No País dos Arquitectos: Edifício Náutico e a sustentabilidade que “deve ser vista”

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A linguagem náutica está reflectida “não só no nome [do edifício] enquanto imagem de marca, mas também na sinalética”
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No 56.º episódio do podcast “No País dos Arquitectos”, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com o arquitecto Tiago Rebelo de Andrade, do Subvert Studio, sobre o Edifício Náutico, em Cascais.

Logo no início da conversa, o arquitecto lembra que no lugar onde agora se encontra o Edifício Náutico existiu outrora uma construção, que ficou devoluta durante mais de 15 anos: “[Era um edifício que] tinha crescido mais dois pisos do que era suposto para aquela volumetria do quarteirão e ficou embargado durante muito tempo”. Tiago Rebelo de Andrade conta que “para resolver o problema”, a Câmara Municipal de Cascais lançou um concurso e um dos promotores desafiou o Subvert Studio a desenvolver o projecto: “Inicialmente, ia ser um edifício de serviço e de habitação, mas a volumetria não o comportava. Como estávamos numa época em que se falava muito da falta de habitação em Portugal, os promotores resolveram mudar o programa (...) e oferecer mais habitação em Cascais.”

O arquitecto refere que, durante o projecto, houve vários elementos do design que foram sendo trabalhados sempre com a ideia de transmitir a relação com o mar e “com aquilo que é náutico”: “Se formos ao Google Maps, marcarmos o local do Edifício Náutico e nos afastarmos, a maior percentagem [de área] que vemos é uma mancha de água azul. [Ao desenvolvermos o projecto], sempre imaginámos as pessoas que estão habituadas ao mar e que gostam daquela zona, como uma vila piscatória.”

A linguagem náutica está reflectida “não só no nome [do edifício] enquanto imagem de marca, mas também na sinalética”. Tiago Rebelo de Andrade partilha algumas curiosidades. Na cor: existe o azul que, segundo o arquitecto, chegou a ser recusado pela autarquia, numa fase inicial do projecto, por considerarem que, em Cascais “não havia o hábito” de utilizar “a cerâmica azul”. Apesar desse primeiro “parecer”, a cerâmica acabou por ser aplicada na fachada do edifício, dando a ideia “do mar picado”. Nos materiais, esse carácter náutico também ficou evidente: nas torneiras da gama Ocean; nas portas com vidros redondos, que remetem para as vigias do navio; no pavimento de madeira Accoya, muito utilizado “nos decks dos cruzeiros”; e “nos próprios pilares que suportam o edifício no exterior”, cuja forma é inspirada “no casco dos navios”.

Durante o processo, o arquitecto recorda que o atelier trabalhou com a indústria no desenvolvimento de algumas ideias e revela que houve “desde a primeira instância” um alinhamento com o cliente. Nesse âmbito, foram desenhados os cobogós (que permitem ventilar o espaço e garantem a privacidade de quem habita no edifício) e as portadas cerâmicas (“que podem ser manualmente abertas ou fechadas, consoante as estações do ano”).

O arquitecto acredita que um dos aspectos mais importantes no momento de projectar é o respeito pelo lugar e defende que “o exercício da arquitectura” não pode ser “egoísta”: “A sustentabilidade deve ser vista (...) no sentido de fazer perceber – os promotores e todos nós que cá estamos – que um edifício tem de resistir.” Algumas destas ideias já tinham sido abordadas pelo arquitecto Luís Rebelo de Andrade, no 20º episódio do podcast “No País dos Arquitectos”. Tanto o pai, como o filho (Tiago Rebelo de Andrade) reconhecem que ninguém é dono da paisagem e consideram que os arquitectos devem ter sempre esse cuidado para que gerações vindouras possam usufruir dos edifícios e da sua arquitectura.

Paralelamente, Tiago Rebelo de Andrade deixa uma nota: “[Este projecto do Edifício Náutico] ensinou-me que é possível – tendo uma certa maneira de estar, acreditando nos nossos valores e não cedendo também a tudo o que nos obrigam a fazer, quer seja com o promotor, ou com as câmaras (...) – executar o que estava na nossa imaginação e o que estava na nossa mesa de desenho.”

No final da conversa, o arquitecto afirma que a equipa do Subvert Studio sempre quis ter “uma espécie de atelier-escola”, que fosse “aberto aos outros arquitectos”: “Penso que os arquitectos, em Portugal, fecham-se muito uns com os outros. Nós não queremos isso. Queremos abrir o espaço, criar dinâmicas, convidar arquitectos para virem falar do seu próprio trabalho (...). Queremos ter um atelier aberto. Acho que [entre] todas as civilizações do mundo – desde a Mesopotâmia até agora –, as que mais evoluíram foram as que mais se abriram às culturas e povos diferentes.”

Para conhecer mais sobre o pensamento do arquitecto Tiago Rebelo de Andrade e o seu espaço pluridisciplinar (Subvert Studio), ouça a entrevista na íntegra.


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