À entrada da igreja e na igreja sempre me repudiou a ideia de um Deus masculino em tudo semelhante a um homem, decano e de longas barbas brancas, sim, mas um homem, branco, pois claro, e ocidental.
Não fazia sentido, nunca fez, nunca fará e portanto a indagação e as perguntas insistentes diante da progenitura exasperada: porque não a divindade no corpo e pele de uma índia algures nos confins da selva? Ou então a representação divina como um animal, totémico, Gaia, a Mãe Terra verdadeiramente entre nós e parte de nós? Uma energia superior, e aqui mais próxima das concepções taoistas?
E se à data liberdade ainda tenra, adolescente, não permitia a discussão de Deus ou a sua virtude mais as reprimendas paternas, não fosse a congregação reparar, a passagem dos anos e das mentalidades permite-nos, hoje, discutir não só Deus mas a sua virtude.
Por conseguinte, é de saudar, mas não só, é de louvar a recente intenção da Igreja Anglicana de discutir denominar Deus usando o género neutro. Sendo cada vez mais premente a certeza de uma linguagem que não exclua a comunidade LGBTQ2S+, vemos com bons olhos a presente abertura de espírito, literalmente falando, para a igualdade de género também nos passos da Igreja.
Porque a linguagem é o reflexo do modo de pensar e ver o outro e evolução da mesma senão um sinal de uma sociedade tão mais diversa como saudável. Deus como inclusão, um Deus que a todos aceita, convida e acolhe. Porque Deus não pode ser cis, quando muito trans e decerto pansexual se a todos ama e este amor universal está na Bíblia, um legado, claramente e quem diria, à frente do seu tempo.
Deus como they ou them em inglês e o fim do Pai Nosso se nunca houve um Pai mas um “Elu”. Ou então, se preferirem, “el”, “elx”, “ile” ou “ili”. E se felizmente os exemplos abundam, deixem-me acrescentar um mais moderno “el@”.
O debate, inevitável, está lançado e vem no seguimento de propostas recentes para a celebração de casamentos homoafectivos pela Igreja Anglicana.
Para quando a adopção de semelhantes atitudes da parte da Igreja Católica Apostólica Romana? Para quando a abertura de portas, para quando todas as cores do arco-íris debaixo do mesmo tecto? Para quando uma igreja capaz de discutir o sexo e a sexualidade, o seu sexo, a sua sexualidade?
Enquanto este dia não chega, por terras de Sua Majestade os movimentos cívicos dão mais uma série de passos largos, orgulhosos de o ser, sem medo nem preconceito, sem juízos de valor e na rua para que todos vejam, sem perdão ou a necessidade de um perdão porque, Elu, eles sabem o que fazem, finalmente sabem o que fazem. Ámen.