Num sketch do "Saturday Night Live", "The Continental", Christopher Walken interpretava um pretensioso engatatão que tentava seduzir mulheres com a sua falsa sofisticação europeia. "Champanhe", diz ele num episódio, estendendo a pronúncia para "sham-pan-ya", "não é champanhe a não ser que venha da província de Champagne. Aprendi isso na escola de barmen".
A frase de Walken cai bem no curioso incidente internacional, decorrido na semana passada, em que as autoridades belgas destruíram um carregamento de cerveja dos EUA, a Miller High Life, a pedido do Comité Champagne, uma organização que se dedica a proteger as bolhas homónimas. A alfândega belga apreendeu, em Fevereiro, 2352 latas da marca de cerveja americana - que há muito comercializa o líquido como "o champanhe das cervejas" - que seguiam de Antuérpia para um comprador anónimo na Alemanha, segundo um comunicado de imprensa do Comité Champagne.
As latas com esse slogan foram esvaziadas e esmagadas depois de a organização se ter queixado de que violavam as regras de "denominação de origem" da União Europeia que regem vários produtos agrícolas. Para que uma garrafa de espumante possa ser rotulada como champanhe, tem de ser fabricada em Champagne, França, e produzida segundo o método tradicional champenoise.
Charles Goemaere, director-geral do Comité Champagne, afirmou que a destruição da cerveja "confirma a importância que a União Europeia atribui às denominações de origem e recompensa a determinação dos produtores de champanhe em proteger a sua denominação".
Num comunicado, a Molson Coors recordou que utiliza o slogan há mais de um século. É claro que respeitamos as restrições locais relativas à palavra "champanhe", mas continuamos orgulhosos da Miller High Life, da sua alcunha e da sua origem em Milwaukee, Wisconsin", lê-se no comunicado. "Convidamos os nossos amigos da Europa a virem aos EUA em qualquer altura para brindarmos juntos à High Life".
De 1906 a 1969, a Miller High Life foi comercializada como "O Champanhe das Cervejas de Garrafa", como um aceno para a forma da sua garrafa, adaptada de garrafas de vinho. Em 1969, a empresa encurtou o nome para simplesmente "The Champagne of Beers - O Champanhe das Cervejas".
Há muito que os produtores de champanhe protegem o rótulo. Em 1987, o Comité Champagne processou a Perrier por se chamar "o champanhe das águas minerais". E entre os produtos com o nome que conseguiram esmagar como se fossem uvas estão um perfume da marca de moda de luxo Yves St. Laurent, um iPhone dourado e um iogurte com sabor a champanhe da Suécia.
Para desgosto dos produtores, alguns produtos fabricados nos Estados Unidos, incluindo os de marcas como Korbel e André, podem continuar a chamar-se "champanhe da Califórnia", devido a uma cláusula de anterioridade prevista num acordo de 2005 entre os Estados Unidos e a União Europeia.