Gosto de princípios felizes e de finais felizes, mesmo quando são tristes. Sou romântica. Demorei algum tempo a perceber que isto não corresponde aos princípios tristes e aos finais felizes dos filmes da Disney, que consegui ver infinitas vezes no mesmo dia. O amor real é outra coisa e nem sempre anda de mão dada.
Em Portugal, em 2021, segundo a Pordata, havia praticamente tantas pessoas casadas como solteiras, na ordem dos quatro milhões para cada grupo. Só que as pessoas casadas estão juntas, à partida, e as pessoas solteiras não. Estão solteiras. Para as pessoas em união de facto, os últimos dados são de 2011, na ordem das 700.000. E ainda sobram os namorados, namoradas e “namorades”, que talvez ponham as pessoas solteiras-solteiras num número consideravelmente menor. Se juntarmos a diferença entre homens e mulheres, temos mais homens solteiros do que mulheres, 46,8% e 40,2% respectivamente.
Mas, ao que parece, segundo um estudo de 2017 da empresa britânica Mintel, há mais mulheres solteiras felizes do que homens solteiros felizes e a explicação pode residir no facto de as mulheres trabalharem mais nas e para as relações do que os homens. Quando estão sós, estão mais acompanhadas por si próprias. Ao que parece também, um estudo americano do Pew Research de 2019 avança que os homens solteiros têm mais probabilidade de se encontrarem desempregados, em situação financeira frágil e sem formação universitária, enquanto as mulheres solteiras ganham o mesmo que recebiam há 30 anos, mas as que têm parceiros vêem os seus rendimentos aumentar em 50%. A minha pergunta: estar junto compensa?
Faço parte do grupo de solteiras-solteiras. Já não estou numa relação sólida há anos suficientes para não me querer lembrar e tenho apenas 33 anos. Sou uma jovem mas não sou uma jovem, mais ou menos como quando se diz a jovens que já não são crianças mas que ainda não atingiram a idade adulta, só que com mais 20 anos em cima. Conheço as dores e as delícias de não dividir a vida ao meio: a casa vazia para o bem da quietude e para o mal da solidão, o dinheiro para o bem de gastar por uma e para o mal de não partilhar contas por dois, as viagens para o bem do encontro connosco mesmas e para o mal de nos perguntarem como podemos estar sozinhas se somos isto mais isto mais isto, a autonomia para o bem de fazermos o que queremos e para o mal de sermos uma afronta. Fico-me por aqui no rol.
Sou uma mulher independente, valorizo-me e valorizo o meu trabalho. Desconfio que isso toque os homens com quem me cruzo, mais uma vez para o bem e para o mal. Nunca senti o peso da sociedade, nem da família, para ter namorado, para casar ou estabelecer uma união de facto, para engravidar. Mas é cada vez mais evidente que não estou só sozinha em casa, estou também tendencialmente sozinha na minha faixa etária. É este o peso que me pesa porque os hábitos e as actividades são naturalmente diferentes entre pessoas solteiras e pessoas casadas, com agregados familiares. O meu pára-quedas não assenta como parecem assentar os da maioria das pessoas da minha idade.
O tempo que és em mim é o título de uma série espanhola com produção original da Netflix. Conceito, história, actores e actrizes maravilhosos. A actriz principal Nadia de Santiago, no enredo, está a caminho dos 33 anos. Está em causa o fim de uma relação, mas também se percebe como a vida é fatalmente diferente com um parceiro e sem ele, como pode ser tão libertadora e tão penosa das duas formas. Vi os dez episódios de 11 minutos no domingo das eleições brasileiras, em que justamente ganhou a democracia. Domingo também é o dia de Quem quer namorar com o agricultor?, um programa da SIC que fiz questão de assistir uma vez para poder continuar a escrever que o machismo e a falta de Educação (e de Cultura) são problemas estruturais no nosso país, propagados por meios de comunicação social, em que injustamente perde a democracia.
Não encontro respostas sobre se há um melhor cenário. Ou, respondendo concretamente à minha própria pergunta, sobre se estar junto compensa. Não há respostas. Há fases, há dias, há pessoas. Tenho o tempo que há em mim. De mão dada ou não, tê-lo-ei sempre.