Iscte vai inaugurar edifício que recuperou reutilizando muito do que lá encontrou
Projecto do novo campus recuperou o antigo edifício do IMTT para criar uma “universidade sem muros”, inserida no tecido urbano de Lisboa, e sustentável.
Reabilitar sim, mas reutilizando materiais, poupando os recursos do planeta - assim como os económicos - sem nunca prescindir da beleza das linhas arquitectónicas. Foi sob este paradigma que o projecto do novo edifício de investigação do Instituto Universitário de Lisboa (Iscte) foi construído e seleccionado para um programa do projecto Novo Bahaus Europeu, que alia a sustentabilidade com a estética e a inovação.
O projecto vai ser inaugurado esta quarta-feira e consiste na reabilitação do antigo edifício do Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres (IMTT) em Lisboa. A ideia de construir "uma universidade sem muros" tem um duplo objectivo: além de criar um bloco universitário que concentra as áreas de investigação e formação avançada do 3º ciclo de doutoramentos, vai permitir abrir este pólo universitário à Avenida das Forças Armadas, gerando um interface com o tecido urbano de Lisboa.
A recuperação do antigo imóvel manteve a estrutura inicial de betão e parte das paredes interiores, reaproveitou 40% dos materiais existentes e aplicou várias medidas com o objectivo de poupar recursos, como a recuperação de águas saponárias e a substituição de interruptores por sensores de iluminação, revelou o arquitecto e coordenador geral da obra, Bernardo Miranda. Esta preocupação em diminuir os gastos em recursos naturais, energéticos e, no fim das contas, económicos, disse ao PÚBLICO, é uma obrigação assumida pela instituição de ensino enquanto “universidade certificada ambientalmente”.
Iscte - Conhecimento e Inovação é um projecto “que não se vê”, explicou o arquitecto, mas cujo impacto ambiental representa uma mudança na abordagem à reabilitação urbanística. "Não é a recuperação de uma fachada do século XVI que está em causa", mas é um espaço que perdeu a sua funcionalidade e que pode ser reaproveitado em vez de ser alvo de mais uma demolição, referiu.
Outro objectivo que se perseguiu foi a sua abertura à cidade. O Instituto Universitário de Lisboa cresceu “enclausurado” no tecido urbano, conta Bernardo Miranda. Está recuado na Avenida das Forças Armadas, pelo que este é o único edifício do instituto que passa a ter frente urbana. O espaço antes ocupado por um estacionamento de viaturas automóveis vai agora dar lugar a uma área verde de usufruto público, que serve de interface entre a academia e a cidade.
Ao todo, a obra implicou um investimento de 15 milhões de euros. A reabilitação do edifício exigiu um reforço sísmico estrutural, a aplicação de um novo piso e o revestimento exterior em tijolo cerâmico maciço para prolongar a durabilidade e aumentar a resistência do edificado às condições meteorológicas. O desenho do projecto teve ainda em consideração a captação de luz natural para inverter a tendência de espaços iluminados de modo artificial. No espaço recuperado, foi ainda possível preservar um conjunto de pinheiros mansos com cerca de 50 anos.
A reabilitação começou a ser idealizada em 2018, juntamente com a arquitecta Susana Rego e o professor do mesmo instituto Pedro Luz Pinto. Mais tarde, a empreitada arrancou, com uma primeira fase que exigiu algumas demolições e escavações, iniciada em 2021. Seguiu-se uma outra etapa que correspondeu à reabilitação e ampliação do edificado, que está agora em vias de ficar concluída. O projecto Iscte - Conhecimento e Inovação foi realizado em colaboração com um gabinete constituído para esta construção por oito ex-alunos formados em arquitectura pela casa.
O projecto foi um dos seleccionados pelo programa “European Bahaus Transformation of Places of Learning”, cumprindo com as metas impostas pelo European Bauhaus Transformation, uma iniciativa da Comissão Europeia que estabelece a ligação interdisciplinar entre o Pacto Ecológico Europeu e as experiências e espaços de vida dos cidadãos.
O objectivo é, através de uma open call, encontrar projectos que sejam inspiradores ao nível da arte e cultura locais, respondendo às necessidades para lá do domínio funcional, que sejam sustentáveis em matéria ambiental reduzindo, por exemplo, o consumo de água e energia e melhorando a qualidade do ar, e que sejam inclusivos, permitindo o diálogo entre culturas e línguas.
Na cerimónia de inauguração desta quarta-feira está prevista a presença do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, da ministra da Coesão, Ana Abrunhosa, e da ministra da Ciência e da Tecnologia, Elvira Fortunato.
Texto editado por Ana Fernandes