Tata aposta em quiosques de maquilhagem virtual e testes digitais à pele

O grupo indiano pretende centrar-se no segmento de clientes que procuram produtos exclusivos e que estejam dispostos a pagar o preço anunciado pelas marcas de alta qualidade.

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A abertura da primeira loja beauty tech da Tata está planeada para acontecer até Março AMIT DAVE/Reuters

O grupo indiano Tata planeia abrir, pelo menos, 20 lojas beauty tech onde irá utilizar quiosques de maquilhagem virtuais e testes digitais à pele para conseguir que os compradores jovens e abastados adquiram produtos cosméticos premium, revela um documento da empresa e uma fonte familiarizada com a estratégia.

A mudança coloca a Tata, cujos interesses vão desde automóveis a joalharia, como concorrente da Sephora, que pertence ao conglomerado francês LVMH, e da rival doméstica Nykaa por uma parte do mercado de beleza e cuidados pessoais que vale cerca de 15 mil milhões de euros e está em rápido crescimento no segundo país mais populoso do mundo.

O grupo Tata está de olho num público chamado “entusiasta da beleza”, com idades entre os 18 e 45 anos, que gosta de comprar marcas estrangeiras como Estée Lauder, M.A.C e Bobbi Brown, de acordo com o mesmo documento, que lista a The Honest Company, Ellis Brooklyn e Gallinee como potenciais parceiros. A empresa encontra-se em conversações com mais de duas dezenas de marcas, de maneira a fornecer produtos exclusivos nas novas lojas, de acordo com uma fonte que não nomeia marcas específicas.

A Tata recusou-se a comentar os documentos a que a Reuters teve acesso; e representantes da The Honest Company, Ellis Brooklyn e Gallinee também não responderam aos pedidos de comentário da agência noticiosa.

Os planos de abertura das lojas, ainda em fase de conclusão, seguem o recente lançamento da aplicação de compras de beleza da Tata, Tata CLiQ Palette. A empresa já possui lojas de retalho físicas na Índia, onde tem parcerias com marcas globais como a Zara e a Starbucks.

As lojas apresentarão uma fachada vermelha brilhante mostrando a marca Tata CLiQ Palette, com 70% dos produtos destinados a cuidados de pele e maquilhagem, de acordo com o documento da empresa. No interior das lojas, a Tata planeia instalar tecnologia que permita aos clientes experimentar virtualmente dezenas de tonalidades de batom, em ecrãs, e obter testes digitais de pele, para descobrir que produtos podem funcionar melhor.

A tecnologia não é uma novidade e está já a ser utilizada por outros retalhistas de beleza, em todo o mundo, mas este empreendimento no que os especialistas da indústria chamam “retalho experimental” é ainda um conceito relativamente novo nos centros comerciais indianos e nas lojas de rua.

“O comércio experimental vai ser uma coisa importante na Índia, pois mais clientes vão passar o seu tempo livre nessas lojas”, declara Pankaj Renjhen, director-executivo conjunto da consultoria de retalho Anarock da Índia. “No segmento premium onde um cliente procura coisas que vão além do preço —, o comércio experimental ajuda a desencadear as compras por impulso e pode seduzi-lo.”

Renjhen acrescentou, contudo, que “o produto e as marcas têm de ser exclusivas e boas –, pois se não o forem, a cliente não vai voltar”.

Viagem milenar

À medida que a economia da Índia cresce, e as pessoas regressam às lojas após os confinamentos por causa da covid-19, o grupo Tata procura conquistar clientes relativamente jovens e abastados, que gostem de fazer compras em ambientes confortáveis e que estão dispostos a pagar o preço de venda anunciado para marcas internacionais de alta qualidade. No documento a que a Reuters teve acesso, a Tata chama-lhes “clientes não negociantes”, por comparação com a maioria dos indianos que compram marcas locais, a baixo preço, em lojas de beleza de pequenos comerciantes, onde é comum negociar o preço e pedir descontos.

A empresa tem como alvo os compradores com um rendimento anual de pelo menos 600.000 rupias (7092€), mais do triplo do rendimento médio anual de 1920€ entre os 1,4 mil milhões de habitantes da Índia. As novas lojas devem impulsionar “as vendas através de canais como um dos principais destinos Beauty Tech para as gerações Z e Millennial”, diz o documento.

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Cosméticos Bobby Brown à venda numa loja de cosméticos em Ahmedabad, India. Reuters/Amit Dave

O mercado indiano de beleza e cuidados pessoais de cerca de 15 mil milhões de euros é muito menor do que os cerca de 88 mil milhões de euros da China, mas a empresa de estudos de mercado Euromonitor estima que a Índia crescerá, em média, 7% ao ano, nos próximos anos.

“O mercado de beleza indiano não está saturado, longe disso”, analisa Devangshu Dutta, director da consultora de retalho Third Eyesight, sediada em Nova Deli. “Se estiver a investir a longo prazo, com perfis de rendimentos mais elevados e estilos de vida em mudança, há um longo caminho de crescimento pela frente.”

A Tata enfrenta uma forte concorrência. A Sephora, que está na Índia há cerca de uma década, tem 26 pontos de venda de marcas de beleza e fragrâncias. A Reliance, liderada pelo multimilionário Mukesh Ambani, possui um plano a longo prazo para abrir 400 lojas, a primeira das quais poderá inaugurar no interior de um centro comercial de Bombaim no próximo mês, de acordo com uma fonte. A Reliance não confirmou os seus planos à Reuters.

A retalhista de beleza indiana Nykaa, apoiada pela empresa de equidade privada TPG, gestora de activos Fidelity e apoiada por uma celebridade de Bollywood, disse que planeia ter mais de 300 lojas, para já abriu 124. No ano passado, a empresa com dez anos, que começou como loja online, chamou a atenção para o sector, quando as suas acções quase duplicaram após a sua cotação na bolsa de Bombaim, avaliando, na altura, a empresa em cerca de 13 mil milhões de euros.

Obstáculos pela frente

A primeira loja beauty tech da Tata abrirá provavelmente até Março, com uma expansão adicional que se estenderá até ao próximo ano fiscal a ter início em Abril, que poderá abrir até 40 lojas, segundo a fonte da Reuters, que acrescentou que a marca começará com cidades maiores, como Nova Deli, antes de considerar outras mais pequenas.

Contudo, a Tata está a lutar para persuadir os proprietários de centros comerciais de luxo, onde o espaço é escasso, a aceitarem uma nova loja de beleza mesmo que já exista uma no mesmo centro, se aquela não tiver produtos exclusivos suficientes ou outro factor diferenciador para atrair novos clientes e aumentar o tráfego pedonal para o centro comercial como um todo, de acordo com outra fonte.

A par dos lançamentos exclusivos de produtos, a Tata está concentrada na vertente tecnológica em loja, que o documento analisado pela Reuters descreve como um “factor diferenciador”.

Uma das ferramentas tecnológicas será um dispositivo que a Tata chama de “analisador de pele”, um aparelho com um espelho que pode ler e analisar a pele de um cliente para revelar entre 25 e 30 carcaterísticas que podem ajudar a escolher os produtos. Haverá também quiosques de “experimentação virtual” para maquilhagem dos olhos e rosto. Entre eles haverá um suporte circular com batons encaixados — à medida que são escolhidos, um espelho digital mostra automaticamente a tonalidade projectada na boca, eliminando a necessidade de experimentar repetidamente antes de uma compra.

O grupo Tata está também a testar a utilização da chamada tecnologia de geofencing para permitir aos seus trabalhadores detectar quando um cliente que utiliza a sua aplicação entra, e partilhar o histórico de compras e listas de desejos com o staff , de maneira a que este possa fazer as melhores recomendações, refere ainda a mesma fonte.

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