As orcas sacrificam tanto pelas crias macho que prejudicam a capacidade de procriar

Já era sabido que as crias macho eram mais carentes do que as fêmeas, mas um novo estudo concluiu que este tratamento preferencial das progenitoras põe em causa a sua capacidade reprodutiva.

Foto
As orcas sacrificam tanta energia a criar e alimentar os seus filhos machos, que reduzem drasticamente as probabilidades de terem outra cria Thomas Lipke/Unsplash

As orcas que são mães sacrificam tanta energia a criar e alimentar os seus filhos machos, que reduzem drasticamente as probabilidades de terem outra cria, descobriu um novo estudo.

Já era sabido que as crias macho eram mais carentes do que as fêmeas, exigindo alimentação contínua das suas mães — que dividem um salmão em dois e partilham com os filhos machos, mesmo depois de estes já serem adultos.

Ainda assim, um estudo multigeracional, publicado esta quarta-feira na revista Current Biology, mostra que, pela primeira vez, os cientistas observaram que este tratamento preferencial tem grande preço para as progenitoras. Com a oferta de alimento a diminuir no Pacífico, estão a surgir mais preocupações acerca do futuro das populações de orcas, referem os investigadores.

“Durante toda a vida, estes filhos estão a colocar um custo nas suas mães, e isto é altamente incomum”, refere Sam Ellis, investigador de comportamento animal na Universidade de Exeter, que co-escreveu o estudo. O estudo marca também a primeira vez que os cientistas documentaram o custo a longo prazo da maternidade em mamíferos de grande porte que geralmente se reproduzem mais do que uma vez.

Os investigadores estudaram dados de censos feitos ao longo de décadas, que monitorizaram 40 orcas fêmea a viver entre a costa do Pacífico de Washington e a Colúmbia Britânica desde 1982.

Descobriram que se as orcas tiverem um macho, há menos 50% de probabilidade de terem uma segunda cria que sobreviva ao primeiro ano de vida do que as orcas que tiveram fêmeas. Isto continua a acontecer mesmo que as mães tenham um segundo filho quando o filho macho já atingiu a fase adulta (dos 12 aos 15 anos).

Em contraste, não encontraram provas de que uma cria fêmea — que alcança independência total da sua progenitora e não precisa de continuar a ser alimentada quando já é adulta — não reduz as chances reprodutivas da mãe.

“O que parece é que a orca tem um filho e continua a investir nesse filho para o resto da vida”, refere Ellis. “Independentemente de o filho ter três ou 30 anos.”

“É incomum, porque seria de esperar que a melhor opção, enquanto fêmea, seria ter uma cria, esperar que ela crescesse e fortalecesse, e depois tivesse outra”, acrescentou Ellis. Quando as orcas mães apanham salmões grandes, dão pequenas porções às crias pequenas — e aos filhos adultos, disse.

Tudo pelos netos

A estratégia de as orcas mães alimentarem os machos até à idade adulta pode ter uma motivação relacionada com a evolução — uma vez que estes filhos acabam por gerar muitas crias.

Ao dar um tratamento preferencial aos machos até à idade adulta, as mães podem estar a aumentar a probabilidade de criar um filho que irá acabar por se tornar no membro dominante do grupo, referiu Ellis.

Ao criar o filho para ser o membro dominante do grupo — mesmo que isso signifique sacrificar a sua cria fêmea e a sua capacidade futura de procriar — a orca está a aumentar a sua probabilidade de ser avó de muitos.

“Do ponto de vista de uma fêmea, se investir no seu filho — se o mantiver vivo e forte, pode sair-lhe o jackpot e ter imensos netos”, disse Ellis.

Mas menos salmão disponível significa que as progenitoras podem estar a alimentar os filhos pondo a sua própria sobrevivência em risco. “Quando, no passado, havia muito salmão — esta estratégia de investir no filho era uma grande ideia”, referiu Ellis.

Mas “a quantidade de salmão disponível está a diminuir” no Pacífico, acrescentou. “Se houvesse mais salmão, este investimento em machos iria ser menos importante — porque haveria comida suficiente para as fêmeas investirem nos seus filhos e em si.”

Há 73 orcas residentes no Pacífico, uma população que tem estado em declínio desde o início dos anos 90.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

Sugerir correcção
Comentar