Amizade: Quantos amigos preciso de ter?
Os estudos mostram que conseguimos ter em média cinco amigos íntimos, 15 melhores amigos e 50 amigos. A passagem de uma pessoa de um grupo para outro exige apenas tempo.
Com setembro vem o regresso à rotina e a já falada tentativa de equilíbrio de vida pessoal e profissional. Com base no mito de que é possível equilibrar ambas por metade, fui aos primórdios da biologia e revi as necessidades humanas para a saúde.
Não podemos falar de equilíbrio e saúde sem integrar as diferentes dimensões nas nossas vidas. Ter saúde é mais do que a ausência de doença e hoje venho refletir sobre a dimensão das amizades.
Em consultório recebo pessoas a iniciarem o seu processo de mudança, seja qual for a intenção, a realidade é que é comum as pessoas questionarem a qualidade das suas relações, especialmente as amizades. Afinal quantos amigos é saudável ter e quanto tempo isso exige?
Segundo os estudos de psicologia social, atingimos o pico de número de pessoas por quem nutrimos sentimentos agradáveis por volta dos 20 anos (ronda os 500 e inclui desde o Sr. da mercearia, família e/ou colegas de trabalho, a rede é ampla), número que tende a baixar por volta dos 30 anos. Faz algum sentido, já que é quando, por cá, se começa a constituir família, quando surgem os filhos e, com isso, a mudança de prioridades e acima de tudo, a questão do tempo e da disponibilidade.
Os estudos também mostram que conseguimos ter em média cinco amigos íntimos, 15 melhores amigos e 50 amigos. A passagem de uma pessoa de um grupo para outro exige apenas tempo. Fala-se em investir cerca de 200 horas, durante três meses para que seja possível um amigo passar a melhor amigo.
Por outro lado, é provável que um amigo passe a conhecido se a relação for mantida apenas no virtual por mais de seis meses e não se criar um momento para um abraço. Podemos com isto perceber o impacto da pandemia nas nossas amizades.
Ainda dentro do tema, é muito comum ouvir as pessoas lamentarem-se em relação às amizades mais antigas, chegando inclusive a questionar a qualidade das suas relações íntimas. E pode ser interessante relembrar que existem dois tipos de relações, as vividas e as históricas.
E, muitas vezes, as relações mais antigas, que são mais históricas do que as vividas no presente, acabam por ganhar um estatuto especial, porém nem sempre conseguem acompanhar as dores de crescimento do presente. E, embora em momentos de crise, tenhamos a necessidade de ter por perto pessoas que nos conhecem há muito tempo, pode também ser interessante integrar algumas das pessoas que nos conhecem naquele momento presente.
O modelo da relação também importa e podemos dividi-lo em três grandes grupos:
- Amigos para conversar;
- Amigos que apoiam/aconselham;
- Amigos de diversão.
E agora não posso deixar de partilhar o que uma paciente lamentava: “Eu só tenho amigos para enterros, não tenho amigos para a diversão e neste momento preciso é de umas belas gargalhadas.” De facto, podemos avaliar a nossa amizade dependendo da disponibilidade, das necessidades e da fase da vida em que estamos, dando-nos espaço para nos posicionarmos de forma diferente face aos amigos, sem que isso signifique um corte.
É caso para dizer “cada macaco no seu galho, mas todos na mesma árvore”, afinal não há autonomia sem interdependência e isto pode ser feito de várias formas e formatos.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990