Os jovens adultos podem optar por continuar a viver em casa dos pais ou regressar por uma série de razões, como uma pandemia, o aumento do custo de vida, porque estão a estudar ou simplesmente porque gostam do conforto e da localização da casa de família.
Num inquérito realizado a adultos que viviam com pelo menos um dos pais em meados de 2021, cerca de um em cada quatro referiu que a sua relação com os pais tinha melhorado desde o início da pandemia. Mas, para a maioria, a experiência poderia ter sido mais positiva.
Viver com os pais dá trabalho. Ao contrário do que acontece com outros colegas de casa, um contexto familiar complexo pode significar que qualquer desconforto, queixas ou conflitos de personalidade do passado estão constantemente a borbulhar à superfície, especialmente em momentos de stress. Esta dinâmica pode tornar mais difícil ser um colega de casa “simpático” e pode resultar em conflito.
Por isso, se vives em casa dos teus pais — ou padrastos, avós ou pessoas que cuidam de ti — como podes ser um melhor companheiro de casa e construir uma relação mais forte e madura com eles? Embora ambas as partes tenham de fazer um esforço concertado, eis algumas coisas que podes fazer.
Reenquadra os teus problemas
Nos dias em que queres levar alguém para casa, dar uma festa ou discordas dos teus pais sobre algo, podes sentir-te farto das circunstâncias em que vives. Embora fazer uma mudança radical, como sair de casa, possa ser uma opção, reenquadrar o que pensas é outra forma de assumir o controlo desta situação.
Uma reflexão diária sobre o que correu bem durante o dia cria equilíbrio nas nossas experiências. Podes simplesmente pensar nestas coisas ou apontar algumas. As coisas más tornam-se um mero contexto do dia, não o seu ponto central. Isto ajuda-te a criar resistência e a lidar mais eficazmente com estes desafios.
E, se possível, partilha com a tua família as razões pelas quais estás grato. Isto pode afectar positivamente os outros, criando um sentimento de aconchego.
Senta-te à mesa com eles
Quando os realizadores de cinema querem retratar a felicidade através de uma ligação humana profunda, normalmente mostram pessoas sentadas à volta de uma mesa a comer, a beber e a falar com entusiasmo.
É verdade que comer em conjunto é um óptimo ritual social e pode aproximar as pessoas. Entre os chimpanzés, a partilha de alimentos está associada à libertação de oxitocina, uma hormona que é conhecida por ajudar os humanos a criar laços uns com os outros.
Numa época em que toda a gente tem pouco tempo, encontrar tempo para comer em conjunto pode parecer uma tarefa difícil. Mas só precisas de alguns minutos para partilhar uma tigela de cereais com os teus pais de manhã, ou uma sopa rápida à noite.
Além disso, comer com outras pessoas está associado a benefícios para a saúde, incluindo o consumo de alimentos mais nutritivos e uma melhor gestão do peso, quando se compara com o acto de comer sozinho.
Saborear o tempo
Passar tempo com as pessoas de quem gostas é uma forma poderosa de mostrar que te preocupas. Se partilharem tempo de qualidade, ou se saborearem o tempo que passam juntos, a vossa relação ainda vai melhorar mais.
Saborear é um processo através do qual aumentamos a intensidade das experiências positivas. Podemos saborear acontecimentos passados (por exemplo, revendo álbuns de fotografias antigas), o presente (desfrutando de uma actividade em conjunto) e até o futuro (por exemplo, antevendo coisas boas que estão para vir ou planeando umas férias).
Tudo isto nos pode ajudar a tornarmo-nos mais positivos e a sentirmo-nos mais próximos das pessoas de quem gostamos. Se sofres de depressão ou de uma doença física, há provas de que saborear experiências positivas pode também reduzir os sintomas.
Sê gentil
Os pequenos actos de gentileza ou bondade beneficiam tanto quem os pratica como quem os recebe, aumentando a felicidade e a auto-estima (isto é, a forma como nos vemos a nós próprios).
Para além dos benefícios psicológicos, a bondade pode melhorar o nosso bem-estar físico. Pode reduzir a dor em adultos com doenças crónicas, diminuir o stress e aumentar a oxitocina.
Podemos praticar actos de bondade de muitas maneiras. Procura oportunidades durante o dia em que possas ajudar os teus pais a carregar um saco de compras, fazer-lhes uma chávena de chá ou dar-lhes um sorriso genuíno, por exemplo. Também podes dedicar algum tempo a ajudá-los com alguma coisa, como um problema que estejam a ter com o seu smartphone ou computador.
Pratica a independência
O início e meados dos 20 anos é geralmente a altura em que os jovens fazem a transição para a independência total. Mas, nos últimos anos, esta transição tem sido adiada para muitos jovens, principalmente devido ao prolongamento da escolaridade e à dificuldade em encontrar um emprego bem remunerado.
Apesar deste desafio, há muito que os jovens que vivem com os pais podem fazer para desenvolver a sua independência e reforçar a sua capacidade de resistência emocional. Encontram-se numa posição única em que podem participar na vida adulta, mas têm a segurança das suas casas para onde voltar. Ficar em casa com os pais também pode contribuir para o desenvolvimento da independência financeira, proporcionando muitas vezes uma capacidade adicional para poupar dinheiro.
Mas também é uma boa ideia passares algum tempo longe dos teus pais, seja desenvolvendo passatempos, estabelecendo contactos sociais ou acrescentando valor à sociedade, por exemplo, através do voluntariado. Estas actividades podem melhorar o teu bem-estar, fazer-te sentir mais autónomo e ajudar-te a enfrentar melhor os desafios. Podem também ajudar os teus pais a sentirem-se melhor ao deixarem-te entrar neste mundo imenso e vasto.
Em breve, poderás ter uma relação madura com os teus pais baseada no respeito mútuo. Uma relação que permitirá esquecer a angústia da adolescência e criar um caminho para a amizade genuína com os teus pais — onde passam tempo uns com os outros não apenas porque têm de o fazer, mas porque querem.
Exclusivo PÚBLICO/The Conversation
Jolanta Burke é professora no Centro para a Psicologia Positiva e Saúde na Universidade de Medicina e Ciências da Saúde, na Irlanda