Academia do cinema francês bane suspeitos de crimes sexuais da cerimónia dos Césares

A medida parece ser uma resposta à investigação policial em torno do actor Sofiane Bennacer, que chegou a integrar a lista de pré-nomeados.

Foto
Sofiane Bennacer numa cena de Les Amandiers DR

A organização dos Césares (o equivalente francês aos Óscares) decidiu banir da cerimónia de entrega de prémios deste ano quaisquer nomeados que estejam sob investigação em casos relacionados com crimes sexuais.

Num comunicado emitido esta segunda-feira, a Academia dos Césares anunciou que qualquer nomeado que esteja a ser investigado ou tenha sido condenado por "actos de violência, em particular de natureza sexual ou sexista", ficará fora da lista de convidados da gala do próximo mês e dos eventos que lhe estão associados. A decisão, acrescenta o comunicado, funda-se "no respeito pelas vítimas".

A nova regra dos Césares surge meses depois de a polícia francesa ter colocado sob investigação um actor que chegou a constar da primeira longlist de nomeados da cerimónia deste ano, Sofiane Bennacer, acusado de violação e violência por ex-companheiras suas — crimes que ele nega ter cometido. A Academia das Artes e Técnicas Cinematográficas viria a deixar cair o nome de Bennacer da lista final de nomeados na categoria de Revelações, uma selecção anunciada em Novembro, já depois da abertura desta investigação policial.

A atitude da academia francesa contrasta com o desfecho da cerimónia de 2020, ano em que Roman Polanski — que assumiu ter tido relações sexuais com uma rapariga de 13 anos, em 1977, mas saiu dos Estados Unidos antes de o tribunal ditar a sentença do caso — arrecadou 12 nomeações para o seu filme J'Accuse — O Oficial e o Espião e ganhou o prémio de melhor realizador, enfurecendo as hostes do movimento #MeToo. O então presidente da Academia dos Césares rejeitou na altura a ideia de assumir "posições morais".

A mudança que terá lugar em 2023 não parece impedir tais nomeados de serem agraciados com um César, o prémio mais cobiçado do cinema francês. Mas a decisão, além de barrar a sua presença na cerimónia e nos eventos associados, impede-os também de pedirem a terceiros que façam discursos de agradecimento em seu nome.

Segundo a Academia dos Césares, esta medida é um procedimento temporário e valerá apenas para a cerimónia do próximo mês; medidas mais abrangentes, incluindo a definição de novos critérios de elegibilidade para a atribuição de um César, serão discutidas por um grupo de trabalho criado para o efeito e depois submetidas a votação.

Valeria Bruni-Tedeschi, a realizadora do filme Les Amandiers, pelo qual Bennacer chegou a estar pré-nomeado, começou por considerar as acusações contra o actor um "linchamento mediático".

Mas a organização feminista Osez le féminisme ("Ousar o feminismo") elogiou a decisão da academia e agradeceu às mulheres da indústria cinematográfica francesa o facto de terem "quebrado o silêncio".

"Esta vitória só é possível graças à vossa coragem. Celebrar um violador é minimizar a violência sexual e sexista e contribuir para a cultura da violação", escreveu o grupo na sua conta no Twitter.

Segundo a Agência France-Presse, havia receios de que a cerimónia dos Césares deste ano ficasse marcada por protestos após ter sido tornada pública a investigação de que Sofiane Bennacer está a ser alvo.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

Sugerir correcção
Ler 1 comentários