Todos os dias na baía de Maya da Tailândia, cerca de 40 tubarões-de-pontas-negras-de-recife cruzam os baixios de águas translúcidas enquanto os 4 mil turistas diários visitam a sua praia de areias brancas ladeada por gigantescos penhascos.
O número de tubarões aumentou depois de anos em que toda a população foi expulsa da baía por hordas de turistas e barcos turísticos, todos ansiosamente interessados em ver o paraíso desabitado em forma de praia tornada especialmente célebre após o filme A Praia [The Beach, 2000, de Danny Boyle, a partir do livro de Alex Garland], protagonizado por Leonardo Di Caprio.
Os tubarões voltaram depois da proibição de turismo e de a pandemia terem impedido os visitantes de invadirem a praia.
No ano passado, as autoridades permitiram que o turismo, com limitações, voltasse. Agora, os conservacionistas dizem que o número de tubarões voltou a diminuir. O eterno dilema: como conciliar a preservação deste ecossistema com a manutenção do turismo, do qual muitos dependem para a sua subsistência.
"Não estamos a propor fechar tudo ou reduzir os números do turismo, acho que estamos todos a falar de conseguir atingir uma gestão sábia", diz Petch Manopawitr, consultor para a vida marinha do Departamento de Parques Nacionais da Tailândia.
Um viveiro de tubarões
Maya Bay fica na ilha de Phi Phi Leh, um mundo de rocha calcária coberta por vegetação verde-esmeralda no Mar de Andaman, ao largo da costa ocidental da Tailândia. Graças à pausa no turismo, diz a investigadora Metavee Chuangcharoendee, a ilha voltou a funcionar como um viveiro para os jovens tubarões.
Ela e outros investigadores do Projecto de Vigilância dos Tubarões de Maya utilizam câmaras subaquáticas e drones para contarem tubarões e observarem o seu comportamento, áreas de alimentação, padrões de reprodução. Num ano, entre Novembro de 2021, quando iniciaram um estudo-piloto, e finais de 2022, registaram uma diminuição do número de tubarões à medida que os turistas regressavam gradualmente.
Os tubarões-de-pontas-negras-de-recife, assim baptizados graças à sua distintiva coloração negra nas barbatanas dorsais e caudas, percorrem o Mar de Andaman e outras regiões tropicais, cada vez em menor número, devido à pesca excessiva, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza.
Vários factores afectam os tubarões em torno da ilha Phi Phi Leh, incluindo os padrões de movimentos sazonais e a actividade humana, caso da pesca, diz Metavee.
Mas com o número de tubarões já a diminuir, as autoridades e os conservacionistas pretendem impedir os turistas de nadarem na baía e expulsarem os tubarões-bebé, que se escondem nos baixios e nos recifes de corais dos adultos mais canibais...
"Esperamos que, com as restrições em vigor, possamos mitigar a perturbação (dos tubarões)". Estamos a fazer esta investigação na esperança de podermos encontrar a melhor forma de gerir e a melhor maneira de o turismo e o ambiente coexistirem", disse Metavee.
Um viveiro de dólares
O turismo é um motor fundamental da economia da Tailândia, sendo responsável por 12% do PIB, pelo menos até à pandemia. Este ano, o turismo do país do sudeste asiático espera conseguir atingir os 1,5 triliões de baht (mais de 40 mil milhões de euros) e pelo menos 30 milhões de visitantes.
Já para o Parque Nacional das Ilhas Phi Phi, as receitas anuais ficaram quase reduzidas para metade: de 638,3 milhões de baht (pouco mais de 17 milhões de euros) em 2018 para 373,6 milhões de baht em 2019, após as autoridades terem encerrado a praia.
A pandemia paralisou ainda mais a indústria, deixando muita gente em sérias dificuldades.
Sob pressão dos operadores turísticos, as autoridades reabriram a praia de Maya em Janeiro de 2022, após quatro anos de encerramento, e os números de visitantes e receitas estão de novo a aumentar de forma constante. Isto apesar de as autoridades terem mantido as restrições de acesso.
Os barcos de turismo têm de atracar no outro lado da ilha e não na praia; os visitantes têm de caminhar até à praia; o número de visitantes permitido a cada hora é limitado a 375, e só podem entrar no mar até a água lhes chegar aos joelhos.
"Se conseguirmos criar uma nova imagem da Maya como reserva natural. Penso que isso também vai criar um novo esquema de turismo e iremos todos beneficiar disse", defendeu o consultor do Departamento de Parques Nacionais.