Floresta, água e sobrevivência
As crianças colombianas que estiveram 40 dias na floresta sobreviveram porque não eram urbanas. A espécie humana é capaz de sobreviver meses sem comer. Mas não há ninguém que faça greve de sede.
O recente caso das crianças colombianas que conseguiram sobreviver durante quase mês e meio na floresta amazónica é um testemunho de que sem água não há vida e sem biodiversidade não sobreviveremos no globo terrestre. Aliás, estas crianças sobreviveram porque não eram urbanas, pois estas últimas não só poderiam ter morrido de medo como, também, não saberiam procurar alimentos na floresta, por estarem habituadas a comprar hambúrgueres e doçaria.
A floresta amazónica é uma floresta trópico-equatorial, sob intensa incidência de radiação solar e extremamente húmida. Por isso, este tipo de pluvisilva (do latim pluvia = chuva e silva = floresta), onde chove praticamente todo o ano e vegetam imensas plantas (produtores de biomassa), muitas delas árvores de enorme dimensão, é de extrema relevância para a vida na Terra. Com tanta água e enorme volume de biomassa vegetal (base alimentar de herbívoros e estes de carnívoros), estas florestas (pluvisilva) das regiões equatoriais são ecossistemas de elevadíssima biodiversidade.
É do conhecimento geral, que só há vida na Terra porque há água neste planeta e que o corpo dos seres vivos é maioritariamente constituído por água.
É fácil demonstrar que sem água não há vida. Se deitarmos sementes em dois vasos com terra, mas só regarmos um deles, apenas nascerão plantas no que foi regado. Assim, nos desertos puros, onde há escassez de água, nem chove, há reduzida biodiversidade e nos oceanos, lagos, pântanos e rios, onde abunda a água, pululam seres vivos.
Também é fácil demonstrar que o corpo dos seres vivos é maioritariamente constituído por água. Todos sabem que a espécie humana é capaz de sobreviver dois a três meses sem comer, desde que se movimente o mínimo possível para não consumir o combustível (gorduras, açucares e proteínas) que tem acumulado no corpo. Uma pessoa em greve de fome emagrece. Mas não há ninguém que faça greve de sede, pois não aguentava mais do que dois ou três dias vivo. Também, quando uma pessoa está muito doente e não pode abrir a boca, dão-lhe soro intravenoso, que é maioritariamente água com substâncias nutritivas.
É por isso que, em todo o Globo Terrestre, é fundamental preservar as florestas e as zonas húmidas, não só por conterem uma grande diversidade e quantidade de seres vivos, como também por serem reservas de água, muito importantes para nós e para os seres vivos de que dependemos.
Infelizmente, estamos, há séculos, a fazer desaparecer grandes áreas de florestas e de zonas húmidas. O derrube florestal tem sido tão intenso que da floresta que cobria grande parte do Globo Terrestre quando surgiram os hominídeos, nem 25% dessa floresta existe atualmente.
Também a drenagem de zonas alagadiças ou pantanosas não é uma prática moderna, já que se encontram provas arqueológicas disso, como a drenagem efetuada pelos etruscos dos amplos charcos em volta da colina onde se fundou Roma. Quando se procedeu à drenagem maciça de extensas áreas húmidas, por exemplo, no Languedoc-Roussillon (Sul de França) e na Pianura Pontina (Centro-Oeste de Itália), ignoravam-se os danos que daí adviriam. Atualmente, efeitos drásticos nas áreas húmidas estão também a ser produzidos por outras “pragas” da civilização, como a regularização de rios, construção de portos, vias rodoviárias e ferroviárias, urbanizações sem nexo, etc.
As zonas húmidas, além de serem ecossistemas de elevada biodiversidade, são essenciais para a vida e para a agricultura.
Por outro lado, com a revolução industrial iniciou-se a poluição do globo, agravada, durante a segunda metade deste século, com a revolução verde da agricultura. Assim, abarrotaram-se extensas zonas húmidas de produtos químicos nocivos, como pesticidas, agroquímicos, detergentes, nitratos, iões metálicos e muitos outros compostos vertidos por efluentes urbanos e industriais sem tratamento prévio. Ora, a nossa espécie só pode utilizar água potável. Não somos como muitos outros animais que conseguem beber água poluída com seres patogénicos ou com produtos químicos tóxicos. A água, desde que esteja poluída, pode matar-nos ou provocar-nos doenças que, posteriormente, muitas vezes levam à morte.
Qualquer pessoa sabe que precisa de comer para viver e crescer e que a comida é constituída por material biológico (vegetal e animal); que a água potável é imprescindível à vida humana; que não se pode viver no seio do lixo; que a atividade industrial tem de ter regras de conduta para não poluir; que a atmosfera terrestre está repleta de gases e compostos químicos tóxicos e que a concentração de gás carbónico (CO2) tem vindo a aumentar desmesuradamente, com o consequente efeito de estufa; etc.
Praticamente toda a gente tem alguma consciência do que está a acontecer no Globo Terrestre, com o consequente risco de sobrevivência da nossa espécie, mas, a maioria das pessoas, não só não tem a educação ambiental necessária para entender o que se está a passar, como também para perceber que tem de mudar a sua maneira de estar na Terra. Enfim, há uma enorme falta de civismo, fundamentalmente por culpa dos políticos mundiais, que se preocupam essencialmente com o desenvolvimento económico.
Sem água não há vida; sem água potável não há vida humana; sem a biodiversidade não sobreviveremos no Globo Terrestre.
Se conseguirmos, desta maneira, alertar e educar bem e claramente as pessoas, talvez as próximas gerações se tornem mais conscientes e sejam geridas por políticos não associados ao poder económico, de modo a preservar a biodiversidade, a desperdiçar menos água, a consumir menos energia e a poluir, o mínimo possível, este planeta onde a humanidade se encontra engaiolada.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico