No País dos arquitectos: Mima Housing, a missão da arquitectura e do papel do arquitecto
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No 57.º episódio do podcast “No País dos Arquitectos”, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com os arquitectos Marta Brandão e Mário Rebelo de Sousa, do gabinete Mima Housing Architects, sobre o sistema Mima.
O gabinete situa-se em Afife (Viana do Castelo) e os arquitectos revelam que é “um bocadinho diferente” de “um gabinete de arquitectura tradicional”. O piso térreo funciona como test-living e o piso inferior como escritório: “Nós queríamos dar às pessoas a possibilidade de testarem a casa, da mesma forma que um comprador de um potencial automóvel testa o automóvel antes de decidir comprá-lo.”
A arquitecta Marta Brandão explica como funciona o processo do sistema arquitectónico: “Nós fazemos sempre os projectos à medida de cada cliente e de cada terreno. Ou seja, o processo é, no fundo, um processo de desenho de arquitectura tradicional, mas simplificado. É mais rápido e os clientes não sofrem tanto com o processo burocrático.” A par desta ideia, Mário Sousa acrescenta: “A nossa arquitectura está muito perto do design de produto (...). Com o nosso sistema (...) tudo tem de estar super coordenado: a venda, o desenho, a execução e os licenciamentos.”
Para comunicarem melhor “a experiência da casa” com o cliente, os arquitectos adaptaram o próprio desenho: “Nós desenhamos as casas em papel quadriculado e desenhamos (...) de forma muito simplificada e intuitiva. As perspectivas são feitas à mão, num papel A4.” Os arquitectos afirmam que nesse diálogo não existe a “personagem arquitecto” e a “personagem cliente”: “É muito mais fácil que assim o cliente se sinta à vontade (...) e nós fazemos as alterações ainda em esquisso, que é uma coisa que cada vez menos os arquitectos utilizam.” Neste momento, o Mima Housing está também a desenvolver um software que permitirá “encontrar todas as possibilidades de combinações possíveis” numa casa: “Nunca começamos do zero. Temos sempre uma grelha.” O sistema oferece soluções “customizadas” e existe uma “métrica” que permite visualizar como “será o espaço da casa numa fase muito inicial do projecto.” Uma curiosidade: os arquitectos referem ainda que “90% das regras” hoje utilizadas “na arquitectura do Mima” são as que se encontram no jogo The Sims.
Para além das duas aplicações existentes do sistema Mima – “uma para os detalhes construtivos” e outra “para fazer as casas a nível volumétrico” –, Mário Sousa informa que existe uma terceira que estão a desenvolver “só para as fachadas de edifícios grandes”: “Nós encontrámos um padrão (...) e tentámos parametrizá-lo e replicá-lo numa tecnologia onde, [ao] movermos planos, conseguimos recriar aquela arquitectura que achamos que é boa e que é eterna (...). Estamos a começar a utilizar [essa aplicação] internamente para [realizar] testes e fazer edifícios maiores sobretudo na [arquitectura] residencial.”
Entre os clientes do Mima Housing está Philippe Starck. Os arquitectos lembram que a primeira abordagem que o gabinete teve com o designer foi “engraçada”, pois a pessoa que tratava da correspondência do Mima Housing não sabia quem era Philippe Stark e respondeu ao seu e-mail como se fosse “um cliente normal”: “O Philippe Starck perguntou-nos se poderíamos ir ter com ele a uma reunião, e [essa pessoa respondeu]: «Não porque nós não vamos a reuniões com clientes.» Marta Brandão, olhando em retrospectiva, pensa que talvez tenha sido isso mesmo que o cativou: “Ele é uma pessoa extremamente astuta e fez uma validação muito importante ao sistema Mima e ao nosso processo porque absorveu-o e transformou-o para fazer a sua casa própria (...). [Digo isto por ser] uma pessoa tão experiente, culta, inteligente e ter olhado para o nosso projecto, para o nosso processo (...) e tê-lo achado genial.”
No final da conversa, os arquitectos, que trabalharam na Suíça, acabam por verificar que em Portugal ainda falta a componente prática nas universidades de arquitectura: “Os alunos na Suíça, a meio do ano lectivo, vão fazer um estágio profissional e ali confrontam-se com a realidade (...). E nas escolas [portuguesas] não há este tipo de ensino. Há competitividade. Nós competimos muito uns com os outros. Isso é importante, mas acho que também nos formatam muito para sermos os próximos ‘Sizas’ ou os próximos ‘Soutos de Mouras’ e há outros caminhos.”
Para conhecer mais sobre o sistema Mima e outras histórias do percurso de Marta Brandão e Mário Sousa, ouça a entrevista na íntegra.
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