Apelar ao público mais jovem e apreciador de actividades ao ar livre. A estratégia da Dacia para a colecção Extreme inclui nova roupagem para os modelos Sandero Stepway, Duster, Jogger e para o eléctrico Spring, citadino cuja potência sobe dos 45 para os 65cv.
Mas não são apenas os modelos que já conhecemos que se apresentam de cara lavada, numa operação de cosmética que reforça o posicionamento da marca líder de mercado nos ligeiros de passageiros em Portugal junto do público mais jovem.
Além de novas cores e de materiais interiores concebidos para serem práticos de usar e manter (tapetes de borracha, tecidos resistentes a nódoas), há um conjunto alargado de acessórios virados para o campismo que tem como principal novidade uma cama para instalar dentro do modelo Jogger. Trata-se de uma caixa feita de compósito de madeira que se monta como um lego e que, aberta dentro do carro, serve de cama para dois. Este Sleep Pack custa cerca de 1550 euros e pode ser comprado à parte para todos os Jogger já no mercado (neste caso, por 1850 euros).
A cama é relativamente fácil de montar e parte da caixa pode ser usada como mesa de refeições, um sistema engenhoso que, ainda assim, exige duas pessoas para carregar e manobrar os 50 quilos de peso. E, sim, a cama inclui um colchão; além disso, o Sleep Pack pode ser complementado por uma tenda avançada que se acopla à traseira, estendendo o conjunto até quase 10 metros de comprimento.
A gama Extreme não é apenas para mostrar. Ela inclui de série um sistema de controlo de tracção para pisos em terra, neve ou lama no Sandero Stepway (a partir de 19.299 euros) e no Jogger (a partir de 20.750 euros). Estas melhorias tecnológicas de aderência têm continuidade no Duster (a partir de 21.650 euros), com a disponibilidade da opção 4x4.
Tivemos a oportunidade de conduzir o Sandero Stepway (110cv) e o Jogger Híbrido (140cv) — com caixa automática CVT — nas estradas rurais nos arredores de Viena, na Áustria, durante a apresentação internacional. O fora de estrada foi bastante curto, pelo que teremos de guardar a experiência do sistema de tracção Extended Grip para outra oportunidade. No alcatrão, estes Extreme são os Dacia que já conhecemos, mas com as tais novas cores e materiais.
Fáceis de conduzir, têm motorizações adequadas às necessidades da esmagadora maioria dos consumidores que fazem por cumprir com as regras de trânsito. As comodidades, como é habitual, são as justas para o preço; os Dacia são conhecidos por se concentrarem no essencial, com motores despachados e tecnologia de condução, eliminando luxos e alguns detalhes de conforto — nota-se, por exemplo, a ausência de coisas como pegas para as mãos ou de regulação na altura do volante.
Poucos quilómetros a andar devagar
Todos os motores estão disponíveis com as novas versões, excepto no Spring Extreme, a única nova motorização apresentada neste lançamento. O citadino eléctrico segue a batuta da versão de 45cv, mas tem agora 65cv, graças a melhoramentos na tecnologia do motor eléctrico.
O Spring Extreme continua espartano, mas confortável, com o interior a apresentar boa habitabilidade, sem poupar nas ajudas de condução e tecnologia: câmara traseira e um sistema multimédia bastante completo são apenas dois exemplos. Transporta quatro passageiros sem espaço de sobra, nomeadamente atrás, onde não é preciso ser-se muito alto para sentir o tejadilho demasiado perto da cabeça.
Este pequeno SUV vem equipado com a mesma bateria da versão de 45cv (de 26,8 kWh) e anuncia uma autonomia de 220 km em ciclo misto e 305 km no ciclo urbano (WLTP), o suficiente para vários dias de utilização, diz a marca. Os 110 mil Spring já vendidos permitem à Dacia saber que os clientes percorrem uma média de 31 km por dia, a uma velocidade de 26 km/h. E que, em 75% dos casos, recarregam o automóvel em casa (em 66% dos casos a partir de uma tomada doméstica).
Estes dados justificam a manutenção da bateria no Dacia Spring Extreme (65cv), com resultados adequados e realistas para a utilização diária em cidade. No nosso teste de cerca de 100 quilómetros em trajecto misto fizemos um (óptimo) consumo médio de 10,6 kWh, o que bate certo com as contas da Dacia.
Em cidade é um carro confortável e bastante competente na saída dos semáforos e nas mudanças de faixa de rodagem, ainda que os mais de dois mil euros de diferença em relação ao modelo com 45cv sejam de ponderar; ou seja, não ficámos certos se se justifica a diferença de desempenho. Por 22 mil euros, o Spring Extreme passa então a ser o segundo eléctrico mais barato à venda em Portugal — o primeiro é a versão de 45cv, por cerca de 20 mil euros. O equilíbrio entre o preço e a qualidade geral dos carros é, sem dúvida, o grande atributo da Dacia.
Piscar o olho aos mais jovens
Fomos experimentar a nova linha Extreme a Viena, na semana passada, uma cidade onde é raro ver um Dacia. Não será por acaso: a Áustria tem um número de habitantes ligeiramente inferior ao de Portugal (menos um milhão, aproximadamente), mas o dobro do Produto Interno Bruto, ou seja, é um país com bolsos mais fundos.
Em Portugal, a Dacia já é líder de mercado nos ligeiros de passageiros e vê as encomendas de carros também a crescer no segmento empresarial, como nos explicou o director-geral da marca Portugal. José Pedro Neves entende que o contexto económico e a maior “racionalidade” do consumidor português têm contribuído para isso: “Tal como já acontecia em França e noutros países, com outra cultura, que quase têm orgulho de dizer, ‘eu tenho um Dacia’ porque faço uma escolha racional. E depois a Dacia tem aquilo que nós consideramos, no mundo automóvel, que responde a dois dos principais critérios na aquisição de um automóvel: preço e design.”
Em relação às empresas — que têm hoje para gastar com a frota automóvel o mesmo valor de há uns anos —, as opções Bi-Fuel (GPL e gasolina) da gama e a política de preço fixo (a Dacia não pratica descontos) são, no entender de José Pedro Neves, duas mais-valias que justificam a procura pelos carros da marca romena do Grupo Renault.
O nível de interesse por parte dos consumidores mais jovens é outra das vertentes sublinhadas, com os grupos etários compreendidos entre os 18 e os 45 anos a representarem mais de metade do volume de vendas em Portugal. Foi para eles que a Dacia fez a série Extreme, a piscar o olho à “ideia de outdoor, a ideia da natureza”, diz ao PÚBLICO o director-geral da Dacia Portugal.
José Pedro Neves é realista e não espera vendas massivas da tal caixa/cama que equipa o Jogger, mas sublinha a importância deste opcional no posicionamento da marca e acredita que “vai haver um nicho de mercado para isso”. O Sleep Pack vai ser apresentado em breve em Portugal e estará disponível para demonstração na rede de concessionários da Dacia.