Brisa (Lucy Alves) vai enfrentar dramas em diferentes áreas da sua vida em Travessia, novela da Globo que vai passar na SIC ainda neste ano. Nos últimos capítulos transmitidos no Brasil, onde estreou no fim do ano passado, a personagem fez dois exames de ADN para provar que é mãe de Tonho (Vicente Alvite), mas ambos deram negativo, mesmo sendo a mãe. Isso ocorre porque a personagem é portadora de quimerismo, uma condição genética rara.
Nos próximos capítulos da novela das 21h, ela descobrirá que tem essa variação em seus genes e que pode ser mãe da criança, mesmo que o teste diga o contrário — Ari (Chay Suede) é o pai.
Marco Antônio de Paula Ramos, médico geneticista e coordenador do Centro de Genética Médica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que o quimerismo é uma condição que ocorre quando o indivíduo apresenta duas linhagens celulares diferentes. “Ou seja, as células são derivadas de dois indivíduos diferentes”, afirma.
“Chamamos de quimerismo verdadeiro ou natural quando ocorre a fusão entre dois zigotos diferentes — células iniciais depois da fecundação”, continua. “Os órgãos são desenvolvidos a partir de duas linhagens celulares.”
Sendo assim, Brisa deve ter fecundado dois embriões diferentes e o útero desenvolveria gémeos. Mas, na evolução da gravidez, os zigotos se fundiram e geraram somente um indivíduo, Tonho. Essa alteração genética é que provoca a incompatibilidade.
Como identificar e sintomas
No caso retratado na trama de Gloria Perez, o especialista indica que Brisa faça mais testes de ADN com outras células do organismo até encontrar a compatibilidade. Além do exame de sangue e de saliva, o material genético pode ser estudado a partir da biópsia de tecidos e de partes da medula.
Ramos também atesta que mais de metade dos casos de quimerismo gera alterações clínicas no indivíduo que foi gerado assim. Partes do corpo com tonalidades diferentes, tipos sanguíneos não compatíveis entre filho e mãe e até diferenciação sexual são alguns dos sinais mais conhecidos.
“Há casos de genitália ambígua, em que os órgãos sexuais não são bem formados e não são claramente femininos ou masculinos”, relata. “São os chamados hermafroditas verdadeiros, que precisam de intervenção cirúrgica.”
Segundo o especialista, os casos de quimerismo são raros na literatura médica por causa da subnotificação. Muitos não chegam a descobrir, ao longo da vida, que possuem essa variação genética. Dados de 2017, da Universidade de Stanford, apontam que existem somente 30 notificações dessa condição em todo mundo.
Além do quimerismo natural, como retratado em Travessia, há casos não naturais ou induzidos, que ocorrem quando os indivíduos acabam recebendo células de outra pessoa — como em transplantes, doações de órgãos e no uso de células-tronco em algum tratamento.
Exclusivo PÚBLICO/Folha de S.Paulo
Nota: o PÚBLICO respeitou a composição do texto original, com excepção de algumas palavras ou expressões não usadas em português de Portugal.