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Inês fez um retrato intimista da comunidade drag queen portuguesa
Inês Ventura já fotografou artistas drag de Lisboa, Leiria e Porto, mas não pretende parar por aí. Até ao final do ano, o projecto Queens vai continuar a crescer até se transformar num livro.
"Existem tantas ideias de drag queens quantas artistas há." Foi para demonstrar que existe uma enorme diversidade dentro desse universo que a fotógrafa Inês Ventura decidiu, em 2021, mergulhar no seu glamoroso mundo e criar o projecto Queens, que reúne retratos de sete artistas drag de três cidades do país. "Já existem muitos projectos, e bem feitos, sobre esta esta comunidade e expressão artística", observa durante uma conversa com o P3. "Eu queria fazer algo diferente, quis dar outra roupagem ao projecto, e mostrar ao mundo que um artista drag é mais do que um homem que veste roupas de mulher e faz performances."
Mas como fazer algo que considerasse completamente diferente? Foi com a ajuda do fotojornalista Mário Cruz, no contexto da masterclass Narrativa, que Inês encontrou a resposta que procurava: "Trazendo a voz dos artistas para o trabalho", explica. "Utilizei vários formatos fotográficos. Incluí no projecto fotografias de arquivo das artistas até imagens feitas por elas com recurso a câmaras descartáveis que eu própria lhes forneci." Chegou mesmo a devolver-lhes algumas das fotografias impressas para que elas pudessem desenhar ou escrever sobre as imagens, anotando algo de pessoal. "Retratei sete artistas, de faixas etárias e geografias muito diferentes — Porto, Lisboa e Leiria." Mas o projecto ainda não está concluído. "Este é um trabalho colaborativo que pretendo terminar até ao final de 2023, altura em que tenciono transformá-lo em fotolivro."
Ao longo do desenvolvimento do projecto, em contacto com Alejandro Beauty, Naomy Beauty, Karvel Kina e Stefani Duvet, em Lisboa, com Cherry Flavor, em Leiria, Nany Petrova, Allan Lynn e Katy Wandolly, no Porto, a fotógrafa de 39 anos, natural de Oeiras, descobriu "um mundo completamente diferente".
"Um mundo altamente colorido, cheio de glamour. Mas não só. Vi também muita entreajuda e paixão. Encontrei pessoas que são drag estritamente por amor à expressão artística, porque não têm grandes condições para sê-lo a tempo inteiro. Ou seja, elas têm os seus trabalhos, não vivem da sua arte, mas continuam a actuar." Uma das artistas que fotografou é Nany Petrova, "que apesar dos 75 anos continua a actuar duas vezes por semana e a sentir paixão pelo que faz". "Isso acaba por ser muito inspirador. Passei meses a 'fazer piscinas' pelo país, mas foi muito recompensador."
Queens esteve em exposição no espaço Narrativa, em Lisboa, e Inês Ventura, formada em Psicologia Aplicada com especialização em Recursos Humanos, espera poder levá-lo até outras paragens, "sobretudo às cidades onde as pessoas foram retratadas". "Não creio que um trabalho vá mudar alguma coisa, mas o que gostaria que este trabalho trouxesse era diálogo entre as pessoas", conclui. "Todos temos as nossas vivências, todas elas humanas, e eu gostaria que este trabalho fosse uma ponte para essa partilha."