Severa: a lenda do fado tinha origens escravas (talvez africanas)
Nunca foi retratada. Não há registos da sua voz. Viveu e morreu na miséria, entre tabernas, ruas sujas e prostíbulos, numa época em que o fado começava a despontar no bas-fond lisboeta. A imaginação popular fez dela o mito fundador da canção nacional. Passados mais de 200 anos sobre o seu nascimento, uma investigação mostra finalmente alguns traços da mulher por detrás da lenda: Severa-1820.
Seria mulata. Descendia de escravos, provavelmente africanos, que foram trazidos a ferros para os campos agrícolas de Ponte de Sor, por volta de finais de Seiscentos. Ou, recentrando a história, pouco mais de um século antes do nascimento de Maria Onofriana. Que ocorreu a 26 de Julho de 1820, nas Barracas do Monte, aos Anjos. Lisboa. Essa cidade de artesãos pobres e de enjeitados, então a lamber as feridas do grande terremoto e das investidas napoleónicas. E onde despontava, à margem da nova esquadria urbana, o fado. Canção de prostíbulos, tabernas, carvoarias. O habitat nativo de Severa: a mais disputada de entre todas as meretrizes pertencentes ao catálogo do Conde de Vimioso.
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