“Terrorismo do sushi” choca Japão e pára os tapetes rolantes nos restaurantes

Nos kaitenzushi, restaurantes onde os pratos circulam em tapetes rolantes, o mundo parou. A culpa é de clientes que cospem em pratos, mexem na comida de outros... E publicam vídeos dessas façanhas.

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O tapete rolante de sushi de um Kura em Tóquio REUTERS/Kim Kyung-Hoon
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O tapete rolante de sushi de um Kura em Tóquio REUTERS/Kim Kyung-Hoon

A ameaça do "terrorismo do sushi" - levado a cabo por gente que cospe na comida de outros comensais ou adultera a comida e os pratos - está a provocar grandes mudanças nos restaurantes kaitenzushi do Japão, onde os clientes escolhem a sua comida retirando pratos que "viajam" por tapetes rolantes.

Choshimaru, uma cadeia com dezenas de restaurantes em Tóquio e arredores, divulgou esta semana que está a mudar para um sistema em que os clientes encomendam o sushi a um empregado ou num monitor de ecrã táctil, em vez do tradicional retirar dos pratos da esteira giratória em rotação lenta. A mudança, que terá lugar no final do próximo mês, foi motivada por um vídeo em que um homem colocou uma ponta de cigarro num prato de pickles de gengibre quando este passava à sua frente.

A empresa espera que a decisão dificulte a participação de qualquer pessoa no que ficou conhecido em todo o país como o "terrorismo do sushi", geralmente retratado em vídeos partilhados nas redes sociais. Nestes, as pessoas lambem garrafas de molho de soja que serão usa, cospem na comida ou tocam no sushi dos outros. A tendência tem alarmado aqueles que valorizam a tradição do kaitenzushi - e tem atingido duramente a indústria.

"A perda de confiança na higiene dos restaurantes de sushi do Japão constitui uma ameaça a uma parte única da cultura alimentar japonesa moderna", refere-se numa peça da Sora News 24.

A decisão da cadeia Choshimaru de parar os seus transportadores de correia segue-se a um movimento semelhante de outra cadeia, a Sushiro, que afirma ser a maior do género, depois de circular um vídeo que mostrava um rapaz a lamber copos e garrafas de molho de soja e a tocar na comida de outros comensais depois de lamber os dedos. O incidente, que foi visto milhões de vezes nas redes, afastou clientes, disse a empresa, fazendo com que o valor das acções da empresa-mãe baixasse 5%, de acordo com a TV japonesa Asahi.

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Num Kura em Tóquio REUTERS/Kim Kyung-Hoon

Tais partidas de mau gosto "desencadearam uma onda de repulsa no Japão, célebre pelos seus exigentes padrões de higiene e educação", escreveram Michelle Ye Hee Lee e Julia Mio numa reportagem do The Washington Post sobre o fenómeno.

A cadeia Sushiro também passará a deixar os clientes fazerem os seus pedidos, que serão entregues através de uma "via rápida", preparada para frustrar os potenciais causadores de problemas, informou a empresa num aviso publicado no seu website.

Kura, outra cadeia popular, está a seguir um caminho diferente. Na semana passada, a marca actualizou as suas câmaras assistidas por Inteligência Artificial - que já estavam a ser utilizadas para rastrear quantos pratos os clientes comiam - de modo a detectarem actividades suspeitas. Por exemplo, no caso de um cliente retirar um prato do tapete rolante e depois voltar a colocá-lo em circulação. Um incidente deste tipo enviará um alerta para o escritório regional da empresa, onde os empregados podem ver as filmagens e contactar o restaurante onde ocorreu o delito, segundo a Sora News 24.

"Seria bom se não tivéssemos de confiar neste tipo de sistema", disse um porta-voz da Kura Sushi à Sora, "mas tornou-se necessário devido às acções irreflectidas de um pequeno número de pessoas".

Nas redes sociais, os fãs lamentam as mudanças nos icónicos "comboios" de sushi, o primeiro dos quais foi aberto em 1958, espalhando-se depois por todo o mundo. "Uma coisa em que tenho pensado ultimamente é em como a ordem social é realmente frágil", tweetou um cliente. "Um elemento básico da cultura japonesa, invalidado de um dia para o outro por alguns desordeiros do TikTok".

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