José Duarte, cinco minutos e uma vida no jazz

Foi um espírito livre e não alinhado em relação ao meio jazzístico, e os seus representantes, músicos, programadores e outros, um pouco como um enfant terrible do jazz português.

José Duarte deixou-nos, e com ele partiu um dos principais divulgadores da música de jazz no nosso país, com uma intensa actividade desde os anos 50 do século passado na rádio, imprensa, televisão, e posteriormente também na Internet. O seu desaparecimento é, sem dúvida, uma enorme perda para o jazz português.

José Duarte, ou Jazé Duarte, como gostava de ser conhecido, era um comunicador nato, apostando num estilo pessoal forte, pouco formatado, com um discurso escrito e falado que por vezes fazia lembrar um improviso jazzístico, com liberdade, subjectividade e também com alguma ironia.

Para ele, o jazz sempre foi um espaço de afirmação política, um espaço que promove a liberdade, e em que os direitos de expressão de cada um estão sempre em cima do palco. Talvez por essa razão o Clube Universitário de Jazz, por si criado no final dos anos 50, tenha sido encerrado pelas autoridades.

Uma das suas imagens de marca era, claro, o justamente famoso Cinco Minutos de Jazz, primeiro na Rádio Renascença e posteriormente na Antena 1. A própria ideia desse programa e o seu genial início “1, 2, 1, 2, 3, 4, 5 minutos de jazz” revelam uma sensibilidade muito forte para a questão da comunicação. Uma curta dose diária em prime time, como uma prescrição de um comprimido por dia e não a caixa inteira de uma só vez para ser mais eficaz. Foram anos, décadas, de temas de jazz e breves comentários dirigidos a milhares de ouvintes que dessa forma eram expostos a esta música. Quantas pessoas não terão ouvido jazz pela primeira vez nesse programa?

Com uma personalidade forte, por vezes controversa, gostava do despique e um bom debate sobre o jazz e tudo aquilo que o rodeia. Foi um espírito livre e não alinhado em relação ao meio jazzístico, e os seus representantes, músicos, programadores e outros, um pouco como um enfant terrible do jazz português. Mas terá sempre mantido uma relação de admiração e respeito por todos, concordando ou discordando sobre determinado assunto. Penso que um dos traços que mais o caracterizam é precisamente essa paixão pela música que o levava a confrontar e ser confrontado com opiniões divergentes, numa época e numa geração que não tinha receio de uma salutar controvérsia, desde que fosse frontal, franca e honesta.

O seu legado ficará certamente connosco, nomeadamente na paixão da partilha e difusão deste género musical e que continuará a deixar marcas na sua afirmação no nosso país.

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