Nas últimas semanas tenho andado a tapar uns buracos da obra de Claude Chabrol. La Décade Prodigieuse (1971), que adapta Ellery Queen, junta Orson Welles e Anthony Perkins, a mesma dupla de O Processo (1962), a Michel Piccoli e Marlène Jobert, que interpreta uma Hélène que parece uma variante das inúmeras personagens que Stéphane Audran compôs para Chabrol. A narrativa e os quadros são dominados pelo volume de Welles, pelo seu corpo e pela sua voz. Mesmo quando ausente do plano ameaça invadi-lo com a sua composição de uma espécie de Deus do qual desconhecemos a verdadeira identidade (como muitos das personagens de Welles) e que inventou para si um passado e um mundo: um filho (que desconhece a verdadeira família) e uma jovem mulher (que protegeu desde a infância), espécie de jardim primordial com promessa de crimes de sangue.
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