As estrelas são realmente “iguais a nós”, como diz o ditado? Na verdade, não. Pelo menos na maior parte do tempo. Mas a deusa da música pop Taylor Swift teve um momento nitidamente mortal em palco, durante uma actuação no fim-de-semana passado, na sua esgotada digressão Eras.
A certa altura, Swift desatou num ataque de tosse, informando os fãs de que um insecto tinha entrado na sua boca impecavelmente pintada com batom, sem ser solicitado e sem ser coreografado. Ela pareceu levar o assunto a sério e imediatamente declarou que o lanche-surpresa era “delicioso”.
Ainda fingiu um pouco de embaraço: “Há alguma hipótese de nenhum de vocês ter visto isto?...”, perguntou, e depois assegurou à multidão que não estava ferida. “Está tudo bem, é tudo, é — eu engoli-o.”
“Por isso, vou tentar não voltar a engolir nenhum”, disse, quando a tosse parou. Mas sem grande confiança: “Isto vai acontecer outra vez esta noite. Há tantos insectos. Há milhares deles. De qualquer forma, isto foi divertido.”
Os encontros da maioria das pessoas com insectos não são notícia. Mas é claro que o de Swift foi. Os vídeos do momento foram amplamente partilhados nas redes sociais, com as pessoas a brincarem com a sorte do insecto. (“Dá para acreditar que um insecto foi à digressão Eras e conheceu a Taylor Swift e eu não???”, escreveu um fã.)
Mas é aqui que — pelo menos naquele momento — nós, terráqueos, temos algo em comum com a estrela pop: todos nós comemos insectos. Tipo, a toda a hora. Quer os apanhemos na respiração, como Swift fez, quer os comamos na nossa comida, é comum as pessoas ingerirem insectos.
“Os insectos estão em todo o lado”, diz Jerome Grant, professor de Entomologia, especialidade da biologia que estuda insectos, na Universidade do Tennessee (EUA). “Fazem parte das nossas vidas. Não vão a lado nenhum, e nós não vamos a lado nenhum, por isso temos de aprender a viver com eles, mesmo que isso signifique engoli-los por vezes.”
A maior parte deles, especialmente os que normalmente inalamos ou ingerimos através da nossa comida, são totalmente inofensivos, diz o professor. Algumas pessoas podem ter alergias desencadeadas por baratas ou pelas escamas (que são estruturas semelhantes a asas) das traças, observa, mas é preciso consumi-las em grandes quantidades para se notar. As pessoas com alergias a mariscos têm mais probabilidades de ter reacções a insectos porque os insectos pertencem ao filo Arthropoda (dos artrópodes), que se refere aos seus “apêndices articulados”, que são como os dos camarões, lagostas e lagostins.
Mas, em geral, para a maioria das pessoas? “Apenas um pouco de proteína extra”, diz Grant.
É difícil determinar quantos insectos estamos realmente a consumir regularmente.
Grant já viu estimativas na Internet que afirmam que as pessoas comem entre meio quilo e um quilo de insectos por ano, uma possibilidade que tem sido repetida em publicações como o The New York Times e até a Scientific American. Mas isto parece-lhe extremamente improvável. Um insecto pesa, em média, 2,5 a 3 miligramas, o que significa que, para chegar a um quilo, seria necessário consumir mais de 300 mil insectos por ano. E, assevera, ninguém come mais de 800 insectos por dia.
Também não está convencido com os relatos de pessoas que acidentalmente respiram grandes quantidades de insectos enquanto dormem, o que, na sua opinião, provavelmente as acordaria. “Conhece alguém que tenha comido uma aranha enquanto dormia?”, pergunta.
O Departamento de Agricultura dos EUA indicou que a estimativa de meio a um quilo por ano é muito exagerada. “Prevê-se que se coma até um quilo de insectos durante a vida — por acidente, claro”, escreveu o departamento numa página sobre insectos escrita para crianças.
Para se ter uma ideia de como isso pode acontecer, existe o Food Defect Levels Handbook da FDA, que pode ser um dos documentos governamentais mais aterradores que existem. Basicamente, descreve a quantidade de coisas nojentas — tudo, desde pedaços de insectos a pêlos de roedores e beatas de cigarro — que é permitida em vários alimentos. Na farinha de milho, por exemplo, é permitido ter um insecto inteiro ou 25 fragmentos de insectos em cada 50 gramas, ou seja, cerca de um quarto de chávena. Nos sumos de citrinos, são permitidos cinco ovos de mosca ou uma larva por chávena. A farinha de trigo pode ter 75 ou mais fragmentos de insectos em cada meia chávena.
Portanto, são estas as coisas que (podem) estar na nossa comida (embora seja importante notar que estes são os limites máximos permitidos, não que os insectos estejam realmente presentes nessas quantidades). E muitas pessoas em todo o mundo comem insectos de propósito.
Além disso, há aqueles que se inalam, à la Swift. Isso acontece muito raramente, aponta Grant, e normalmente sabe-se quando acontece. Ele calcula, apenas como medida anedótica, que inalou insectos duas ou três vezes no último ano. Se estiver muito tempo ao ar livre, pode aspirar mais; os motociclistas e ciclistas, assim como as pessoas que passam muito tempo a cortar relva, têm mais probabilidades de os encontrar. E as suas probabilidades aumentam em locais onde as luzes os atraem, como num jogo de basebol ou num concerto ao ar livre.
Grant comenta que Swift ofereceu o modelo perfeito para lidar com um insecto que — aconteça o que acontecer — encontrou o seu caminho para a sua boca. “Ela não exagerou”, diz ele. “Fez uma piada e até a transformou em algo positivo para os seus fãs.” E observa que Swift parece ter sobrevivido à provação sem perder o ritmo. “Ela parece estar bem agora!”
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução: Carla B. Ribeiro