Portugal atravessa mais um Verão complicado a nível de incêndios. Segundo o terceiro relatório provisório de 2022, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, desde o início do ano que o nosso país já registou 58 354 hectares de terra ardida. Todos os dias somos impactados com imagens do nosso país em chamas, de pessoas desesperadas e de bombeiros esgotados. E de “quem” é a culpa? É da tão falada “mão criminosa”.
Mas o que é esta “mão criminosa” que aparece todos anos durante o Verão? Só este ano, até hoje, já foram detidos 119 suspeitos de atear incêndios em Portugal. Será essa a solução, prender todos os alegados piromaníacos portugueses?
Vamos dar um passo atrás. Nas últimas duas décadas, de acordo com o relatório O Mediterrâneo Arde de 2019, a média de área ardida do nosso país mais do que duplicou em comparação com a época de 1980 a 1989. Será esse o resultado do surgimento de uma onda de piromaníacos em Portugal? Talvez. Ou estará Portugal cada vez mais vulnerável a incêndios?
Se olharmos para o FWI (um índice de perigo de incêndio rural que quantifica o efeito da humidade do combustível e do vento no comportamento do fogo) de Portugal, disponível no site do IPMA, é possível ver que praticamente todo o país apresenta um índice de FWI muito elevado. Este é um de vários indicadores que podiam ser revelados para demonstrar a vulnerabilidade de Portugal a incêndios, mas todos eles podiam ser resumidos em uma só causa: o aquecimento global.
Não é completamente descabido afirmar que o aquecimento global ocorre devido à “mão criminosa”, mas não é por causa de centenas de indivíduos, é por causa de milhares de milhões. A humanidade foi responsável pelo aumento de 1,8 ºC da temperatura da Terra desde 1900, um aumento que foi constante e continuará a crescer caso não se tomem medidas eficazes. Seja por ignorância, desinteresse ou desprezo humano, o nosso planeta atravessa uma crise climática e o prazo para lutar contra este problema é cada vez menor.
As acções da nossa espécie foram responsáveis pela destruição de ecossistemas naturais, pelas secas, pela degradação dos solos, pelas alterações climáticas. Os incêndios são uma pequena parte desta enorme crise ambiental que atravessamos, no entanto, não deixam de ser da nossa responsabilidade como um todo.
Felizmente, existe uma maior consciencialização sobre este problema e já estão a ser tomadas medidas para lutar por um futuro melhor, como por exemplo a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, onde vários países se comprometeram a metas com o objectivo limitar a temperatura global em 1,5 ºC. Agora, falta saber se essas metas serão alcançadas.
Mas, voltando para a pergunta chave, de quem é a “mão criminosa” responsável pelos incêndios em Portugal? É a tua, é a minha e a de todos os que contribuem para o aquecimento global, seja directa ou indirectamente. Isto não invalida que existem pessoas responsáveis por atear fogos pelo país, no entanto, somos todos nós que abrimos a porta e damos as condições para estes crimes acontecerem. Podemos ser mais inocentes, mas sem dúvida que estamos a contribuir.