Estamos na Revenge of the 2000’s e, por umas horas, as calças de cintura descida estão na moda, as bandanas são “o” acessório e a Avril Lavigne está sempre a passar na rádio. Os Mundo Secreto voltam a pôr a mão no ar, o Luke D’Eça diz que sim e o Emanuel repete que é amor. E assim se dá início a uma viagem sensorial que passa pela música latina, pelo Carnaval do Brasil e não esquece as horas passadas a ver Morangos com Açúcar, no meio de uma saudosa multidão vestida a preceito.
Depois de quase seis anos de Revenge of the 90’s, na passagem de ano avançou-se uma década para se estrear uma nova experiência em Lisboa. A Revenge of the 2000’s, que regressa este sábado, 11 de Fevereiro, em Torres Vedras, promete “matar a saudade que toda uma geração sente em relação àquela década”, garante Paulo Silver, CEO e um dos fundadores da NewSheet, a empresa que tem feito da nostalgia uma missão de entretenimento. Desta vez, apontam ao público que “já ia à Revenge of the 90’s, mas é da geração seguinte” e que já estava a passar por um “saudosismo em relação aos anos 2000”, diz a co-criadora da festa, Constança Castello-Branco.
O espectáculo está assente no modelo dos 90’s, mas aplicada à década seguinte. “Fomos buscar as redes sociais, a Internet, os Motorola rosa-choque, criámos uma banda que canta o que o público escolhe de forma interactiva, um chat gigante do MSN para todos enviarem dedicatórias e um quiz”, explica a dupla. Tudo isto é projectado em grande plano no palco. Há uma interacção constante que permite entender a assistência e alinhar, “quase em tempo real, o espectáculo”, conta Paulo.
Na estreia da Revenge of the 2000’s, que contou com a presença de 7500 pessoas, “superando as expectativas”, Paulo Silver entregou o palco a Carolina Torres, apresentadora e cantora, e ao coreógrafo Abreu, os mestres-de-cerimónias residentes.
Daqui para a frente, o plano é simples: “Melhorar [nos próximos espectáculos] e tornar a equipa mais coesa”. É uma experiência que vive à base do improviso em palco, protagonizada pelos "apresentadores, bailarinos, DJ, banda e técnicos multimédia”, e há que saber como agarrar o público em determinados momentos. “É este dinamismo que vão continuar a criar e melhorar.”
Um playground para adultos
Hoje, a Revenge of the 90’s é um nome icónico, mas nem sempre foi assim. A primeira aconteceu a 11 de Fevereiro de 2017, em Lisboa, e contou com “600 pessoas, amigos, amigos de amigos e amigos de amigos de amigos”, relembra Paulo. No início, só conhecendo alguém com acesso aos bilhetes se poderia participar e, mesmo assim, “esgotou em três dias”. À entrada, os participantes recebiam um papel em formato de disquete para entrar no recinto e brindes, como Peta zetas e Push-pops, para depois estarem horas a fio “numa nova dimensão que ainda nem artistas convidados tinha”.
A experiência que a Revenge proporciona começa mal se adquire o bilhete, que ronda os 25 euros: só se sabe a cidade onde vai acontecer. Tudo o resto permanece uma incógnita até ao próprio dia — só tens que combinar com os amigos onde jantar e que 90’s outfit usar. Ao chegar, recebem-se os brindes do costume; no interior do recinto, há máquinas de salões de jogos, cheiros da juventude e a música de uma década que deixou saudade.
A “fórmula Revenge” está assente em dois factores, dizem os criadores: “Ser uma experiência, a verdadeira máquina do tempo que faz com que qualquer pessoa sinta que voltou àquela década.” Dos artistas – Anjos, Non-Stop, Melão – aos brindes – Pega-monstros, Slinkies, colares comestíveis –, sem esquecer os fatos usados pelos animadores, que vão do Baywatch aos Power Rangers ou Toy Story. “É tudo pensado a um nível de detalhe e preciosismo que cria nas pessoas o efeito ‘uau’ que as agarra durante uma noite inteira”, conclui Constança.
Em seis anos, conquistaram uma multidão de gente, os “noventeiros”, e continuam a esgotar salas em minutos — a maior assistência até hoje foi em Vizela, 40 mil pessoas. O propósito, garante Constança, é pôr “o maior pé-de-chumbo de cada grupo de amigos a dançar” – e tem sido atingido com sucesso. Já viram “Rita Pereira a chorar nas stories do Instagram com a entrada do [palhaço] Companhia”, ouviram o Toy cantar com uma “sala inteira o Estupidamente Apaixonado a plenos pulmões” e surpreenderam com o “David Fonseca a dançar em palco num fato de cão”.
“Isto vai acontecer!”
Tudo começou, como sempre, um pouco por acaso. Estávamos em Dezembro de 2016 e, para Paulo Silver, as noites já não eram as mesmas. Faltavam os Anjos, já não se “ia ao limite”, a Eu Sou Aquele não tocava. Andava nostálgico, até que, numa viagem de carro, tudo se alinhou. Paulo estava familiarizado com a área do entretenimento, pois já tinha andado às voltas com as festas Rebel Bingo. Ao dar boleia ao irmão para uma saída à noite, surgiu a ideia: “E se pegássemos no conceito das festas da M80 [que também produziam na altura] e naquilo que fazemos com o Rebel Bingo e criássemos algo para os anos 90?"
Juntou um grupo de amigos, do qual fazia parte “o braço direito” Miguel Galão e Constança. E foram jantar ao Hó Caldas, um pequeno espaço, em Lisboa, conhecido por ser um ponto de encontro de universitários há décadas. Tem bar aberto, a comida é barata e o convívio é garantido. “É uma terrível experiência gastronómica que faz a malta viajar no tempo”, graceja Paulo.
Foi entre bifinhos com cogumelos, bacalhau à Brás e jarros de cerveja que se propôs a missão: “Isto [a Revenge] vai acontecer!” O entusiasmo espalhou-se pela mesa. Toda a gente tinha alguma coisa para relembrar e, de todas as sugestões [de artistas] então faladas, “só falta cumprir Backstreet Boys, Britney Spears e Spice Girls”, diz Paulo.
O nome, Revenge of the 90's, foi unânime. Sem saber, criavam um portal para “os tempos em que dizias que ias para casa de um amigo estudar para ir sair à noite”. “Não é um evento, não é uma festa, é uma experiência, um playground para adultos”, definem.
Visitámos os anos 90 e revivemos os anos 2000. E agora, o que se segue? “O que a Revenge of the 90’s é hoje não é o que era quando começou, temos de fazer esse caminho com os 2000.” Os 90’s vão regressar com uma “surpresa a ser anunciada em breve, uma versão 2.0”, mas, para já, vão-se manter nos anos 2000, explica Paulo. “Temos muitos momentos para criar, muitos artistas para trazer e muitas temáticas para explorar.”
Texto editado por Amanda Ribeiro