Cinco colegas de casa, um frigorífico e muito drama. Como resolver?

Peritos em organização e colegas de casa explicam como se pode lidar com comida partilhada, restos e o que entra ou não no frigorífico de todos.

Foto
Peritos em organização e colegas de casa explicam como se pode lidar com comida partilhada, restos e o que entra ou não no frigorífico de todos. Getty Images/Manu Vega

Ajax Giwa, estudante universitário em Chicago, vive com quatro colegas de casa há dois anos. Embora, quase sempre, os cinco se dêem muito bem, o frigorífico partilhado continua a ser uma fonte de problemas.

Em particular, Giwa não suporta quando o frigorífico está cheio de restos e vários alimentos, tais como lacticínios ou verduras, que não vão ser comidos antes de se estragarem. Assim, quando Giwa abriu a porta do frigorífico há algumas semanas e viu prateleiras cheias, disparou uma mensagem no chat do grupo de companheiros de casa: "Poderíamos todos olhar para o frigorífico hoje ", com o emoji do gato sorridente.

O grupo ficou em silêncio. Por fim, um colega de casa ofereceu-se para ajudar Giwa a atirar-se a uma limpeza completa. "Eu e o meu colega de casa deitámos fora um saco de lixo inteiro de comida podre e embalagens de take away e reorganizámos tudo", diz Giwa.

O resto do grupo não ficou propriamente agradecido: "No dia seguinte, um colega de casa estava na conversa de grupo a dizer: 'Reparei que o frigorífico foi limpo. Vocês deitaram fora o meu queijo e a minha carne? Atenção, há mais seis pacotes de queijo no frigorífico, e mais carne".

Qualquer pessoa que tenha partilhado casa sabe que a situação de Giwa não é única. O frigorífico, um dos electrodomésticos mais escassos — e valiosos — numa casa cheia de gente, é notoriamente alvo de drama. "Partilhar é muitas vezes complicado, especialmente quando as pessoas têm diferentes orçamentos, valores, preferências pessoais ou estilos de organização", diz Shira Gill, organizadora profissional no Norte da Califórnia. Ainda assim, existem algumas formas simples de mitigar o conflito.

Foto
Manter um frigorífico organizado pode evitar várias discussões. Carolyn Van Houten/The Washington Post

Num caso como o de Giwa, Cynthia Kienzle, fundadora do The Clutter Whisperer em Nova Iorque, recomenda uma lista de artigos comunitários que devem ser reabastecidos com um orçamento de grupo. Saber o que está em stock deverá ajudar a reduzir o stress e os gastos desnecessários.

Outra forma de maximizar o espaço, diz Gill, é removendo produtos de embalagens volumosas e transferindo-os para sacos reutilizáveis. Ela também sugere que se estabeleçam limites claros para que cada colega de casa seja responsável pela sua própria secção do frigorífico. "Tornar o frigorífico o mais simétrico possível, ajustando as prateleiras e armazenando bebidas e condimentos nas portas", explica. "Podes utilizar as gavetas existentes ou adicionar caixas transparentes e rotuladas para dar a cada pessoa o seu próprio espaço de armazenamento."

As irmãs Hannah e Sarah Barnett, que vivem juntas (maioritariamente em harmonia) em Atlanta, falam sobre a eficácia dos rótulos na prevenção de confusões e discussões, especialmente quando se trata de restos. Podes utilizá-los para colocar o teu nome nas coisas que te pertencem, claro, mas também para identificar a data em que um item entrou pela primeira vez no frigorífico. Hannah recorda um incidente em que a sua antiga colega de casa se esqueceu de um recipiente de feijão: "Comecei a abri-lo e pensei que ia desmaiar."

"As pessoas simplesmente não compreendem que quando se põe coisas no frigorífico este não se vai organizar a si próprio", diz Sarah, designer de interiores. "Arranjem uma máquina de etiquetas. São divertidas e muito satisfatórias". (Se parecer um exagero, uma fita adesiva simples resulta na mesma).

Mas mesmo a rotulagem mais meticulosa só irá longe se tu e os teus colegas de casa comunicarem bem, diz Gill. "Tu podes decidir como ages e reages em qualquer situação", diz. "Faz o teu melhor para acabar com o jogo das culpas [e] procura compromissos criativos." Terri Albert, fundadora do The Chicago Organizer, acrescenta que também é fundamental que os companheiros de casa estabeleçam regras sobre o "empréstimo" de comida desde cedo.

Foto
A comunicação é a chave para resolver estas questões. Carolyn Van Houten/The Washington Post

Algumas discordâncias são disparatadas. Por exemplo, Isabella Ballew e Will Griffin, casal que vive junto em Brooklyn, têm uma disputa contínua sobre a compota. "O nosso frigorífico é pequeno e não podemos estar a comprar compotas a torto e a direito mas temos gostos completamente diferentes", diz Ballew. "Ele não gosta de framboesas, o que é uma loucura. Nunca será resolvido."

Outras disputas são mais graves. Charlie Miller, estudante em Chicago, recebeu durante três dias o tratamento do silêncio. Miller e o colega de casa partilhavam as compras do supermercado, mas Miller acabou por perceber que o colega queria comprar mais comida do que ele. Assim, Miller confrontou-o com o excesso de gastos em artigos que muitas vezes acabavam no lixo, explicando que já não queria contribuir para essas despesas desnecessárias.

Não correu bem: Miller lembra-se que "o ambiente no apartamento era tão pesado com este sentimento de traição que eu mal saí do meu quarto. Foi muito constrangedor e confuso".

Após uma conversa honesta (e desculpas de ambos os lados), elaboraram regras mais claras em torno da comida partilhada e quem era responsável por quê. " [Percebemos] no final que a nossa guerra não era tão importante como a nossa amizade e como a saúde da nossa dinâmica em casa", diz Miller.

Uma questão que não está em debate? A segurança alimentar. Aaron Gifford, cozinheiro que vive em Nova Orleães, lembra-se de um cenário de guerra quando partilhou um frigorífico com dez colegas de casa. Embora tivessem dois frigoríficos, limpar a comida esquecida tornava-se frequentemente uma fonte de conflito. Para o bem de todos, Gifford tomou o controlo quando descobriram espinafres fora do prazo.

"Estava prestes a colocá-los no nosso composto, mas um dos meus colegas de casa na altura gritou: 'Não! Não faças isso, ainda podemos usá-lo. Os americanos são tão esbanjadores", recorda Gifford. "O saco de espinafres estava tão estragado que tinha líquido no fundo. Acabei por atirá-lo para o composto por medo de todos nós termos uma intoxicação alimentar com alguma sopa vegetariana com espinafres podres. Não falámos muito depois disso."


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Maxwell Rabb é escritor, crítico de cinema e poeta de Chicago.

Sugerir correcção
Comentar