Todos os anos o mesmo “filme”, e-mails, telefonemas e respostas poucas ou nenhumas. Nunca entendi porque é tão complicado arranjar um estágio em que nem sequer se é remunerado.
Viver no interior já é quase um factor eliminatório quando queremos ir estagiar para a capital. Primeiro ano de mestrado finalizado e começamos do zero, à procura de estágios curriculares como se fossemos caloiros à descoberta do desconhecido.
A ansiedade de receber um telefonema ou um e-mail vai aumentando. Enquanto isso, reclamamos com o gabinete de estágio da universidade porque achamos sempre que são eles que têm culpa.
Passou Junho, Julho, Agosto, Setembro e Outubro e a única resposta que obtive era das minhas colegas no grupo do WhatsApp na mesma situação que eu.
Frustração, respostas por dar. Além de não haver respostas, vamos descobrindo que é preciso o “famoso” protocolo entre universidades e as entidades empregadoras.
Parei, congelei por instantes, voltei a raciocinar e a questionar-me: “Mas porque é que ninguém quer fazer protocolos com universidades no interior? Será por vivermos longe da capital? Será que nos acham incultos? Ou será que acham que no interior não existe uma preparação tão boa quanto na capital?”
Perguntas feitas, respostas que nunca vou obter, e o problema mantêm-se, sem estágio.
Voltamos ao início e entre conversas e cafés entre amigos e colegas de trabalho deparo-me com esta problemática a outros níveis. Porque o interior está abandonado.
As oportunidades de emprego para os jovens são escassas, mas também nos limitam. Querer viver na capital é um desafio, dizem a quem vai que “somos corajosos”. Acredito que sim, até conseguir sair do interior é preciso enfrentar tudo: as pessoas que vivem quase ao lado das entidades empregadoras e que ganham vantagem, o factor “cunha” que é difícil de ter a partir do interior, as burocracias.
Sejamos sinceros: como é possível pagar uma renda com os preços exorbitantes que estão a cobrar actualmente? Rendas a mil euros ou mais, quando o ordenado mínimo é pouco mais de 700 euros?
E no meio disto tudo, a tal exigência de 3, 4 ou 5 anos de experiência para exercer um cargo. Volto a questionar-me e o assunto rola na minha cabeça como uma bola de neve: “Se não nos dão oportunidade de um simples estágio sem remuneração, ou uma oportunidade de emprego para recém-licenciados, como podem exigir tantos anos de experiência?”
Novamente, perguntas sem resposta e sem solução à vista. No meio de pensamentos e conversas, eis que cai uma notificação de um novo e-mail. Abro, esperançosa de uma boa notícia, mas engano-me.
22 de Outubro de 2022, uma resposta sem resposta:
- Informamos que estamos sempre dependentes da capacidade/disponibilidade das áreas internas para poder aceitar os estágios. Daremos a devida sequência com a maior brevidade possível, mas sem qualquer garantia.
Voltamos ao zero, neste e noutros tantos problemas, mas deixo a questão: até quando vamos ser invisíveis?