Os mandatos mais curtos da história: foi bom enquanto durou
A ex-primeira-ministra britânica, Liz Truss, governou durante apenas 45 dias, mas vários outros líderes no mundo exerceram mandatos mais curtos: de um dia ou mesmo de 20 minutos.
Nem todos os líderes aguentam 70 anos no poder como a rainha Isabel II de Inglaterra. Olhando para trás, vários governaram apenas durante dias ou meses, outros nem chegaram a 20 minutos.
Com um mandato de apenas 45 dias, Liz Truss fica para a história como a primeira-ministra britânica que esteve no cargo durante menos tempo desde os 119 dias em que George Canning governou, até morrer vítima de tuberculose, em 1827. Entra também para a lista dos líderes mundiais com o mandato mais curto, onde até acaba por sair menos mal da fotografia quando se tem conta o motivo que levou ao seu afastamento: numa lista onde dominam suicídios, mortes por doença, assassinatos e golpes, Liz Truss saiu por reconhecer não estar à altura de “cumprir o mandato”.
O “Governo dos Cinco Minutos”
Dificilmente, um líder conseguirá bater o feito do português Francisco Fernandes Costa, membro do Partido Republicano. Eleito presidente do Ministério (o equivalente a chefe do Governo), a 15 de Janeiro de 1920, e obrigado a demitir-se, pouco depois, nesse mesmo dia, nem chegou a tomar posse oficialmente. Este 22.º Governo da Primeira República Portuguesa ficou conhecido como o “Governo dos Cinco Minutos”.
O príncipe herdeiro Luís Filipe quase poderia estar ao mesmo nível de Fernandes Costa, uma vez que viveu mais 20 minutos do que o seu pai, o rei Carlos I, ambos vítimas do regicídio de 1908. Mas este período não foi o suficiente para ser reconhecido como rei pelas Cortes, pelo que não ficou oficializado como tal. Igualmente curto (e dúbio) foi o mandato, em Julho de 1830, do francês Luís XIX, considerado pelo Guiness World Records como o monarca com o reinado mais curto de sempre (apesar de a classificação ser contestada). Nunca foi proclamado rei, mas terá sido assim considerado no período que decorreu entre a assinatura da abdicação do seu pai e a sua própria. Foram precisamente 20 minutos.
Continuando em Portugal, ainda em 2015, Passos Coelho fez história ao ter de sair de cena 27 dias após a tomada de posse enquanto primeiro-ministro. O seu Governo foi derrubado por uma maioria de esquerda alcançada por António Costa, que veio a suceder-lhe. Foi o mandato mais curto desde o 25 de Abril, ultrapassando os 43 dias do V Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves entre 8 de Agosto de 1975 e 19 de Setembro do mesmo ano.
Presidente durante 45 minutos
Segundo o Guiness World Records, a presidência mais curta de sempre foi a do mexicano Pedro Lascuráin, que subiu ao cargo em Fevereiro de 1913 após um golpe de Estado liderado pelo general Victoriano Huerta. Duração do mandato: cerca de 45 minutos. Mas a sua nomeação terá sido cuidadosamente planeada, tendo apenas servido para legitimar o golpe e abrir portas à ascensão do verdadeiro Presidente: o general Huerta.
Nos Estados Unidos, por exemplo, é William Henry Harrison quem está no topo da lista dos mandatos mais curtos. Depois de 31 dias a olhar pelos norte-americanos, Harrison morreu a 4 de Abril de 1841, tendo sido o primeiro Presidente a morrer durante um mandato naquele país. Alguns conjecturam que o seu primeiro dia no cargo, quando proferiu o discurso mais longo da história norte-americana (duas horas), por ter sido frio e húmido, ditou a sua morte: ter-se-á recusado a usar um casaco, o que poderá ter sido a causa da sua pneumonia; outros relatórios referem, porém, que morreu de febre tifóide, de acordo com o Guardian.
Mais dia, menos dia
Foram precisas menos de 24 horas para que o imperador russo Miguel Alexandrovich abandonasse funções. A sua nomeação após a abdicação, em Março de 1917, do seu irmão, o czar Nicolau II, foi contestada, visto que o herdeiro legítimo era o filho do falecido, Alexei, que tinha hemofilia. Cerca de 18 horas depois, Miguel assinaria um manifesto a aprovar o Governo provisório como o executivo de facto, não chegando a ser confirmado como imperador e assinalando o fim do regime czarista na Rússia. Foi detido, e assassinado, nesse mesmo ano, após a Revolução Russa.
Paul Joseph Goebbels era um dos assistentes mais dedicados de Adolf Hittler e foi quem o substituiu como chanceler da Alemanha depois de este se suicidar, a 30 de Abril de 1945. Mas só por uma noite, pois decidiu, em conjunto com a esposa, pôr fim às vidas de ambos no dia seguinte, juntamente com os seis filhos, envenenando-os com cianeto.
Muitos outros líderes ocuparam cargos durante menos de 24 horas, especialmente no primeiro e segundo milénios, como o rei da Polonnaruva (actualmente Sri Lanka), que foi assassinado, durante a noite, pelo comandante do exército do país.