.
Para perseguir este sonho, as atletas dedicaram oito horas por dia à ginástica, sempre que os treinos eram bidiários, e cinco horas quando treinavam uma vez ao dia. Começaram a ausentar-se das aulas na escola a partir do período da Páscoa para dedicarem mais tempo aos treinos no pavilhão e folgaram apenas uma vez por semana.
Falta um centro de estágios
Nas actuações a solo, Portugal era obrigado a apresentar um exercício de cada aparelho, à semelhança dos outros países. A ginasta Carolina Freitas foi a escolhida para as exibições de arco e maças, onde alcançou um 23.º e um 31.º lugares, respectivamente. Já Leonor Baptista conseguiu um 32.º lugar em fita e Huzak Olexandra um 42.º posto em bola.
Todas as ginastas conquistaram o estatuto de Alto Rendimento de nível C, com destaque para Carolina Freitas, que obteve o nível B, a poucas décimas do nível A. A seleccionadora Darina Vasileva foi a responsável por acompanhar as atletas no decorrer da competição.
Por equipas, Portugal finalizou o seu desempenho em 25.º lugar, incluindo as participações a solo e em conjunto.
Até à data, não há medalhas para Portugal em provas internacionais. Entre as causas apontadas, Sílvia Canelas realça a falta de estrutura da modalidade. As ginastas não têm um centro de estágios comum e, por isso, treinam-se em vários pavilhões com deslocações asseguradas pelos pais, contou ao PÚBLICO. Não obtêm um grande apoio na escola, além do estatuto de atleta, e não recebem qualquer contribuição financeira do Estado, explicou a treinadora.
Com o objectivo de preparar o Campeonato Europeu e Mundial, as atletas participaram no Torneio Internacional de Budapeste, na Hungria, onde foram apuradas para as duas finais e alcançaram uma classificação geral dos dois aparelhos em 5.º lugar. Para reunir financiamento para as viagens da prova que serviria de treino para os desafios seguintes, as atletas realizaram uma venda de rifas nas redes sociais.
O futuro da modalidade fica em aberto, mas o sonho olímpico continua a ser uma prioridade para a treinadora portuguesa que soma 22 anos de carreira. Já para as jovens atletas, "receber o prémio dos fãs foi o mesmo que receber uma medalha", conclui a treinadora, assumindo que "ninguém estava à espera" e "toda a gente gostou" das coreografias que apresentaram.
Texto editado por Nuno Sousa