Lisa Cholodenko: pelo espelho retrovisor

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Lisa Cholodenko Steve Schofield/Getty Images

Running on Empty (1988), de Sidney Lumet, é dos filmes mais bonitos daquela década. Regista a “fuga sem fim” do casal de activistas, Annie e Arthur, e dos dois filhos, que vivem perseguidos pelo FBI desde que os pais fizeram explodir uma fábrica de napalm, ferindo com gravidade um segurança. O momento festivo desta obra em constante tensão, acontece no jantar de aniversário de Annie (Christine Lahti), para o qual é convidada uma colega de Danny (River Phoenix), o rapaz mais velho. O pai, Arthur (Judd Hirsch), liga o rádio quando vão lavar a loiça e toca uma canção de James Taylor, Fire and Rain, que a rapariga, Lorna (Martha Plimpton), entoará junto com ele, marcando-se ali o seu acolhimento por parte do clã Pope. A comunhão por via da música é algo que me comove sempre, e esta cena recorda-me uma outra, num filme de Lisa Cholodenko, The Kids Are All Right (2010). Trata-se ainda de um jantar, cujo objectivo é a aceitação, por parte de um casal de lésbicas, de que os filhos se relacionem com o indivíduo que doou anonimamente o esperma com que foram concebidos, e que à chegada à maioridade de um deles, Joni (Mia Wasikowska), ambos desejaram conhecer. A tensão à mesa é quebrada quando a mãe mais relutante, Nic (Annette Bening), comenta o ecletismo da colecção de vinis de Paul (Mark Ruffalo) e ambos falam da sua paixão por Joni Mitchell (“You don’t meet too many straight guys who love Joni Michell”), antes de juntos cantarem a capella o tema All I Want, de Blue (1971), selando-se ali uma empatia que daí a pouco será destruída.

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