O animal de Bárbara Tinoco: “Uma casa com animais não é uma casa vazia”

Conhecê-los é conhecer a relação que têm com os animais. A cantora Bárbara Tinoco adoptou três gatos, Luigi, Al Berto e Rue depois do fim de uma relação.

Foto
Bárbara Tinoco partilha várias imagens dos animais no instagram. Bárbara Tinoco

Nunca tive animais de estimação antes. Os meus pais não deixavam. Aos 21 anos fui morar sozinha e, inicialmente os meus colegas de casa queriam ter um gatinho e eu estava contra. Depois terminei uma relação e dei por mim a ver páginas de adopção de animais. Na altura ficaram um bocadinho preocupados comigo, mas tudo certo. Quando trouxe o terceiro gato, ainda mais preocupados ficaram e depois não me deixaram trazer o quarto. Adoptei-os aos três através da mesma página, a adopta-me, que tem vários animais, de todas as idades e deixa contactar as pessoas muito facilmente. Trouxe os três ainda bebés e agora já estão mais crescidos.

O Luigi, o Al Berto e a Rue. O Luigi Pirandello tem este nome por causa do Super Mario e do meu colega de casa da altura. O Ricardo da Rocha, o meu melhor amigo, é muito mais intelectual que eu e disse que se era para ter um gato chamado Luigi​, tinha de ter o apelido de um dramaturgo italiano. Ele é o mais social, muito dado. As pessoas que vêm cá a casa têm o hábito de dizer que ele parece um cão — um bocadinho mais calmo, mas cão na mesma — e é o único que está constantemente a miar com presenças que não são tão comuns. Depois juntou-se o Al berto, em homenagem ao primeiro poeta homossexual português que, por sinal, é um dos meus poetas preferidos. É o mais tímido dos três e ao mesmo tempo o mais carente. É um gato muito fofinho, mas com pessoas de fora depende muito. Se gostar da pessoa, não a larga, mas se não for com a cara dela, nem sequer o vemos.

A última foi a Rue. Eu queria uma gatinha preta e veio ela. Eu queria que ela se chamasse Adília para manter a onda dos poetas de que gostamos, mas os meus colegas de casa acharam que era um nome antiquado para uma gata e, entre os três, concordámos que ficaria Rue.

Foto
Luígi, Al Berto e Rue são os três gatos de Bárbara Tinoco Bárbara Tinoco

A Rue é mais social que o Al Berto, mas não tanto como o Luigi ​. É mais resguardada. É um estereótipo feio de se dizer, mas ela é mesmo menina. Ela quer atenção, mas não vai pedir; vai esperar que vá lá alguém dar-lhe a atenção que ela precisa.

Há uma história deles que costumo contar muito que mostra como são diferentes. Eles costumam passear nas escadas do prédio. Eu abro a porta, eles saem e depois vou buscá-los. Os vizinhos já sabem e adoram-nos. Só que uma vez eu saí de casa e esqueci-me de os ir buscar, então recebi uma chamada do vizinho a dizer que tinha o Luigi em casa dele, mas que a Rue se tinha negado a entrar. Quando cheguei, o Al Berto andava muito confuso, em casa, sozinho, porque não sai; a Rue estava à porta de casa só à espera e o Luigi andava em casa do vizinho a beber leite como se tivesse novos donos — estava tudo bem.

Eles adoram brincar. Têm imensos brinquedos e usam-nos a praticamente todos. Também não há nada como dar-lhes uma caixa de cartão, cotonetes ou andarmos com alguma coisa no ar para eles saltarem e apanharem. Uma coisa boa é que também brincam imenso uns com os outros. Como vieram todos ainda bebes, cresceram como irmãos e dão-se muito bem.

Não tenho o hábito de os passear, mas durante muito tempo quis fazê-lo. O Al Berto, se eu o tirar da porta para fora entra em pânico e corre para dentro outra vez, mas os outros não e pensei levá-los à rua. Só que não é sequer um hábito que fosse conseguir manter e não sei como é que eles iam reagir à trela, mas se alguém de confiança me dissesse que é na boa, até era capaz de tentar.

Nem tudo é um mar de rosas. Também há algumas asneiras que são peritos em fazer. Se eu deixar um copo em cima da mesa é certo que vão parti-lo. A árvore de Natal já nem sequer existe cá em casa, o que é uma pena porque eu gosto, mas o pior é mesmo o sofá arranhado. Já vou no terceiro. Eles têm os arranhadores e usam-nos, mas não há nada como um bom sofá. Aqui o truque é não nos afeiçoarmos à mobília, porque tê-los comigo vale toda a mobília destruída.

Tenho muitos momentos de felicidade com eles, mas há um hábito que temos todos que acho muito querido. Por norma, sempre que me deito no sofá, aconchegamo-nos todos a ver uma série ou um filme e é quase como um momento de mimo mútuo que me transmite muita paz e felicidade.

Eu tenho uma teoria: os donos, quando falam dos animais de estimação, dão-lhes características deles próprios, Então aquela senhora que diz “esta cadela não se dá nada com as cadelas, mas com os cães dá-se”, é aquela mulher que não se dá com outras mulheres. Eu sou essa dona, mas como os meus gatos são os três muito diferentes, sinto que aprendo coisas diferentes com cada um deles. Eu gosto mais de gatos do que de cães assumidamente, mas trato os meus gatos como cães. Estou sempre agarrada e sou chata com eles, então acho que o principal é ensinarem-me a ser mais paciente.

Neste momento não há mais animais nos planos. O meu namorado gosta imenso de pássaros, portanto até poderia ponderar ter um daqueles que pode andar solto, mas como temos gatos isso tinha de ser muito bem pensado. Um dia que tenha uma casa e não um apartamento, pondero ter um cão, mas só com espaço. Também não me importava de ter outro gato. E acho que é por aí. Eu gosto muito de animais e nunca pude ter, mas agora que tenho, eles dão muita vida à casa e uma casa com animais não é, de todo, uma casa vazia e, portanto, com o tempo se verá se há mais membros ou não.”

Depoimento construído a partir de entrevista por videochamada.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários