A fertilidade pode ser como uma curta caminhada no parque ou um triatlo no oceano
A consciencialização de que a conceção não é um processo imediato, mas ao mesmo tempo de que existem alternativas, é crucial para que o casal possa encarar o processo com serenidade e esperança.
À volta de 15% dos casais (48,5 milhões) a nível mundial vivem com infertilidade. Mais de 40% dos casais em tratamento de fertilização in vitro (FIV) apresentam uma microbiota anormal do trato reprodutor.
“A fertilidade pode ser como uma curta caminhada no parque ou um triatlo no oceano.” Qualquer pessoa pode ter problemas de fertilidade, muitos são os obstáculos que podem ser encontrados ao longo do caminho, e procurar tratamento médico nem sempre é simples quanto deveria ser.
Para aumentar a consciencialização sobre esse problema, na semana de 7 a 13 de Novembro celebrou-se a Semana Europeia da Fertilidade. Focada este ano na jornada de (in)fertilidade do paciente, foram desenvolvidas ações destinadas à melhoria da qualidade de vida daqueles que vivem a procriação medicamente assistida (PMA) na primeira pessoa, nos diferentes países da Europa.
A infertilidade é uma doença complexa com importantes implicações médicas, psicossociais, demográficas e económicas. Sendo muitas vezes um assunto tabu, seja pela vergonha associada seja pela dor que o tema provoca, a infertilidade é frequentemente desvalorizada tanto na sua real dimensão tanto em termos de números absolutos de pessoas afetadas quanto no impacto que que tem na qualidade de vida de cada pessoa.
Estima-se que a infertilidade conjugal atinja, na população mundial, cerca de 10 a 15% dos casais em idade fértil, com uma incidência crescente em função da idade dos casais. Em Portugal estima-se que sejam 300.000 casais. Esta percentagem tem vindo a subir nos últimos anos devido a causas tão diversas como o adiamento da maternidade, o aumento da prevalência das infeções de transmissão sexual, o sedentarismo, a obesidade, o consumo de tabaco e álcool e a poluição.
Embora não existam estatísticas específicas para Portugal, vários estudos referem que nos países ocidentais a infertilidade afeta um em cada sete casais em idade reprodutiva, o que corresponde a cerca de 14% da população.
A sensibilização para este tema permite abordar causas passíveis de serem evitadas. Para além de alterações de estilos de vida, um correto esclarecimento das consequências do adiamento da maternidade permite que a mulher se possa defender, pelo menos parcialmente, destas causas.
Temos o exemplo recente de figuras do sexo feminino mundialmente conhecidas a apelar para um conhecimento mais abrangente sobre a possibilidade de preservação de fertilidade. Esta é uma opção que no sistema público é reservada a casos de patologia em que é expectável uma diminuição da fertilidade, nomeadamente casos oncológicos. Mais do que isso, é também uma opção fora do contexto do sistema nacional de saúde acessível a qualquer mulher adulta para a qual a gravidez não seja uma realidade a ser ponderada a curto prazo.
O tratamento da infertilidade é um processo complexo influenciado por vários fatores etiológicos. As considerações mais importantes incluem tempo de duração da infertilidade, idade do casal (em especial da mulher) e causas diagnosticadas.
A gravidez caracteriza-se por uma sequência complexa de eventos, incluindo ovulação, captura do óvulo por uma das trompas uterinas, fertilização, transporte do óvulo fertilizado até ao útero e a sua implantação na cavidade uterina recetiva. Em geral, a infertilidade pode ser atribuída à mulher em um terço dos casos, ao homem, em um terço dos casos, e a ambos os parceiros no terço restante. As estimativas de incidência de várias causas de infertilidade são: fatores masculinos (hipogonadismos, disfunção de tubos seminíferos, defeitos testiculares) – 26%; disfunção ovulatória – 21%; disfunção das trompas de Falópio – 14%; endometriose – 6%; outras – 9%; inespecíficas – 17%.
A reprodução é simultaneamente um momento de felicidade e ansiedade. O casal após ter decidido iniciar esta jornada vê-se confrontado com a frustração da ausência de conceção em cada ciclo em que não se dá a gravidez e isto pode ser extremamente doloroso e stressante, uma vez que há uma sensação de impotência e falha.
A consciencialização de que a conceção não é um processo imediato, mas ao mesmo tempo de que existem alternativas, caso esta não ocorra espontaneamente nos timings expectáveis, é crucial para que o casal possa encarar o processo com serenidade e esperança, mesmo quando estamos perante uma situação de infertilidade.
Cabe-nos a nós, clínicos que se dedicam a esta área, o correto esclarecimento da população para que possam ser ajustadas expectativas, controlada a ansiedade inerente e minimizada a sensação de culpa ou falha.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico