Atrás das pragas e doenças do arroz na Guiné-Bissau

É um trabalho pelos recantos da costa da Guiné-Bissau, com o propósito de identificar as limitações de produtividade do arroz de mangal provocadas pela presença de pragas e doenças na cultura.

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A investigadora Sofia Conde na Guiné-Bissau, onde estuda as pragas e doenças da cultura do arroz DR
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O meu doutoramento passa-se na Guiné-Bissau, um pequeno e magnífico país encaixado na costa ocidental africana, entre crianças e agricultores, partilhas e muito conhecimento local de gerações. Mais propriamente no estudo de pragas e doenças do arroz de mangal, produzido em diferentes regiões costeiras, repletas de um incrível ecossistema que são os mangais. Um estilo de produção de arroz brilhante e muito característico desta zona.

Encontro-me no 3º ano de doutoramento e nestes últimos anos tive o prazer de viver lado a lado com as pessoas locais de 13 diferentes aldeias, entre diferentes etnias e realidades muito distintas das nossas. Tive a oportunidade de aprender e de partilhar conhecimentos.

Em trabalho com os agricultores locais, foi-lhes proporcionado pequenos cursos sobre a entomologia e a patologia agrícola, o que outrora eram tudo “bitchus” passaram a ter um número de patas certo e características específicas, permitindo um diálogo mais fluído. A estas 13 aldeias levamos painéis solares, materiais escolares, bicicletas e até tablets. O que para nós é banal, a criação de uma rede Whatsapp entre todos, foi um grande avanço para cada um (quando a fraca rede assim o permite).

Treze aldeias, 30 agricultores

No último ano, antes do início das sementeiras do arroz, ainda na época seca, de norte a sul do país, percorrendo cada uma das 13 aldeias em estudo, foram recolhidas várias amostras de arroz de 30 agricultores, considerando as diferentes variedades e estruturas de armazenamento.

De volta à capital, em Bissau, no Laboratório de Proteção Vegetal, estas amostras foram analisadas com o objetivo de isolar e identificar fungos potencialmente patogénicos e prejudiciais para saúde, identificar pragas associadas ao armazenamento e de determinar taxas de germinação das sementes. Os fungos e os insetos, devidamente isolados, viajaram até Portugal, onde o seu ADN foi extraído e sequenciado para uma correta identificação.

Com o início das sementeiras, iniciou-se o ciclo da cultura do arroz e, com este, uma forte prospeção ao nível das pragas e das doenças em diferentes fases do ciclo, em diferentes aldeias, entre as três regiões. Delinearam-se dois métodos de amostragem distintos e debaixo do tórrido e húmido calor, recolhidos dados até ao início das colheitas, meados de dezembro. Estes dados estão agora em processamento por forma a identificar quais os insetos e microrganismos que atuam como praga/doença, analisando a respetiva presença, intensidade, severidade e danos causados.

A Guiné-Bissau é um país único com pessoas únicas. Cientificamente, costumo denomina-lo como um “buraco escuro”, onde quase nada existe estudado. Um desafio maior para quem quer desenvolver trabalho pela escassa informação base. Mas também uma oportunidade de contribuir para o país e dar a conhecer ao mundo os seus recantos e particularidades.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

Estudante de doutoramento no Centro de Estudos Florestais (CEF), laboratório associado TERRA, Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa

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