Pizza com ananás derrotada em Itália: Domino’s encerra porque italianos não querem pizzas à EUA

Ao fim de sete anos, a multinacional norte-americana desiste: anunciou o encerramento das suas 29 lojas. As reacções são algo sarcásticas: “Os italianos não gostam de pizza com ananás”, titulou o jornal Il Messaggero . “A Itália repele o invasor!” lançou um utilizador do Twitter.

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Detalhe de um anúncio da Domino's, especialista em pizza + ananás. Divórcio à italiana dr

Quem teria adivinhado que os italianos, para quem a pizza é um tesouro nacional reconhecido internacionalmente, não iriam cair de amores pelas pizzas de laivos norte-americanos produzidas por uma cadeia multinacional?

Alguém deveria ter sido capaz de prever essa conclusão. É que a Domino's [presente em Portugal] vai mesmo deixar de estar presente no país com as suas pizzas cheeseburger (hambúrguer e queijo), havaianas, de bacon-e-galinha... A empresa que gere as franquias italianas encerra todas as suas lojas, 29 delas, confirmou a Bloomberg News.

A empresa justifica a decisão precisamente com o desinteresse dos consumidores italianos, tendo sentido uma elevada redução da procura, já que estes preferem optar pelas lojas de bairro familiares e por voltarem aos restaurantes reabertos após a paragem pandémica.

A empresa italiana ePizza s.p.a. tornou-se a gestora das franquias da empresa sediada nos EUA em 2015, tendo chegado a abrir 33 espaços, segundo um relatório aos investidores sobre os resultados do quarto trimestre de 2021. Mas as vendas caíram quase 38% em relação às projecções publicadas no final do ano.

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Algumas das propostas da Domno's em Itália dr

“Atribuímos a questão i) ao aumento significativo do nível de concorrência no mercado de distribuição de comida, tanto de cadeias organizadas, como de restaurantes de gestão familiar e dos que oferecem alimentos a quem precisa e ii) restaurantes que reabriam pós-pandemia e consumidores em modo revenge spending” ["consumo de vingança”, aplicando-se a gastos por existir dinheiro extra derivado de uma pausa mais consumista], assinala-se no relatório.

Para piorar a situação, os pedidos recebidos por meios digitais não atingiram os níveis desejados, embora a empresa baseie o seu modelo de negócios numa “forte orientação para tecnologias digitais de ponta”. Ainda assim, mais de metade das encomendas foram feitas pessoalmente ou por telefone ou nas lojas, segundo o relatório, registando-se números reduzidos de downloads da app da Domino's.

A Domino's e a ePizza s.p.a. não teceram comentários à situação, deixando por responder os e-mails que foram enviados a solicitar explicações. A imprensa italiana e a Bloomberg, por outro lado, reportaram que um tribunal de Milão garantiu à ePizza protecção contra os credores (permitida para que a empresa tenha hipóteses de tentar a reestruturação financeira antes da fase de insolvência), mas esta protecção expirou a 1 de Julho, avança a Bloomberg News.

À medida que a notícia dos encerramentos se espalhava pelos media dos EUA, não têm faltado comentários jocosos nas redes sobre as ambições da cadeia (a Domino's esperava abrir até 800 lojas) num território onde a pizza é muito reverenciada. Até existe uma organização dedicada a proteger a pizza de estilo tradicional napolitano, que já ganhou o seu lugar na lista de património imaterial da UNESCO.

Algumas das mensagens que se podem ler no Twitter: “OMG [Oh, Meu Deus] mas alguém consegue imaginar outras pessoas que não os turistas americanos bêbados a pedirem Domino's em Itália?” e “Tentar abrir a Domino's Pizza em Itália é como tentar vender neve no Pólo Norte”. Outros realçaram que a pizza das lojas locais é normalmente mais barata do que a da Domino's.

Os comentários desagradáveis e sarcásticos também invadiram a Europa de forma desenfreada. Um título de segunda-feira no jornal diário italiano Il Messaggero afiançava que “os italianos não gostam de pizza de ananás": Domino's fecha todas as suas pizzarias no país”. O artigo mencionava o menu ao estilo americano da cadeia, dando como exemplo a Pepperoni Passion e a Hawaiana, observando que estas misturas fantasiosas não tinham conseguido convencer os puristas. “Estes produtos faziam os amantes tradicionais da pizza torcerem o nariz, enquanto intrigavam os xenófilos”, escreve-se no artigo.

Alguns concordaram que a cultura da pizza em Itália é demasiado forte para tal incursão americana. “A Itália repele o invasor!” comentou um utilizador do Twitter: “Será a pizza o último bastião da italianidade​?” Enquanto alguns defendiam que a Domino's em Itália era superior à versão americana, muitos no país limitaram-se a menosprezar o desaparecimento da cadeia. “A pizza da Domino's vai à falência em Itália”, tweetou um: “Nem sequer sabia que tinham cá lojas”, respondeu outro.


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução de Luís J. Santos

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