Emagrecer em férias é estúpido… controlar os danos nem tanto

Faz sentido viver a vida como bem lhe apetecer, comer e beber coisas boas, ter óptimas recordações de Verão com amigos e família, mas fazer os possíveis para que esses momentos se possam repetir durante muitos mais anos.

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As 500 kcal de lanches de meio manhã e meio da tarde, podem ser convertidas numa bola de Berlim na praia ou num gelado de maiores dimensões Rui Gaudêncio

Três anos depois, voltamos a ter um Verão “normal”, com eventos sem limitação de pessoas, festas sem máscara e festivais de música. É precisamente por isso que ninguém tem paciência para mais um artigo sobre “conselhos saudáveis de verão” ou “receitas fit de praia”. Ainda assim, tendo em conta que muitas pessoas aumentaram de peso com a pandemia e que os meses de Junho e Julho têm sido particularmente preenchidos com eventos e com muita alimentação social, é importante não perder o controlo e tentar ao máximo “congelar” o peso actual até ao início do Outono, que poderá ser uma altura mais propícia ao emagrecimento para quem dele precisa.

Por isso:

Não faz nenhum sentido fazer flexões na praia para gastar as 50 calorias de um gelado. Faz sentido comer um gelado de 50-250 kcal diariamente na praia (se lhe apetecer), mas tentar comer uma bola de Berlim de 500 kcal apenas uma vez por semana ou partilhar uma se o pretender fazer todos os dias.

Não faz nenhum sentido procurar a opção mais saudável possível num restaurante ou hotel do outro lado do mundo onde possivelmente será a primeira e última vez que o visita. Faz sentido ir variando os bolos/sobremesas/entradas do buffet de pequeno-almoço e jantar do sítio onde vai estar 7/10/15 dias seguidos a fazer refeições.

Não faz nenhum sentido tentar treinar num dia onde já fez 10 a 20 km a pé a visitar a cidade. Faz sentido treinar pelo menos dia sim dia não na rua/praia ou no ginásio do hotel onde vai estar uma semana inteira entre praia e piscina (sobretudo nos resorts com “tudo incluído”, onde grande parte das vezes se come e bebe não porque realmente se quer, mas porque se pode).

Não faz nenhum sentido estar numa noite com amigos a beber cerveja sem álcool para tentar emagrecer. Faz sentido evitar o álcool durante o dia e os salgadinhos, batatas fritas e molhos ao jantar porque já se sabe que se vai beber de mais à noite, e deixar de beber álcool a partir das 4h quando a discoteca fecha às 6h e já não há idade ou pedalada para acabar no “after”.

Não faz nenhum sentido estar a pesar comida ou tentar cumprir um plano alimentar num casamento (e mandar mensagens ao seu nutricionista orgulhosa disso). Faz sentido controlar as entradas pré-refeição e as sobremesas pós-refeição (sobretudo se tenciona beber bastante álcool), até porque pode estar a festejar em 2022 os casamentos que ficaram por realizar em 2020 e 2021 e possivelmente as respectivas despedidas de solteiro que podem ser mais ou menos agressivas nutricionalmente consoante os amigos que se tem (e quem tem peso a mais tende a ter amigos com o mesmo grau de afinidade pela comida).

Não faz nenhum sentido comer ou beber uma má entrada, prato, sobremesa, cocktail, bebida até ao fim só “porque sim” ou “já que vou pagar…” Faz sentido fazer cada caloria valer a pena e gastar o nosso plafond calórico apenas com coisas que de facto nos estão a dar prazer sensorial e estão genuinamente boas.

Não faz nenhum sentido “nem ligar ao peso” em férias e achar que aumentar 1 ou 5 kg é exactamente igual. Faz sentido gerir as calorias do próprio dia de férias: se já sabemos que o jantar vai ter um peso calórico considerável, podemos terminar com os lanchinhos e merendas a meio da manhã e da tarde e optar por um dia apenas com três refeições. Um pequeno-almoço e almoço ligeiros e um jantar mais abundante.

Não faz nenhum sentido comer nas férias os mesmos alimentos que se come em casa. Faz sentido converter o plano alimentar habitual em alimentos de férias. Se o pequeno-almoço habitual tiver pão, queijo e fiambre, pode ser convertido em ovos mexidos com fruta com idêntico valor calórico. O “arroz/massa/batata” presentes nas refeições habituais podem ser convertidos em pão alentejano/gelados antes e no final da refeição respectivamente. As 500 kcal de lanches de meio manhã e meio da tarde podem ser convertidas numa bola de Berlim na praia ou num gelado de maiores dimensões. Uma ou duas semanas com mais açúcar e gordura na alimentação não têm de ser necessariamente um drama no excedente calórico, desde que se saiba trabalhar bem com as calorias de cada plano.

Não faz nenhum sentido chegar ao final deste artigo e pensar “estes nutricionistas são todos iguais, sempre a tentar ser polícias da alimentação de toda a gente. Estou de férias, vou comer e beber à grande, vou aumentar 1 a 2kg a cada ano que passa sem me preocupar em recuperá-los e quando estiver numa situação limite de saúde, vou colocar as culpas no metabolismo, na idade, na tiroide, na diet culture, etc”.

Faz sentido viver a vida como bem lhe apetecer, comer e beber coisas boas, ter óptimas recordações de Verão com amigos e família, mas fazer os possíveis para que esses momentos se possam repetir durante muitos mais anos porque fizemos os mínimos pela nossa saúde.

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