Neste texto vamos falar do que já foi falado e agora é silenciado: a pandemia não desapareceu. Comecemos pelas evidências empíricas e, parafraseando Salgueiro Maia, vamos a uma ronda relâmpago para resumir este estado a que chegámos.
A pandemia, iniciada em 2020, já se prolonga há três anos, durante os quais aprendemos muito acerca do vírus SARS-CoV-2. Descobriu-se que não aparenta ser um vírus respiratório, mas sim um vírus capaz de afectar todos os sistemas do nosso corpo, incluindo o nosso cérebro. Viu-se que as pessoas não são infectadas apenas uma vez, mas sim que podem ser infectadas vezes e vezes seguidas. Com o aumento do número de reinfecções vimos também que cada infecção deixa o corpo mais fragilizado — daí não só virmos picos de outras doenças que não eram comuns pré-pandemia, como também um aumento significativo do número de mortes abruptas. Com tudo isto, foi confirmado aquilo que muitos cientistas já avisavam: que as vacinas actuais, apesar de serem eficientes a diminuir a mortalidade geral, não impedem totalmente a transmissão nem as sequelas de potenciais infecções.
Olhemos agora para o que fizemos. No ano de 2022, o Governo português acabou com a obrigatoriedade do uso de máscara na maioria dos espaços públicos, desde já impedindo que as pessoas vulneráveis frequentem esses espaços de forma segura. No mesmo ano, os testes rápidos deixaram de ser comparticipados e o isolamento quando alguém está positivo deixou de ser obrigatório. Portanto, temos as circunstâncias ideais para a propagação do SARS-CoV-2, enquanto, com o fim da testagem em massa, se deixou de monitorizar o seu desenvolvimento. Um plano extremamente inteligente e racional, portanto.
Contudo, neste ponto do texto os leitores devem estar a questionar-se: então e as vacinas? Esclareço já que vacinas foram e são necessárias para baixar as mortes e hospitalizações. A necessidade das vacinas não está em causa. Infelizmente, e quebrando todas as promessas políticas (não científicas), o que está fora de questão neste momento é a sua suficiência, a sua capacidade de servir de estratégica única e exclusiva para lidar com este vírus. Neste momento, é por demais evidente que são precisas estratégias complementares.
Todavia, há boas notícias, provenientes de um facto já mencionado: o SARS-CoV-2 já não é novo nem desconhecido. Assim, como conhecemos o vírus, sabemos especificamente como impedir a sua transmissão. E aqui a palavra-chave — a panaceia para a qual muitos especialistas têm apontado freneticamente enquanto os governos os ignoram — é a ventilação. O vírus transmite-se pelo ar. É um facto que todos reconhecemos. Por isso, é focar-nos no mais importante: limpar o ar. E aqui entram mais boas notícias: nós possuímos a tecnologia necessária para fazer precisamente isto: em espaços fechados é possível incorporar purificadores de ar, contendo os chamados filtros HEPA, que filtram o vírus SARS-CoV-2, bem como outros vírus e poluentes, do ar. Esta é a aposta mais segura, pois o vírus pode evoluir para contornar as vacinas, mas nunca evoluirá para contornar um filtro HEPA, pois tal é fisicamente impossível.
Eu sei que tudo isto é difícil. Eu sei que o mundo gira numa trajectória de caos, que há guerra nas portas da Europa e inflação desenfreada. Também sei do cansaço, que este trauma colectivo já nos pesa demasiado nos ombros e muitos consideram que se não falarmos dele, talvez este se torne mais leve. Mas, infelizmente, este peso, quando ignorado, apenas se torna maior. Neste momento, temos todas as ferramentas necessárias para impedir o aprofundamento da tragédia. Agora é só preciso a coragem de as usar.