O arrependimento torna-nos mais fortes? O bestseller Daniel H. Pink diz que sim

Será o arrependimento a emoção catalisadora do progresso? O Poder do Arrependimento defende que sim.

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Para Daniel Pink, o arrependimento molda a nossa vida Ponomariova_Maria/Getty Images
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As primeiras páginas do novo livro de Daniel H. Pink, dedicado à prevalência do arrependimento nas emoções humanas, relatam o episódio em que o compositor Charles Dumont e o letrista Michel Vaucaire visitam Edith Piaf para lhe apresentarem a canção Non, je ne regrette rien. As páginas seguintes são dedicadas a quem manda tatuar no seu corpo “no regrets”. Mr. Pink haverá ainda de contar o caso bem-humorado de alguém se arrepender da sua tatuagem contra o arrependimento. Mr. Pink pretende convencer-nos a enfrentar essa emoção tão desconfortável.

Combinando dados no domínio dos estudos comportamentais com tendências no mundo do trabalho e dos negócios, Daniel H. Pink é um dos autores mais eficazes de livros de auto-ajuda. Tendo-se dedicado à motivação no trabalho, assim como aos mecanismos que acompanham a tomada de decisões, o seu sucesso deve-se, antes de mais, a não se amedrontar com temas óbvios que dormitam no nosso senso comum.

Defendendo o arrependimento como um estágio determinante para o desenvolvimento (não apenas o de uma criança que desperta para a responsabilidade dos seus actos, mas também num adulto compelido a assumir as suas decisões como causa do seu sofrimento), Mr. Pink vem sublinhar a influência do “pensamento contrafactual” no nosso crescimento: uma história alternativa aos factos reais (“se ao menos eu tivesse agido de outra maneira”) tanto pode ser torturante como servir de inspiração para aguçar o nosso comportamento no futuro.

A capacidade de tomar melhores decisões, usando o arrependimento como aprendizagem, é ilustrada pelo caso dos jovens investigadores que se candidataram à bolsa National Institutes of Health: os que a perderam por pouco vieram a ter carreiras mais bem-sucedidas do que os vencedores. Segundo Mr. Pink, os caminhos indirectos permitem “alcançar o significado das coisas com maior rapidez”. Reconhecemos mais sentido num benefício de que fomos privados. Esse aprofundamento da “experiência de significação” provocará “a sua constante procura”.

Para Mr. Pink, o arrependimento molda a nossa história de vida. Tomando de empréstimo o conceito de estruturas profundas, que foi encontrar nos estudos linguísticos de Noam Chomsky, divide as histórias de arrependimento em quatro categorias: de base; por falta de coragem; moral; e relacional. O arrependimento de base, que compara ao dilema da formiga e da cigarra, prende-se com decisões que têm um impacto de longo alcance. Tornam-se difíceis ou mesmo impossíveis de reparar. Orientam as nossas capacidades e habilitações, assim como o rumo das nossas vidas. No caso do arrependimento por falta de coragem, a sua importância deve-se à tendência para nos arrependermos mais do que não fizemos. Perdoamo-nos mais facilmente por tentar, mesmo quando falhamos. As três ultimas categorias de arrependimento apontam para a importância que damos ao nosso comportamento no fortalecimento ou no enfraquecimento de nós mesmos, dos valores em que funcionamos colectivamente e da afectividade que construímos com os outros.

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Daniel Pink Riccardo S. Savi/Getty Images

Aceitando que para se tornar construtivo o arrependimento implica uma mudança, o autor propõe três passos familiares à ética cristã: a auto-revelação (ou seja, a confissão); a autocompaixão (o perdão, neste caso de si mesmo); e o autodistanciamento (a capacidade de avaliar o nosso comportamento num plano superior aos interesses do momento). Citando uma investigação de Sonja Lyubomirsky, sobre os “custos e benefícios de escrever, falar e pensar sobre vitórias e derrotas”, conclui que o sentimento de recompensa que se retira de abordar falhanços é superior a vangloriarmo-nos das conquistas. Ao propor estratégias de autodistanciamento para evitar arrependimentos futuros, ou pelo menos atenuar o seu impacto, assinala também a importância de aprender a distinguir os arrependimentos estruturais dos outros, mais superficiais, que apenas geram estados transitórios de insatisfação.

Os cínicos dirão que Mr. Pink nos hipnotiza com o senso comum para servir a habitual tábua de boas práticas para o sucesso, mas ignoram o seu trabalho de formiguinha, que consiste em escrutinar, com base num impressionante levantamento de estudos científicos e um grande arsenal de histórias de vida, as práticas comuns que se revelam compensadoras, por oposição a outras em que o azar, ou a maldição, nos parecem perseguir. E não se pode negligenciar a avaliação que o leitor vai fazendo de si mesmo, nas entrelinhas do livro, enquanto se deixa organizar pela estruturação do pensamento proposta pelo autor.

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