EUA: comprar clubes também é comprar voto na matéria

Dos 195 clubes total ou parcialmente vendidos desde 2012, 109 foram-no desde 2019, data em que o fenómeno acelerou.

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John Textor com a camisola do Botafogo DR

O investimento em clubes de futebol europeus acelerou nos últimos quatro anos. Dos 195 total ou parcialmente vendidos desde 2012, 109 foram-no desde 2019, e entre os compradores destacou-se um país de origem. Depois da invasão russa (restam dois oligarcas nas cinco grandes Ligas) e da sedução árabe, chegou a avalancha norte-americana, em números muito superiores aos dos antecessores. Entre 2019 e 2022, houve investimento dos Estados Unidos em 79 clubes europeus e a UEFA calcula que isso incluiu um terço dos casos de propriedade cruzada, o modelo que por lá claramente preferem. Depois da investida no Benfica, o famoso John Textor já juntou três clubes aos 40% que detinha do inglês Crystal Palace: Botafogo (Brasil), Lyon (França) e Molenbeek (Bélgica).

Dos 119 cargos de direcção disponíveis na Premier League, 32 são ocupados por norte-americanos, cujo portfólio completo, em todas as divisões, já soma 18 clubes. Em Itália são 12 e em França seis. Em Portugal, os exemplos são Estoril e Casa Pia, cujo proprietário Robert Platek usou uma frase esclarecedora em entrevista ao Expresso: “Se queres fazer dinheiro, compra imóveis. Se te queres divertir, e talvez ter sorte a fazer dinheiro, então vais para o futebol.”

Nem as análises de auditores como a Deloitte explicam bem a racionalidade do negócio enquanto tal, a não ser que os clubes da Major League Soccer são demasiado caros (400 milhões de euros, no mínimo) e que os norte-americanos consideram o futebol europeu comercialmente subvalorizado. Esse é o verdadeiro fantasma das propriedades cruzadas: quando é que os Estados Unidos terão comprado suficiente massa crítica para forçar a competição fechada (sem subidas, nem descidas) que acham essencial?

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